Categoria: Martinho Lutero
Imagem: Leipziger Disputation zwischen Luther und Eck, Gemälde von Julius Hübner (1806-1882) (zerstört) - Simul Justus et Peccator Blogspot
Publicado: 12 de Fevereiro de 2017, Domingo, 03h55
Abaixo estão listadas e respondidas brevemente algumas das principais acusações, objeções e calúnias levantadas por apologistas católicos contra Lutero que assim o fazem na ridícula tentativa de apelo contra a moral do reformador ou na intenção de descredenciar suas alegações contra a Igreja Romana. É um breve resumo reunido para melhor visualização de tais questões, onde, algumas já estão tratadas aqui mesmo em outros artigos, e outras mais, serão abordadas de maneira mais abrangente e detalhada em outra ocasião.
1 – Lutero Homicida
Resposta: A informação válida sobre Lutero ter matado alguém não é muito segura. Algumas fontes citam Hans Luther, ou Hans Lutero que era o pai dele. Outra fonte cita que Lutero ainda rapaz, numa disputa (coisa normal da época) feriu mortalmente seu adversário, todavia é apenas uma hipótese descartada devido nenhum dos adversários de Lutero na época ter citado tal evento. Afirma-se que para se livrar do peso de sua própria culpa e da condenação, Lutero entrou para o monastério, o que já foi refutado [aqui].
O resto, não passa de calunias de papistas hipócritas que querem mascarar coisas tão ou mais horríveis que os papas renascentistas cometiam.
Obs: Moisés matou um egípcio aos 40 anos de idade, isso diminuiu a importância dele como o maior legislador do ANTIGO TESTAMENTO? O que dizer de DAVI que foi arquiteto de um assassinato por causa de seu adultério?
2- Lutero mandou matar clérigos romanos.
Resposta: Não! O que Lutero cita é que, o costume dos seus adversários papistas era o de lançar as chamas quem lhes fosse contrario. Lutero então argumenta que Deus o livre de tal pois não é coisa do evangelho. Embora bem que o papado merecesse por ter matado inúmeros cristãos que não se submeteram aos seus abusos.
Obs: Lutero argumenta sobre a morte John Huss, que foi traído pelo papado, foi queimado vivo e morreu cantando.
3- Lutero matou anabatistas e camponeses.
Resposta: Também não. O que fez foi apoiar a decisão do estado contra revoltosos e rebeldes camponeses que tumultuavam as regiões adeptas da reforma que muitas vezes saqueavam igrejas romanas. Veja mais (aqui).
4- Lutero era antissemita.
Resposta: Sim, o foi, como todo católico de seu tempo. O antissemitismo de Lutero era uma parte do catolicismo que ele nunca se libertou, proveniente dos papas, os primeiros a promover o antissemitismo como uma ciência. Veja mais aqui e aqui.
5- Lutero era marianista. Um devoto de Maria.
Resposta: Sim, em grande parte de sua vida pois era CATÓLICO ROMANO (OS CATÓLICOS ESQUECERAM DISTO?). Mas, até perceber que a mariolatria não era algo saudável ao cristianismo e era muito usado para aprisionar mentes às supersticiosidades que levavam o povo pra bem longe do centro do evangelho que é CRISTO.
6- Lutero disse que Cristo era adultero.
Resposta: Não, ele faz alusão ao que os judeus diziam de Cristo e de Maria sua mãe, quando a chamavam de MERETRIZ. Esse era um dos grandes motivos de seu antissemitismo. Assim como o mesmo motivo de muitos dos antigos pais da Igreja. Veja mais (aqui).
7-Lutero chamou a DEUS de estupido, tolo, tirano e louco.
Resposta: Não, ele faz alusão ao que o Diabo pensava acerca de Deus. E nem mesmo as fontes citadas pelos romanistas trazem essas citações em contexto de Lutero dizer isso diretamente contra Deus. Veja mais aqui.
8- Lutero era maçom e adepto do rosacrucianismo.
Resposta: Não! Ambas estas sociedades surgiram em meados da reforma com os mesmos clamores contra a queda moral e espiritual da Igreja Romana e seu clero corrupto, e tinham seus interesses em comum apenas quanto a coisas seculares como a libertação do ESTADO do poder da IGREJA ROMANA e a liberdade de expressão. Por questões doutrinarias cristológicas Lutero repudiou ambas estas sociedades, inclusive ideias de seu amigo Melancthon que como muitos papas, era adepto de astrologia. Veja mais (aqui).
9- Lutero incentivou que os cristãos devessem pecar intensivamente.
Resposta: Não! Ele faz alusão ao fato de que onde abundou o pecado, superabundou a graça, ou seja… PECAMOS FORTEMENTE, e é verdade, MAS, Tão fortemente ainda recebemos a graça divina que nos livra dos nossos pecados. Só há GRAÇA REAL para pecadores REAIS. Se há superabundância de graça é porque houve intensa e abundância ação do pecado.
10- Lutero foi suicida.
Resposta: Não! Tais lendas sobre seu suicídio ganharam força uns 300 anos depois de sua morte e foram refutadas inclusive por biógrafos católicos. Lutero por complicações de apoplexia ou angina pulmonar veio a morte por meio de um ataque de paralisia, causada pelo fechamento de uma ferida na perna a partir do qual o reformador sofreu durante anos. (Veja mais aqui).
11- Lutero rejeitou o livro de Ester.
Resposta: Não! Ele faz referências a acréscimos do livro de Esdras. O que ocorre é que a suposta citação foi feita uns 20 depois da morte dele, por Johann Aurifaber em “Conversas à Mesa”. O autor confunde ESDRAS COM ESTER.
O Conversas à Mesa é uma obra retalhada com diversas conversas de Lutero reunidas por muitas pessoas ao longo dos anos. Por isso não se deve basear suposições sem antes verificar o conjunto da obra. O que Lutero diz segundo a edição é: “Das dritte Such Esther werfe ich in die Elbe”, ou seja….. O terceiro livro de Ester eu lanço no Elba.”
Resumindo… Não existe terceiro livro de ESTHER, e sim o Apócrifo do TERCEIRO LIVRO DE ESDRAS… a que Lutero cita juntamente com o apócrifo de MACABEUS ao repudiar ambos.
12- Lutero cria na virgindade perpétua de MARIA.
Resposta: Sim! Contudo não via tal doutrina como um dogma ou algo de suma importância a fé cristã, o que SÓ FOI DECRETADO MUITO TEMPO DEPOIS DE SUA MORTE, e era uma coisa secundária para ele, na verdade não estava muito interessado nisso. Ao longo da sua vida foi uma doutrina que ele minimizou e pouco escreveu sobre ela.
13- Lutero disse que dormia com o diabo mais vezes do que com sua esposa.
Resposta: Não exatamente, só se admitirmos que no BRASIL o calor é infernal em dias de verão, e daí alguém suponha que AQUI SEJA O INFERNO. Será que os romanistas não sabem o que é hiperbolismo?
14- Lutero era um alcoólatra.
Resposta: Não! “Lutero atacou o desejo de beber com palavra e pena mais vigorosamente do que qualquer alemão de sua época.” [Fonte , Heinrich Boehmer, Lutero e da Reforma na Luz da pesquisa moderna ( London: G. Bell and Sons LTD, 1930), 198].
Obs: ALCOÓLATRA eram os bispos de roma e seus cardeais corados de tanto vinho, a quem LUTERO CRITICAVA. TANTO que ele se refere aos mesmos, nestas palavras:
“Porque Deus não vai admitir esses bebedores porcos no reino dos céus [cf. Gal. 5: 19-21]. Não é à toa que todos vocês são mendigos. Quanto dinheiro não poderia ser salvo [se beber em excesso fosse evitado]” [LW 51: 293].
Vejamos o que Lutero diz aos católicos de sua época sobre o alcoolismo e cabe ressaltar que ele dizia isso a cidadãos que antes de serem “protestantes”, ERAM CATÓLICOS. Vejam:
“Ouça a Palavra de Deus que diz:” Sejam sóbrios “, e isso não foi dito em vão. Você não deve ser um porco; tal coisa não pertence aos cristãos. Assim também em I Coríntios. 6 [9-10]: Nem bêbado, devasso, ou adúltero pode ser salvo. Não pense que você está salvo se você é um porco bêbado dia e noite. Este é um grande pecado, e todo mundo deve saber que esta é uma grande iniquidade tal, que faz você culpado e excluo-o de vida eterna. Todo mundo deve saber que tal pecado é contrário ao seu batismo e dificulta a sua fé e sua salvação. Portanto, se você deseja ser um cristão, tome cuidado em controlar a si mesmo. (…) Portanto, esteja atento e sóbrio. . Isso é o que é pregado para nós, que queremos ser cristãos “[LW 51: 293-294]
15- Lutero arrancou livros da Bíblia.
Respostas: Nunca! Depois de sua morte é que a questão dos livros apócrifos (sempre discutida na igreja) teve fim em 1546. ROMA ENTÃO canoniza tais livros que antes tinham questionada a sua pertença no cânon. A Bíblia de LUTERO no entanto CONTINHA OS MESMOS 73 livros que uma Bíblia CATÓLICA ROMANA DE HOJE. O que acontece é que o palpite romanista de púberes coroinhas vai longe nessas horas com especulações sem base alguma e que uma breve análise já descarta. Basta pesquisar, pois existe versões online da primeira Bíblia de Lutero. (Veja mais aqui)
16- Lutero chamou a carta de Tiago de “Epístola de Palha”.
Resposta: SIM! Em comparação a outros livros, Lutero usou o critério distintivo em que, até que ponto cada livro dava testemunho de Cristo, mas, ele não retirou a carta do CÂNON. Ele numerou os livros do NT de Mateus a III João, e deixou separados, sem numeração, quatro livros: Hebreus, Tiago, Judas e Apocalipse. Sem dúvida, Lutero não os punha ao mesmo nível que o resto (dentro dos quais, por outro lado, atribuía mais importância ao Evangelho de João e 1 João, Romanos, Gálatas, Efésios e 1 Pedro que às outras cartas paulinas, Actos, 2 Pedro, e 2 e 3 João). Em todo o caso, essa era a posição particular dele quanto aos quatro livros citados, e ele mesmo insistiu em que tal era a sua opinião, a qual não desejava impor a outros, e que não pretendia tirar esses livros do NT.
O que diz Lutero no Prefácio geral ao Novo Testamento é:
“Numa palavra o Evangelho de João e a sua primeira epístola, as epístolas de São Paulo, especialmente Romanos, Gálatas, e Efésios, e a primeira epístola de Pedro são os livros que te mostram Cristo e ensinam-te tudo o que é necessário e salvífico saberes, mesmo se nunca visses ou ouvisses qualquer outro livro ou doutrina. Portanto, a epístola de São Tiago é realmente uma epístola de palha, em comparação com estes livros, porque não tem nada da natureza do evangelho relativo a isso. Mas mais sobre isto noutros prefácios” (Prefácio ao Novo Testamento)
Obs: Lutero não foi o unico a fazer distinção de livros mais ou menos importantes no NT, essa atitude também foi sustentada por alguns eruditos católicos, como o dominicano Tomás de Vio (“Caetano”, 1469-1534).
17- Lutero disse que não admitiria que sua doutrina fosse julgada por ninguém, nem mesmo pelos anjos. E que Aquele que não recebe-se a sua doutrina não poderia alcançar a salvação.
Resposta: O que Lutero diz é que DEPOIS DE TRÊS VEZES ter explicado sobre seu pensamento e objeções para os romanistas e que isso de nada adiantou, então ele não permitiria mais que ninguém o julga-se nem mesmo os anjos, que também são testemunhas de suas ações que são sustentadas a LUZ DA PALAVRA DE DEUS, DO EVANGELHO. Antes disso, Lutero havia dito:
“Eu não darei mais a vocês a honra de permitir que vocês – ou mesmo um anjo do céu – julguem meu ensino ou o examinem. Porque já houve suficiente humildade tola por três vezes em Worms, e isso não foi útil”.
Depois disto é que ele diz:
“Eu não devo ter (meu ensino) julgado por nenhum homem, nem mesmo por nenhum anjo. Pois, uma vez que estou certo dele, eu devo ser o seu juiz e o juiz dos anjos por meio deste ensino (como diz São Paulo [I Cor. 6:3]) de modo que aquele que não aceita o meu ensino não pode ser salvo – porque ele é de Deus e não meu. Portanto o meu juízo também não é meu, mas de Deus”
Por fim ele diz:
“Ao invés disso eu me permitirei ser ouvido e, como Pedro ensina, darei uma explicação e defesa do meu ensino para todo o mundo”.
Fonte: “Against the Spiritual Estate of the Pope and the Bishops Falsely So-Called” ….encontrado em Luther Works 39: 248-249.
18 – Lutero perdeu em debate para Johannes Eck?
Resposta: Na verdade, quem apanhou feio foi o teólogo católico desonesto. Ele antes havia trocado correspondências pessoais com Lutero acerca das indulgências, mas, por um motivo qualquer decidiu publicar estas cartas e então Andreas von Karlstadt Bodenstein escreveu um extenso repúdio contra as lorotas de Eck, incluindo mais de 300 teses que abordam questões de graça, o livre arbítrio, e penitência. Eck respondeu com outro conjunto de teses. A controvérsia escrita levou a exigência de um debate cara a cara, inicialmente restrito a Eck e Karlstadt, só que mais tarde incluiu Lutero. O debate foi realizado em Leipzig, sob o patrocínio de George da Saxônia.
Vejamos agora um resumo de toda discussão e o que um pensava acerca do outro e o que disseram após os longos debates.
Posição de Lutero acerca de Eck:
“Lamento que o Santo Doutor penetre as Escrituras tão profundamente como uma aranha na água;. Na verdade, ele foge delas como o diabo da cruz. Portanto, com toda reverência para os Padres, eu prefiro a autoridade das Escrituras, que eu recomendo aos futuros juízes.”(Lutero, sobre Johannes Eck, após).
Agora, a posição de Eck sobre Lutero:
“O monge impaciente é mais indecente do que torna-se a gravidade de um teólogo. Ele prefere a autoridade da Escritura aos Padres e define-se como um segundo oráculo de Delfos, que sozinho tem uma compreensão das Escrituras superior à de qualquer Pai”. (Johannes Eck, sobre Lutero após o debate). [Fonte: As Luther’s Thesis 13 indicated – citado por Robert Godfrey – pp. 50-51 de R. Kent Hughes, John Harper Armstrong, John F. MacArthur, R. C. Sproul, Albert Mohler, Jr., Michael Scott Horton em The Coming Evangelical Crisis]
Após o debate, a Universidade de Erfurt e a Universidade de Paris examinaram os registros do debate para fazer o julgamento. Erfurt não respondeu, e Paris atrasou seus resultados até 1521. Dois anos depois do debate, a universidade de Paris resume o debate como sendo que… As Escrituras, os Padres, e Pedro Lombardo são obscuros, mas os teólogos contemporâneos são claros, especialmente os de Paris e tanto a patrística quanto a escritura devem ser interpretadas pelos teólogos da Igreja, tendo o papa como o chefe administrativo e judicial da igreja, mas que ele tinha que aprender a verdade a partir dos teólogos.
O orgulho de tal declaração foi impressionante. O próprio PAPA em si precisa do ensinamento dos teólogos da igreja que por sua vez declaram obscuras as escrituras que devem ser interpretadas pela Igreja. Para Lutero, este acórdão reforçou sua convicção de que a Igreja precisava e tinha nas Escrituras uma única autoridade como apelo, pois o até o Papa dependia dela para se suster. Assim sendo, ele confirmou o legado de Leipzig: A doutrina protestante da sola Scriptura acima de qualquer autoridade humana, já que que toda suposta autoridade recorre a escritura para se validar. [Fonte: James Swan – Anniversary of Luther vs. Eck at Leipzig, and the Importance of Scripture]
19 – Lutero incentivava o alcoolismo?
Resposta: Esta alegação se baseia em uma de suas cartas a um amigo, veja mais aqui. Sobre esta mesma carta, o biografo WHT Dau nos informa que:
“Acreditamos que nem todos os católicos podem ser levados a acreditar nas insinuações de seus escritores[católicos] contra Lutero, quando todos os fatos do caso são apresentados a eles!” [W.H.T Dau, Lutero examinado e reexaminado: uma revisão da crítica católica e um pedido de reavaliação (St Louis: Concordia Publishing House, 1917), 58]
Na verdade Lutero pregava contra o alcoolismo como já mostrado acima.
20 – Lutero pregava contra o decálogo, ele repudiava os 10 Mandamentos?
Resposta: Muito pelo contrário (veja mais aqui). Um erudito católico sobre isto afirma:
“Lutero é claro queria que a Lei fosse anunciada. Ele pregou e ensinou-la; ele inseriu em seu catecismo e ele exortou seus seguidores a recitá-la diariamente. No entanto, ele, ao mesmo tempo, advertiu contra a permissão da Lei de ter qualquer influência sobre a consciência, o que como ele disse, se tornaria “uma pia de heresias e blasfêmias” [Padre Patrick O’Hare, Os Fatos Sobre Luther. (Illinois: Tan Books, 1987), 108]
Quantas mais objeções caluniosas contra Lutero encontraremos? Não importa… trataremos de cada uma delas em seu devido tempo.
Att: Elisson Freire.
Referências e Fontes:
Link: https://www.resistenciaapologetica.com/2015/08/breve-resposta-sobre-algumas-objecoes.html
- Heinrich Boehmer, Lutero e a Reforma na Luz de Investigação Modern (Londres:. G. Bell and Sons LTD, 1930)- James Swan - Luther's (Beggars All)
- FUNCK-BRENTANO, Frantz. Martim Lutero. 3. ed. Rio de Janeiro: Vecchi, 1968.
- Luthers Lebensende, Barm de 1890
-Table Talk ou Tischreden, em alemão (Conversas à Mesa)
- Ricardo García-Villoslada, - “Martín Lutero”, tomo II, página 251
-Will Durant, The Story of Civilization, The Reformation (Simon and Schuser, 1950), Vol. IV.