Categoria: Historiografia
Imagem: Martinho Lutero e suas teses contra a venda de indulgências - Conhecimento Científico
Publicado: 06 de Abril de 2011, Quarta Feira, 22h53
Não há como negar a influência da Reforma Protestante em nosso século. Qualquer livro de História que aborde o tema: “Baixa Idade Média e início da Idade Moderna”, tem, obrigatoriamente, a necessidade de discorrer sobre um dos principais marcos dessa época: a Reforma Protestante, liderada pelo monge agostiniano Martinho Lutero. Embora seja extremamente velho (quase 500 anos), trata-se, porém, de um tema ainda vivo e em debate hoje em dia.
A interpretação que os historiadores dão à História influencia a explicação das causas da Reforma Protestante. A ênfase sobre um ou outro fator histórico depende da escola de interpretação. Vejamos o que nos informa o historiador Earle E. Cairns:
Os Historiadores Protestantes
Interpretam a Reforma como um movimento religioso que procurou redescobrir a pureza do Cristianismo primitivo como descrito no Novo Testamento. Esta interpretação tende a ignorar os fatores econômicos, políticos e intelectuais que ajudaram a promover a Reforma.
Os Historiadores Católicos Romanos
Interpretam a Reforma como uma heresia inspirada por Martinho Lutero por alguns interesses pessoais, entre eles, a sua vontade de casar. O protestantismo é visto como um cisma herético que destruiu a unidade teológica e eclesiástica da Igreja Medieval, se bem que o Catolicismo nunca conseguiu a proeza de se manter uno! Os historiadores católicos se esquecem da verdadeira problemática que envolveu a Igreja Romana, porque, no período da Idade Média, muitíssimas barbaridades e anomalias foram vistas dentro da Igreja, gerando muitos protestos que não foram atendidos, o que resultaram finalmente na Reforma.
Os Historiadores Seculares
Dão mais atenção aos fatores secundários em sua ótica sobre a Reforma. O historiador Voltaire ilustra muito bem a interpretação racionalista. Para ele, a Reforma Protestante foi apenas a conseqüência de uma briga de monges da Saxônia e, na Inglaterra, a Reforma Religiosa não deixou de ser apenas resultado de um caso de amor de Henrique VIII. É claro que tais conjecturas fazem parte da História. Mas resumir, de tão nobre movimento, pelos quais pessoas sacrificaram suas próprias vidas, que somente essas ocorrências seriam suficientes, é falta de vontade de analisar exegeticamente os fatos.
Os Historiadores Marxistas
Determinam que a Reforma aconteceu devido a questões econômicas. Ela é vista como resultado da tentativa do papado romano de explorar economicamente a Alemanha para lucro próprio. Seria o resultado da oposição de nações/Estados a uma Igreja internacional. Para eles, a Reforma foi um simples episódio político de origem nacionalista.
Embora haja elementos de verdade em todas as interpretações, é preciso, porém, notar que suas ênfases, em geral, recaem sobre causas secundárias e, quase sempre, uma causa secundária particular. A Reforma não se explica de maneira tão simplória. Suas causas são múltiplas e complexas.
As Causas da Reforma
O Fator Político: Pode ser considerado como uma das causas indiretas e importantes para a eclosão da Reforma. As novas nações/Estados, centralizadas ao Noroeste da Europa, se opunham à noção de uma Igreja universal que reivindicasse jurisdição sobre o Estado nacional e seu governo. O ideal universal colidia com a consciência nacional emergente das classes desses novos Estados. No caso da Inglaterra, o rompimento de Henrique VIII com a Igreja Romana aconteceu por causa do seu divórcio com sua primeira esposa, Catarina de Aragão. Com isso, estava lançada a semente para o nascimento da Igreja Anglicana.
O Fator Econômico: As terras da Igreja Romana na Europa ocidental eram cobiçadas pelos governantes nacionais, pela nobreza e pela classe média das nações/Estados. Os governantes lamentavam a perda do dinheiro enviado para o tesouro papal em Roma. Além disso, o clero estava isento dos impostos dos Estados nacionais, sendo uma sanguessuga incessante! Também é relevante, nesta questão econômica, comentarmos sobre a problemática das indulgências. O abuso do sistema das indulgências era um fator de pobreza, ainda mais na Alemanha, onde os muitos benefícios ao papado eram abusivos, fato que enfurecia Lutero.
O Fator Intelectual: Deve-se à postura crítica, adotada por homens de mentes lúcidas e secularizadas diante da vida religiosa dos seus dias. O humanismo da Renascença, especialmente na Itália, criou um espírito secular semelhante àquele que caracterizou a Grécia clássica. Obviamente, as mentes desembotadas do humanismo não podiam digerir os embustes do romanismo, dando espaço para que cristãos mais esclarecidos pudessem desatar o Cristianismo das cadeias da ignorância.
O Fator Moral: Os estudiosos humanistas, que possuíam o Novo Testamento em grego, perceberam logo a discrepância entre a Igreja neotestamentária que viam na Bíblia e as práticas da Igreja Católica Romana. A corrupção antigira todos os escalões da hierarquia eclesiástica – prostituição, suborno, corrupção, assassinatos, cobranças de indulgências, etc. Enfim, a conjuntura dos fatos mostravam o quanto a Igreja Católica Romana estava em trevas. De todos os fatores que poderiam levar à Reforma Protestante, nenhum foi mais significativo do que o fator moral.
O Estopim da Reforma
A faísca foi lançada em 1517, ocasião em que a campanha das indulgências, em favor da basílica de São Pedro, em Roma, estava a todo vapor. Tetzel, um padre dominicano, pregava sobre as indulgências com grande exibicionismo. “Dizem que cada vez que cai a moeda na bolsa do frade, uma alma sai do purgatório“, asseverava ele.
Diante disso, Lutero resolveu protestar, fixando suas 95 teses na porta da Igreja em Wittenberg (Alemanha), condenando o uso das indulgências. A resposta do papa Leão X veio na bula Exsurge Domine, ameaçando Lutero de excomunhão. Mas era tarde demais. As teses de Lutero já haviam sido distribuídas por toda a Alemanha. Lutero, então, foi chamado a comparecer à dieta de Worms, para se retratar. Mas respondeu que não poderia se retratar de nada do que disse. Foi na dieta de Spira, em 1529, que os cristãos reformistas, pela primeira vez, foram apelidados de “protestantes”, devido ao protesto que os príncipes alemães fizeram diante do autoritarismo do Catolicismo.
Em todos esses países, houve perseguição aos reformadores e aos novos protestantes. A perseguição se tornou ainda mais intensa com o movimento Contra-Reforma, promovido pelo Catolicismo. Era um método de represália. A Reforma enfrentou cem anos de guerras religiosas dos reis católicos contra os protestantes. Mas saiu vitoriosa, prosperou, e as igrejas protestantes foram fundadas em todas as partes do mundo. Hoje, graças a Deus, uma grande parcela da população Ocidental é protestante. E o Brasil caminha a passos largos para ser conquistado totalmente pelo protestantismo.
CRONOLOGIA DAS PRINCIPAIS CONFISSÕES DE FÉ PROTESTANTES |
Data |
Confissão |
Comentários |
1529 |
Catecismo Menor |
Trata-se de uma síntese das doutrinas bíblicas essenciais direcionadas ao povo. |
1529 |
Catecismo Maior |
Trata-se de uma “repetição” do Catecismo Menor, porém, com explicações doutrinárias minuciosamente direcionadas aos adultos. |
1530 |
Confissão de Augsburgo |
Elaborada na Alemanha, a pedido do imperador Carlos V, e compilada por Philipp Melanchthon, é considerada a principal confissão de fé luterana e reúne, ao todo, 28 artigos, divididos em duas partes: as que tratavam de fé e doutrina (1-21) e as que tratavam dos abusos medievais, corrigidos pelos luteranos (22-28). |
1531 |
A Apologia da Confissão |
Trata-se de uma defesa do conteúdo doutrinário exposto na Confissão de Augsburgo. |
1536 |
Confissões Helvéticas |
Trata-se de documentos doutrinários expositivos sobre a fé comum das igrejas protestantes suíças. Foi, sem dúvida, uma das mais reconhecidas confissões reformadas entre os protestantes. |
1537 |
Artigos de Esmalcalde |
Além de fazer apologia à Confissão de Augsburgo, se alonga na exposição da doutrina da Santa Ceia. |
1558 |
Confissão de Fé de Guanabara |
Foi elaborada na Bahia de Guanabara, no Rio de Janeiro, pelos calvinistas refugiados da França. Perseguidos e condenados à pena capital, esses calvinistas foram obrigados, antes de serem mortos, a professar, por escrito, sua fé, documento que se tornou a primeira confissão de fé na América. |
1559 |
Confissão Galicana |
Também chamada de Confissão de La Rochelle, foi o resultado do primeiro Sínodo da Igreja Reformada Francesa. Esse documento foi inteiramente redigido pelo reformador João Calvino. |
1560 |
Confissão de Fé Escocesa |
Documento erudito elaborado por John Knox e outros cinco “Johns” (Willock, Winram, Spottiswood, Row e Douglas). Redigido após a guerra civil escocesa, suas doutrinas centrais são a eleição dos santos e a igreja. |
1561 |
Confissão Belga |
Trata-se de 37 artigos elaborados por Guido de Bres. Adotados pelo Sínodo de Dort, em 1619, tornaram-se o modelo confessional das igrejas reformadas holandesas e belgas. |
1563 |
Os 39 Artigos |
Trata-se das declarações doutrinárias aceitas pela Igreja da Inglaterra que consubstanciaram a fé anglicana (episcopal) em face do Catolicismo Romano. |
1577 |
Fórmula da Concórdia |
Trata-se de uma exposição doutrinária sobre o pecado original, a salvação pela graça e a cristologia. |
1618 |
Cânones do Sínodo de Dort |
Baseada nas confissões das igrejas reformadas, o Sínodo de Dort foi o resultado dos cinco artigos de fé disputados na Holanda: a divina eleição e reprovação; a morte de Cristo e a redenção do homem por meio dela; a corrupção do homem, sua conversão a Deus e como essa conversão ocorria; e a perseverança dos santos. |
1646 |
Confissão de Westminster |
Incontestavelmente, o resultado mais importante da teologia do século 18. Foi norteada por quatro grandes princípios: a autoridade das Escrituras, a soberania de Deus, os direitos da consciência e a responsabilidade da Igreja em seu campo de atuação. |
Fonte: Bíblia Apologética de Estudo, ICP - Instituto Cristão de Pesquisas