Categoria: Historiografia
Imagem: Escultura representando o primeiro culto protestante no Brasil, oficiado pelos pastores Rev. Pierre Richier e Rev. Guillaume Chartier - Guiame.com
Publicado: 30 de Julho de 2020, Quinta Feira, 00h09
IVAN PEREIRA GUEDES
Mestre em Ciências da Religião
Universidade Presbiteriana Mackenzie
– INTRODUÇÃO
Num país de secular hegemonia católica em que os livros didáticos de história apresentavam até pouco tempo atrás como data a ser memorizada pelos alunos a Primeira Missa no Brasil, quem se lembra ou a quem interessa saber quem e quando foi realizado o Primeiro Culto Protestante no Brasil?? Infelizmente os próprios evangélico-protestantes não dão muito (para não dizer quase nenhum) valor à sua própria História – então por que outros valorizaram?
– O PROTESTANTISMO NO BRASIL E AS ACADEMIAS
Somente após a década 1970 se iniciou o Estudo Acadêmico do Protestantismo no Brasil e suas repercussões na História do país. Nas palavras de Júlio Andrade Ferreira, historiador oficial da IPB, a historiografia protestante brasileira ainda que a partir de 1950 fosse quantitativamente crescente, no que tangia a qualidade tornava-se angustiante para os que pretendiam um estudo mais acadêmico, pois segundo ele – a um simples exame se apercebem do caráter apologético e pouco cientifico, pueril às vezes, da maior parte dessa imensa produção literária // (1959, v.1, p. 35).
– AS PRIMEIRAS PRODUÇÕES ACADÊMICAS SOBRE O PROTESTANTISMO NO BRASIL
A obra clássica de Émile-G. Leonard (professor francês da USP) “O protestantismo brasileiro, estudo de eclesiologia e historia social” (1963) é o marco da nova historiografia protestante. Seu trabalho foi editado em capítulos pela revista da Universidade São Paulo em diversos números. David Gueiros Vieira com seu “O Protestantismo, a maçonaria e a questão religiosa no Brasil” (1980), é uma das primeiras obras a ser produzida por brasileiro em um centro universitário brasileiro.
Acelerando o processo em seu trabalho acadêmico “Protestantismo e repressão” (1979) de Rubem Alves (morreu recentemente) encontramos a ressonância da voz daqueles que vivenciaram os desafios de serem minorias dentro de uma denominação fortemente arraigada em uma organização eclesiástica dogmatizadora. Nas obras de Boanerges Ribeiro, mais especificamente “A Igreja Presbiteriana do Brasil – da autonomia ao cisma” (1987), temos o contraponto às obras de víeis mais critico, pois ele expressa uma perspectiva histórica institucional.
O eminente pesquisador do protestantismo no Brasil o Dr. Antônio Gouvêia Mendonça em seu pioneiro trabalho “O celeste porvir – a inserção do protestantismo no Brasil” (1984) é o clássico escrito por um brasileiro em que pesquisa e analisa a forma como o protestantismo se instala no país e suas dificuldades em se desenvolver. É indispensável também a obra complementar “Introdução ao protestantismo no Brasil” (2002) dele juntamente com Velasquez, onde aprofundam as questões anteriormente abordadas mencionada na obra anterior. Após esse inicio pioneiro inúmeras obras de cunho acadêmico têm sido produzidas em todo o Brasil, resgatando a nossa História Protestante.
E qual a IMPORTÂNCIA disso?? “Se não sabemos o que fomos como saberemos o que somos e o que seremos?” Mas o tema deste artigo é bem especifico: O Primeiro Culto Protestante no Brasil. Entretanto, para uma compreensão melhor é preciso que entremos no “Túnel do Tempo”….
A grande Reforma Religiosa ocorrida no século 16, denominada também de Reforma Protestante, e que abalou e transformou o Continente europeu, apenas respigou no Brasil. Ainda que somente algumas décadas após as iniciativas do monge alemão Matinho Lutero (1483-1546) os ideais religiosos reformados aportaram neste lado simultaneamente inserido no contexto mundial.
Os dois primeiros contatos dos brasileiros, ainda que mais português do que brasileiro, vieram no velho modelo de invasão e domínio, totalmente estranho ao espírito evangélico proposto por Jesus e preservado nos escritos da Segunda parte da Bíblia cristã.
Os primeiros a fazerem este tipo violento de abordagem foram os franceses, que invadiram e ocuparam o Rio de Janeiro entre 1555 e 1560, estabelecendo o que eles chamaram de França Antártica. Liderados pelo vice-almirante da Bretanha Nicolau Durand de Villegaignon,[1] de caráter extremamente contraditório, mas que dissimuladamente conquistou a confiança de cristãos reformados (huguenotes), da França, incluindo o almirante calvinista Gaspar de Colligny que intercede junto ao rei Henrique II, conseguindo desta forma o financiamento necessário para tão grande e arriscada empreitada.[2]
Formando uma tripulação com alguns poucos amigos, diversos mercenários e uma porção de desajustados sociais, muitos deles retirados da prisão da cidade de Ruão, zarpam do porto de Havre, em 15 de julho de 1555 em dois navios; aportaram na Baía da Guanabara em 10 de novembro de 1555 com 400 homens na Ilha Serigipe[3] (hoje Villegaignon) na Baía da Guanabara.
Todavia, com o passar dos meses e demonstrando uma personalidade e liderança cada vez mais excêntrica começa a enfrentado motins e outras dificuldades. Percebendo que perderia o controle da situação o astuto invasor solicita ao reformador João Calvino que antes de se tornar o reformador de Genebra (Suíça) haviam sido contemporâneos na Universidade de Paris,[4] que enviasse ao Brasil cristãos protestantes com habilidades para o trabalho e pastores que pudessem doutrinar e instruir tanto os franceses quanto os índios.[5]
Coube ao sr. Bois-le-Comte, sobrinho de Nicolas Villegaignon, custeado pelo rei, organizar a frota que haveria de trazer os huguenotes ao Brasil. Esta frota foi composta por três navios: o Petit-Roberge comandado por Bois-le-Comte, então aclamado vice-almirante, e que trazia cerca de 80 pessoas, inclusive soldados e marujos; o Grand Roberge, que trazia 120 pessoas e por capitão o sr. de Sainte Marie, apelidado Espine, e o Rosée e que trazia a bordo 90 pessoas, inclusive 06 jovens, que vinham para aprender a língua brasileira, e 05 moças, dirigidas por uma governanta, que foram as primeiras mulheres francesas que desembarcaram nas terras sul-americanas. Eram, portanto, ao todo, 290 pessoas, das quais somente 16 seriam classificados de protestantes calvinistas!
Então, no dia 19 de novembro 1556 embarcaram para o Brasil no porto de Honfleur, na Normandia. Como de costume, a viagem foi muito penosa. A certa altura, diante da situação em que se achavam, os reformados recitaram o Salmo 107 (vv. 23-30). No dia 7 de março de 1557, os viajantes finalmente entraram no “braço de mar” chamado Guanabara pelos selvagens e Janeiro [Rio de] pelos portugueses. Assim, a colônia francesa no Brasil fora reforçada com mais 280 pessoas. Entre elas estavam o pequeno grupo de calvinistas de Genebra[6] que traziam credenciais do próprio Calvino, entre os quais dois pastores Pierre Richier (50 anos)[7] e Guillaume Chartier (30 anos),[8] e o então jovem Jean de Léry, que haverá de escrever posteriormente um relato destes acontecimentos e que se constitui em fonte ocular primária. Todavia, a verdadeira e provavelmente única intenção de Villegaignon ao fazer a solicitação era a de apaziguar os revoltosos e amansar os índios através da religião – infeliz prática utilizada por todos os dominadores na época – quer católico ou protestante (e até hoje).
– A CELEBRAÇÃO DO PRIMEIRO CULTO PROTESTANTE
O desembarque no forte Coligny deu-se no dia 10 de março, uma quarta-feira (depois de longos e perigosos três meses e meio) e Villegaignon recebeu o grupo afetuosamente e demonstrou alegria porque vinham estabelecer uma igreja reformada. Escrevendo uma carta a Calvino ele expressa isso: “não sei se é possível expressar a alegria que sua carta me trouxe, assim como os irmãos que vieram com elas (…) a chegada dos irmãos me consolou”.[9] No dia seguinte, reunidos todos em uma pequena sala no centro da ilha, foi realizado um culto de ação de graças, o primeiro culto protestante ocorrido no BRASIL e nas Américas ou Novo Mundo.
– A LITURGIA
O ministro Richier orou invocando a Deus. Em seguida foi cantado em uníssono, segundo o costume de Genebra, o Salmo 5: “Dá ouvidos, Senhor, às minhas palavras”. Esse hino constava do Saltério Huguenote, com metrificação de Clement Marot e melodia de Louis Bourgeois, e até hoje se mantém nos hinários franceses. Bourgeois foi diretor de música da Igreja de Genebra de 1545 a 1557 e um dos grandes mestres da música francesa no século 16. A versão mais conhecida em português (“À minha voz, ó Deus, atende”) tem música de Claude Goudimel (RIP. 1572) e metrificação do Rev. Manoel da Silveira Porto Filho.
Em seguida, o pastor Richier pregou um sermão com base no Salmo 27:4: “Uma coisa peço ao Senhor e a buscarei: que eu possa morar na casa do Senhor todos os dias da minha vida, para contemplar a beleza do Senhor e meditar no seu templo”.
Após o culto, os huguenotes (nome que os protestantes recebiam na França) tiveram sua primeira refeição brasileira: farinha de mandioca, peixe moqueado e raízes assadas no borralho. Dormiram em redes, à maneira indígena.
A Santa Ceia segundo o rito reformado foi celebrada pela primeira vez no domingo 21 de março de 1557.
Segundo a narrativa de Léry inicialmente Villegaignon tratou os calvinistas com cordialidade, ordenou que em todas as noites se realizasse o serviço divino; aos domingos deveria haver culto e pregação pela manhã e à noite e os sacramentos deveriam ser administrados conforme o ensino da Palavra de Deus. Mas suas motivações mesquinhas logo começariam a serem reveladas e no transcorrer das semanas ele vai mudando suas atitudes.
Instigado por Jean de Cointa,[10] que suscitara diversas questões teológicas: acerca da consagração de vasos especiais para administração do Sacramento Eucarístico; sobre ser ou não o pão fermentado; sobre o uso de vestes sacerdotais; sobre o uso de sal, azeite e saliva, na administração do Batismo; sobre a significação das palavras sacramentais, e a questão nevrálgica da consubstanciação ou transubstanciação, às quais Villegaignon endossou e tentou impor – o que vai encontrar uma resistência inflexível por parte do pequeno núcleo calvinista recém-chegados;
Para Léry, essa mudança súbita de opinião de Villegaignon foi motivada por cartas de franceses influentes, que o acusavam de ter abandonado a religião católica (1578 – 1992:77).
Somando-se às polêmicas teológicas Villegaignon reaviva sua síndrome de perseguição, achando que os calvinistas estão incentivando os demais a depô-lo e assumirem o controle.
Depois de quase oito meses na ilha, sentindo que o ambiente está cada vez mais tenso e perigoso, os calvinistas tomam a decisão de deixarem o forte e irem para o continente e durante dois meses esperaram um navio para poder retornar à França. Segundo Léry um grupo de 45 pessoas conseguiu embarcar em um navio chamado de Le Jaques (1578 – 1992:204), bastante avariado e com pouco viveres; [11] um grupo de cinco orientados pelo capitão retornou ao continente em um pequeno barco, sendo eles: Pierre Bourdon, Jean du Bordel, Matthieu Verneuil, André la Fon, et Jacques le Balleur” (Lery 1578 – 1992:206).
– A PRIMEIRA CONFISSÃO DE FÉ PROTESTANTE NO BRASIL
Depois de alguns dias no continente vivendo entre os indígenas eles retornam à ilha e se apresentam à Villegaignon que aparentemente os recebe bem, mas na verdade pensa que eles voltaram para colocar os demais contra ele. Procurando um meio de mata-los sem criar uma revolta acusa-os de heresias (1561 – in Thevet 1588 – 2006:268). Elabora uma série de perguntas, sem qualquer ordem, que ele pensava serem embaraçosas para os seus prisioneiros e determinou que as respondessem em doze horas:
“Esses artigos eram numerosos e alguns incluíam certos pontos mais difíceis da santa Escritura, de modo que um bom teólogo, mesmo tendo todos os livros necessários ao estudo das santas Escrituras, não conseguira fazer em um mês” (Histoire des Martirez, apud OSWARD, 2009, p. 160).
Temos também o testemunho de Léry:[12]
“Certas personagens dignas de fé, que nós deixamos naquele país, de onde retornaram quatro meses depois de nós, quando encontraram du Pont em Paris, não apenas lhe asseguraram de que lamentavelmente tinham assistido ao afogamento dos três no forte de Coligny, a mando de Villegagnon por causa do Evangelho, a saber, Pierre Bourdon, Jean du Bordel et Matthieu Verneuil, mas também que tinham trazido, por escrito, tanto a confissão de fé, como todo o processo de Villegagon contra eles. Elas deram para du Pont, de quem obtive logo depois (…) me sentindo obrigado a ter o cuidado de que a confissão de fé dessas três boas personagens fosse registrada no catálogo daqueles que em nossa época constantemente suportaram a morte pelo testemunho do Evangelho, em 1558 eu dei-a ao editor Jean Crespin” (1578 – 1992:221).
O historiador Émile Leonard comenta: “Se o fato fosse certo, nenhuma confissão de fé teria sido mais rapidamente composta. Já é bastante surpreendente que Du Bordel, sem outro livro senão uma Bíblia possa escrever um texto usando Santo Agostinho, São Ambrósio, São Cipriano e Tertuliano” (1958: 206, apud OSWARD, 2009, p. 159. Nota 48).
Esse documento elaborado por esse grupo de franceses calvinistas, defendendo seus posicionamentos teológicos ficou conhecido como “Confissão de Fé da Guanabara ou Confissão Fluminense” (8 de fevereiro de 1558).
Mas Villegaignon rejeita o documento apresentado declarando heréticos vários dos artigos e decidindo pela morte dos reformados. No dia seguinte foram executados três – Jean du Bourdel, Matthieu Verneuil e PierreBourdon. Eles ficaram conhecidos como os três primeiros mártires evangélicos do Brasil, ainda que não tivessem sido mortos por brasileiros, mas sim por aquele que os havia convidado a virem ao país.
Um dos signatários, André Lafon, foi poupado por ser o único alfaiate da colônia e o quinto, Jacques le Balleur conseguiu fugir para São Vicente/SP, mas foi preso e depois enforcado, pelos portugueses, tanto pelo fato de ser um invasor francês como por se negar a renunciar sua fé reformada, tendo por auxiliar do carrasco o conhecido Pe Anchieta.
Um dos relatos ocular de toda essa história foi produzido por Jean de Léry,[13] um jovem cujo oficio era sapateiro e que fez parte da caravana genebrina. Ele conseguiu voltar para a França, tornou-se pastor e escreveu o livro “História de uma Viagem à Terra do Brasil” (1578), que se tornou leitura obrigatória para todos os viajantes ao Brasil.
Diante destes acontecimentos a liderança de Villegaignon vai sendo drasticamente corroída. Assim, debaixo de suspeitas tanto dos huguenotes, que começaram a chamar-lhe de “Caim da América”, “apóstata” e “assassino”, quanto por parte dos católicos, que suspeitavam de suas inclinações reformadas, em fins de 1558, Villegaignon se retirou do Forte de Coligny, retornando para a França, deixando seu sobrinho Bois-le-Comte no comandodo forte. Em 1560 os portugueses liderados por Mém de Sá cercam a Ilha e em apenas dois dias de combate conseguem a rendição dos franceses remanescentes que fogem pela mata costeira e os que não foram mortos pelos índios foram resgatados por um navio que os apanhou na costa, terminando assim de forma melancólica a primeira tentativa de instalar uma colônia para os huguenotes franceses no Rio de Janeiro.
– RESULTADO DA INVASÃO FRANCESA E DOS PROTESTANTES
Imediatamente a Igreja Católica Romana restabelece a hegemonia religiosa, proibindo toda e qualquer outra manifestação de fé, implantando de forma implacável a cartilha da horrenda Inquisição Religiosa. O Brasil fica totalmente isolado de todos os movimentos religiosos, sociais e políticos que estão influenciando e transformando o mundo europeu e americano. Desta forma melancólica e frustrante se finda mais um capítulo, ao gosto popular brasileiro, da novela protestante no Brasil, mas ainda que com um intervalo de um século e meio, novos capítulos e com conteúdo mais positivo começarão a serem escritos.
Evidentemente que esta tentativa frustrada, ainda que deixasse alguma marca positiva indelével na consciência dos habitantes brasileiros serviu para aumentar substancialmente todo o arsenal de preocupações das autoridades portuguesas quanto aos invasores com sua religião protestante.
Após repelir este e outros grupos de invasores anticatólicos, tudo e todos estrangeiros com qualquer resquício de religião protestante passaram a serem vistos como invasores e deveriam ser imediatamente combatidos e extirpados, de maneira que toda estrutura religiosa protestante foi extinta, e o catolicismo retoma com força total sua catequese e assim permaneceria até as últimas décadas do século XIX. Mas dois acontecimentos históricos de suma importância para o Brasil e os brasileiros trarão uma luz no final do túnel da implantação definitiva do protestantismo tupiniquim: a transferência da Corte Portuguesa em 1808 e a respectiva Abertura dos Portos; a Independência do Brasil em 1822 e a promulgação da primeira Constituição brasileira.
NOTAS
[1] Outra grafia encontrada nas fontes é Villegagnon. Era sobrinho do grão-mestre da Ordem de São João de Jerusalém (conhecida também como Ordem de Malta, e chamada de “escorpiões do mediterrâneo” pelos otomanos). Em nenhum momento ele abriu mão de sua herança religiosa católica.
[2] Os monarcas franceses desde cedo questionavam a repartição das terras do Novo Mundo entre os países ibéricos e não reconheciam o domínio de Portugal sobre as terras do Brasil, cujas riquezas despertavam a cobiça dos armadores e negociantes da Normandia.
[3] Após construir ali um pequeno forte dá-lhe o nome de Colligny em homenagem ao Almirante francês que financiara a expedição.
[4] Compartilhou desta contemporaneidade o também jovem Inácio de Loyola que posteriormente haveria de criar a ordem dos Jesuítas que se tornaram os “soldados” da contrarreforma católica. Na carta de Caminha ele nos informa que os padres responsáveis pela realização da primeira missa no Brasil eram franciscanos e não jesuítas, pois a ordem não existia ainda, ela só passou a existir no contexto da Contrarreforma.
[5] No primeiro grupo havia no máximo quatro ou cinco huguenotes na tribulação inteira e nenhum pastor. O próprio Villegaignon ministrava as reuniões religiosas, no rito católico.
[6] Entre estes havia quatro carpinteiros, um que trabalhava com couro, um ferreiro, um alfaiate e um sapateiro: Pierre Bourdon, Matthieu Verneuil, Jean de Bourdel, André La Fon, Nicolas Denis, Martin David, Nicolas Raviquet, Nicolas Carmeau, Jacques Rousseau e Jean Gardien (que escreverá um relato desta viagem).
[7] Era doutor em teologia e ex-frade carmelita. Convertera-se ao protestantismo e, após haver feito seus estudos em Genebra, dirigiu-se ao Brasil em 1556, de onde voltou no ano seguinte foi enviado à cidade de La Rochelle, onde organizou uma igreja, e morreu em 1580.
[8] Era natural de Vitré, na Bretanha, estudou em Genebra e aceitou com ardoro comissionamento para a América. Depois desta expedição, pouco se sabe dele, somente que foi capelão de Jeane d’Albret.
[9] Esta carta foi copilada por Léry em sua obra (p. 25) conforme referências bibliográficas. Por ignorância ou intencionalmente alguns historiadores afirmam que Villegaignon foi alvo de uma conspiração fomentada ou liderada pelos pastores calvinistas (cf. Enciclopédia Miradora Internacional, s.v. “Franceses no Brasil”, 2.1), mas nem o próprio Villegaignon os acusa disto e de fato houve uma conspiração que ele menciona algumas linhas abaixo nesta mesma carta e que foi um dos motivos pelos quais ele solicita os reforços e fica satisfeito com a chegada dos pastores calvinistas. Portanto, os fatos posteriores e as atitudes belicosas de Villegaignon não foram causados por uma “conspiração” calvinista genebrina.
[10] Dizia-se estudante da Sorbonne, e que provavelmente embarcara quando, em Paris, a expedição permanecera cerca de um mês. Os portugueses o chamavam de Jean de Bolés; é chamado Hector por Richer, Cointa por Jean de Léry e Cointat pelos panfletistas anônimos e por Villegagnon.
[11] Esses que conseguiram retornar à França tiveram oportunidade de alertar um grupo de aventureiros flamengos que estavam prontos para embarcar para o Brasil, e também cerca de dez mil franceses que teriam emigrado se os propósitos de Coligny quanto a fundação da colônia americana não tivesse sido traído por Villegaignon (Sketches of Brazil by Dr. Kidder).
[12] O historiador Frank Lestringant tem sistematicamente questionado a veracidade do testemunho de Léry (1990).
[13] Jean de Léry (1534-1613) foi cavaleiro maltês antes da conversão, estudante de teologia em Genebra (1555), sapateiro na expedição e ao retornar conclui seus estudos e torna-se ministro do evangelho na França. Para as suas anotações etnográficas usou “d’encre de Brésir”, tinta vermelha feita de pau-brasil. Ele também forneceu as informações sobre os huguenotes martirizados que foram incluídas na obra de Jean Crespin (História dos Mártires).
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Fonte: Academia.edu