MARTINHO LUTERO E OS ICONOCLASTAS


Categoria: Martinho Lutero
Imagem: Iconoclastia - Protestantismo.com.br
Publicado: 07 de Julho de 2016, Quinta Feira, 20h36

Alguma vez você ja foi a uma loja cristã e notou que eles tinham algo listado nos mandamentos, mas não têm a mesma numeração que você aprendeu no Catecismo? Em particular, o Segundo Mandamento foi listado como “Não farás para ti imagem de escultura“. Ou você já esteve dentro de uma igreja onde não havia naquelas paredes nenhuma imagem, possivelmente, sem nenhum crucifixo, nem mesmo uma cruz vazia? Você já se perguntou por quê?

Simplificando (obviamente não é algo tão simples), isso provém do Iconoclastismo. Os iconoclastas são aqueles que destroem imagens. Ao longo da história da Igreja, houve inúmeras práticas iconoclastas. Por exemplo, houve um conselho em Nicéia no ano de 787 (não o conselho que levou ao Credo de Nicéia), que abordou as preocupações daqueles que desejavam destruir imagens. Na época de Lutero, um de seus colegas de Wittenberg, Andreas Bodenstein von Karlstadt, adotou a linha iconoclasta e começou a causar estragos enquanto Lutero estava escondido no Castelo de Wartburg (1521-1522). Foi durante esse tempo que Karlstadt assumiu o papel como reformador chumbo em Wittenberg, e começou a instruir as pessoas para destruir todo tipo de imagem que poderia encontrar. Eles destruíram janelas com imagens, destruíram estátuas, eles tinham puxado enormes altares com esculturas de pessoas. Eles demoliram a igreja, juntamente com muitos outros marcos históricos em Wittenberg.

Por que essas pessoas fazem isso? Por que Karlstadt os instruiu a fazer isso? A resposta flui como Karlstadt leu os mandamentos. Ele entendeu que não se deve fazer nenhuma imagem de escultura e aplicou isso a qualquer imagem. Karlstadt dizia que se alguém fizer alguma imagem no céu, na terra, ou abaixo da terra, está violando o mandamento e é culpado de idolatria. Talvez você já escutou esse argumento antes. Na verdade, este argumento é muitas vezes ligado a razão pela qual muitas igrejas não possuem crucifixos: o corpo de Jesus é criado, da mesma forma que o corpo está agora no céu (uma má interpretação do mandamento que fala sobre fazer imagens das criaturas do ar como os pássaros) e, portanto, não se deveria criar uma imagem desse corpo. Isto é a iconoclastia.

Então, qual foi a resposta de Lutero em relação a essa prática? Os estragos causados por Karlstadt eram a razão que fez com que Lutero saísse de seu esconderijo. Karlstadt tinha levantado uma anarquia em Wittenberg e Lutero precisou vir para tomar conta dos oprimidos pelos iconoclastas. Da mesma maneira, Lutero queria prestar cuidados e instruções para as pessoas compreenderem corretamente sobre as imagens de esculturas. Para isso, ele pregou os sermões Invocavit. Tais sermões foram pregados após o primeiro domingo da Quaresma (que historicamente tem sido chamado Invocavit ou Domingo da Quadragesima). Nestes sermões, ele ensinou sobre a mudança na igreja: não deve ser feita pela violência ou a força, mas pelo trabalho da Palavra e da convicção do Evangelho. Seu trato com os iconoclastas não parou por aí.

Ao longo dos próximos anos, Karlstadt se ingressou em outros movimentos que vieram a ser conhecidos como Reforma Radical. Tais movimentos tiveram como líderes Thomas Münzer e grupos como anabatistas que, como o próprio nome diz, é “batizado de novo”, eles rejeitavam o batismo de crianças. Karlstadt adotou muitos ensinamentos destes movimentos, incluindo a rejeição dos sacramentos e a negação do cargo pastoral como um chamado divino na igreja. Lutero abordou todos esses falsos ensinos em uma obra chamada “Contra os Profetas Celestiais”. O título é uma referência a tendência desses grupos de negar a necessidade da Palavra externa, isto é, a Escritura, a fim de receber revelação. Nesta obra, Lutero dedica uma parte especificamente para os ensinos iconoclastas de Karlstadt entre outros.

Lutero aponta que também se dedicou a destruir imagens: “Eu me aproximei na tarefa de destruir imagens, primeiramente rasgando-os do coração através da Palavra de Deus, tornando-as inúteis e desprezíveis. Este fato ocorreu antes do Dr. Karlstadt planejar em destruir as imagens. Pois, quando elas não estão mais no coração, não podem fazer mal quando vista com os olhos. Mas o Dr. Karlstadt, que não presta atenção nos assuntos do coração, inverteu a ordem, removendo-as de vista e deixando-as no coração. Pois ele não prega a fé, nem pode pregá-lo; Infelizmente, só agora eu vejo isso. Qual dessas duas formas de destruir imagens é melhor, eu vou deixar que cada um julgue por si mesmos.” (AE 40, 85). Então Lutero denuncia claramente essa ligação dos ímpios às imagens. Ele vê essa questão como uma questão do coração, de modo que o coração iria primeiro desprezar as imagens. Isto é consistente com o que ele diz a respeito do Primeiro Mandamento do Catecismo Maior: “Os pagãos realmente fazem suas auto-invenções de noções e sonhos sobre Deus e ídolos. Em última análise, eles colocam suas confianças naquilo que não é nada. Por isso é idolatria. Pois não acontece apenas por erigir uma imagem e adorá-la, mas isso acontece no coração. O coração procura ajuda e consolação das criaturas, santos ou demônios. Não se preocupa com Deus e nem olha para Ele. Mas nada é melhor do que acreditar que Ele está disposto a ajudar“. (LC 1, 20-21)

Com o entendimento de que tais imagens são idólatras – um problema do coração que deve ser tratada nesse nível -, Lutero esclarece exatamente o que quer dizer com “imagens” mais adiante no “Contra os Profetas Celestiais”. Ele diz: “Primeiro vou discutir imagens de acordo com a Lei de Moisés, em seguida, de acordo com o evangelho. Eu digo desde o início que, segundo a Lei de Moisés, não há outras imagens que são proibidas do que uma imagem de Deus que alguém adora. Um crucifixo, por outro lado, ou qualquer outra imagem de santo não é vedada. Agora sim! Vocês, disjuntores de imagens, eu desafio vocês a provar o contrário!” (AE 40:85-86) Na verdade, ele esclarece o que isso significa ainda mais quando diz: “Agora eu digo para manter a consciência livre de leis maliciosas e pecados fictícios, e não porque eu defenderia as imagens. Nem condeno aqueles que têm destruído as imagens, especialmente aqueles que destroem imagens divinas e idólatras. Mas as imagens de memorial e de testemunho, como crucifixos e imagens de santos, devem ser toleradas.” (AE 40:91)

Lutero aponta claramente a questão. Se alguém adorar uma imagem, isso é um problema. Se eles mostram serviço no seu coração para essa imagem, devem mudar. Eles não devem adorar uma coisa criada como se fosse Deus. Mas não há nenhuma lei contra a criação de uma estátua ou imagem de algo. Se houvesse, não seria, então, um problema com a serpente de bronze (Números 21:1-9) mandado por Deus. Não há problema com as imagens. O problema são as pessoas que as adoram e as servem com o coração. Foi esse problema que levou Ezequias a iconoclastia (II Reis 18:4, cf AE 40:87). No entanto, se não houver problema no coração, então não é pecado usar imagens para lembrar a obra do nosso Senhor e do testemunho do abençoado Evangelho da obra de Jesus Cristo. Na verdade, a imagem pode até mesmo ser edificante.

Portanto, quando você vê imagens em uma igreja que descreve histórias bíblicas, dê graças pela lembrança da promessa de nosso Senhor em salvar o seu povo. Além disso, quando você vê o corpo de Cristo em um crucifixo, lembre-se que Ele morreu por você, pois se não havia cruz de Cristo, então seus pecados ainda são seus. Mas pela cruz, Cristo derramou Seu sangue e morreu pelos nossos pecados. Ele também ressuscitou para te dar uma nova vida. Nessa nova vida de desfrutar da liberdade em utilizar imagens para ajudar a sua devoção ao Nosso Senhor para meditação e memorização de Sua obra. Fazê-lo com alegria, sabendo, como disse Lutero, que “a confiança e a fé do coração faz de Deus um Ídolo“. (LC 1,2).

Rev. Matthew Zickler
Pastor da Grace Lutheran Church, Western Spring, IL

 

Fonte: LutheranReformation.org / Tradução: Marcell de Oliveira


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