Categoria: Conversas à Mesa [Tischreden]
Imagem: Martinho Lutero (no centro) - eBiografia
Publicado: 24 de Fevereiro de 2023, Sexta Feira, 17h07
DCCC.
Lutero aconselhou a todos que se propuseram a estudar, não importa a área de atuação, a lerem livros fidedignos repetidamente; pois ler livros variados produz mais incompreensão do que qualquer outro tipo de resultado distinto. É como alguém que habita em todos os lugares, mas acaba permanecendo em nenhum lugar. Tornando-se um andarilho. Como não usamos diariamente a comunidade de todos os nossos amigos, só de alguns poucos selecionados, devemos mesmo assim nos acostumar com os melhores livros e torná-los familiares para nós de modo que o conheçamos na ponta da língua e dos dedos. Um estudante talentoso entrou em delírio por causa de sua dedicação exagerada aos livros misturado com a paixão que ele tinha por uma garota. Lutero lidou com ele de uma maneira branda e amigável dizendo: O amor é a causa de seu delírio, e o seu estudo te trouxe mais um pouco de desordem. Eu também passei por isso no início da minha caminhada.
DCCCI.
Quem poderia ser tão louco para escrever histórias e verdades nesse tempo tão mau? O cérebro dos gregos era sutil e astuto; os italianos eram orgulhosos e ambiciosos; os alemães já eram rudes e turbulentos. Tito Lívio descreveu os atos dos romanos, com exceção dos cartagineses. Blandus e Platina apenas bajulavam os papas.
DCCCII.
Em 1536, Lutero escreveu em suas anotações as seguintes palavras: “Rest et verba Philippus; verba sine re Erasmus; res sine verbis Lutherus: nec res, nec verba Carolostadius”. Isto é, o que Philip Melancthon escreve tem mãos e pés, pois os assuntos são bons e suas palavras também; Erasmo de Roterdão escreve muitas palavras, mas sem propósito; Lutero tem bons assuntos, mas estão lhe faltando palavras; Carlstad não possui boas palavras e muito menos bons assuntos. Philip Melancthon, entrando no momento, leu tais críticas e voltou-se com um sorriso para o Dr. Basil dizendo: Sobre Erasmo e Carlstad foi muito bem dito, e há muitos elogios concedidos a mim. Enquanto que boas palavras devem ser contadas entre outros méritos de Lutero, pois ele fala muito bem com matéria substancial.
DCCCIII.
Lutero, reprovando a conduta do Dr. Mayer que é tímido e deprimido por causa de sua pregação simples em comparação com outros teólogos, disse-lhe: Amado irmão, quando você pregar não se preocupe com os doutores e com os homens mais instruídos, foque nas pessoas mais comuns para ensiná-las com clareza. No púlpito devemos alimentar as pessoas comuns, pois a cada dia uma nova igreja crescerá necessitando de mais instruções claras e simples. Fique com o catecismo e faça discursos elevados e sutis. O vinho forte deixe-o para os fortes.
DCCCIV.
Nenhum teólogo de nosso tempo expõe as Sagradas Escrituras tão bem quanto Brentius. Eu admiro muito a sua energia e me forço para igualar a ele. Estou convicto que nenhum de nós consegue se comparar a ele na exposição do evangelho de S. João; apesar, de vez em quando, ele se debruçar demais sobre suas opiniões pessoais. Ainda assim, ele se apega ao verdadeiro e justo propósito e não se coloca contrário a simplicidade da Palavra de Deus.
DCCCV.
Sobre o debate que rodeia a respeito das diferenças entre os eruditos, Lutero disse: Deus distribuiu de perfeita maneira os seus dons de modo que os instruídos sirvam aos indoutos, e os indoutos se humilhem diante dos instruídos no que for necessário para eles. Se todas as pessoas fossem iguais, o mundo não poderia continuar; ninguém serviria ao outro e não haveria paz. O pavão reclama por não possuir o canto do rouxinol. Deus, com aparente desigualdade, instituiu a maior igualdade; um homem com dons maiores que os outros é orgulhoso e altivo, procurando governar e dominar os outros e, na maioria dos casos, os condena. Deus ilustra perfeitamente a sociedade humana através dos membros do corpo, mostrando que um membro depende do outro para continuar tendo um propósito de existir.
DCCCVI.
Aristóteles é completamente um epicurista. Ele sustenta que Deus não dá atenção às criaturas humanas, nem se importa com o jeito de como vivemos, permitindo-nos fazer o que quisermos. Segundo ele, Deus governa o mundo como uma donzela sonolenta que cuida de uma criança. Já Cícero, ele foi muito mais longe. Ele reuniu tudo o que achou bom nos livros de todos os escritores gregos. O seu bom argumento sempre me comove, pois ele prova que existe um Deus onde todas as criaturas vivas, feras e a própria humanidade engendram sua própria semelhança. Uma vaca sempre produz uma vaca; um cavalo, um cavalo, etc. Portanto, segue-se que há algum ser que governa tudo. Em Deus podemos reconhecer os movimentos imutáveis das estrelas do céu; o sol nasce a cada dia e se põe em seu lugar; tão certo quanto o tempo, temos o inverno e o verão, mas como isso acontece tão regularmente nós não prestamos atenção, então não admiramos.
Fonte: CRTA - Center for Reformed Theology and Apologetics - reformed.org
Tradução: Marcell de Oliveira