CONVERSAS À MESA (TISCHREDEN) PT. 29/47 - DOS ADVERSÁRIOS DE LUTERO

Categoria: Conversas à Mesa [Tischreden]
Imagem: Martinho Lutero (no centro) - eBiografia
Publicado: 17 de Fevereiro de 2023, Sexta Feira, 11h31

DCLXI.
Em nada considero como companheiros Tetzel, Cochlaeus e Lemnius. Não devemos dar créditos para esses caluniadores detestáveis; eles não aparecem publicamente no campo e muito menos são vistos por aí, mas desprezam tudo o que fazemos na base do ódio cheio de veneno. Eles se gabam muito dos Padres; deixe-os com os Padres então; temos um só Pai que estás nos céus acima de todos os padres; suas peças e remendos não tem peso. Eles escrevem tendo como base um coração corrupto e vicioso, e todos nós sabemos que suas obras são meras mentiras descaradas. O artigo da Santíssima Trindade não está escrito expressamente nas Sagradas Escrituras, mas acredita-se; então eles alegam que devemos acreditar nas tradições e nas ordenanças dos homens sem precisar da Palavra de Deus.

DCLXII.
Esse Wetzell que é preferido em Leipzig, é um sujeito bem travesso. Ele tinha sido condenado a morte, mas foi salvo devido a minha intromissão e intercessão; agora ele me recompensa com suas indolências. No entanto, ele é um miserável que condenou a si mesmo; ele não é digno de ser atendido, pois terá um juiz. Os papistas não ganharão nada com suas críticas. Quando eles blasfemarem, devemos ficar em silêncio e orar para não acrescentar mais lenha nessa fogueiras.

Fico feliz que esse sujeito esteja em Leipzig; ele está lá como um rato preso em uma armadilha, pois está cheio de más opiniões; quando escaparem, ele receberá seu pagamento. Ele recebeu muito veneno de Campanus que escreveu um livro blasfemo sob este título: Contra tudo o que houve e há no mundo desde o tempo apostólico. Ele foi criticado de uma maneira geral. Ele é reservado em suas pregações com uma certa frieza, mais frio que o gelo. Ele não ousa irromper e dizer que tem em seu coração; ele é como uma lebre algemada que teme seus ouvintes; sua boca é fechada com palavras cativas, como se fosse uma masmorra. As palavras de um homem eloquente devem comover os outros até perfurar o coração. Mas aqueles que não ensinam nada honestamente, não são totalmente instruídos; mas sim burros, ousados e presunçosos como Carlstad é com seu Touto, do qual ele fez carroças.

DCLXIII.
O imperador Sigismundo foi feito cativo pelos papistas por assim dizer. Eles fizeram o que quiser com ele; vestiram-no com uma túnica de diácono no Natal para ler o Evangelho para o Papa; dessa maneira os imperadores são feitos diáconos da Igreja Romana, o servo do papa. Depois dessas cerimônias, o imperador nunca mais passou a ter sucesso contra os turcos ou na Alemanha. O reino da Boêmia que antes era muito justo, acabou sofrendo a sua queda.

DCLXIV.
Latomus era o melhor entre todos os meus adversários. Seu assunto era esse: “O que é recebido da igreja, não deve ser rejeitado.” Assim como os judeus disseram: “Somos o povo de Deus.”, e os papistas clamam: “A igreja não pode errar.” Esse foi o argumento contra o qual os profetas e os apóstolos lutaram; Moisés tinha dito: “Eles me provocaram ciúmes com algo que não era Deus, e eu os provocarei à ira de uma nação insensata.” E São Paulo diz: “Que é judeu aquele que é interiormente”; e Isaías: “Nele os gentios confiarão.”

“É impossível”, dizem eles, “que Deus abandone a sua igreja, pois Ele declara – Eu estarei sempre com vocês até o fim do mundo.” A questão é: A quem se referem essas palavras? Com você? Qual é a verdadeira igreja que Cristo falou? Os perplexos, quebrantados e contritos de coração, ou os romanos curtexans e marotos?

DCLXV.
Philip Melancthon mostrou uma carta pra Lutero vinda de Augsburg que informava sobre um teólogo papista erudito daquela cidade que se converteu ao Evangelho. Lutero disse: Eu gosto mais daqueles que não caem repentinamente, mas considero bem esse caso; compare os escritos e os argumentos de ambas as partes e coloque-os em uma balança de ouro, e busque a verdade reta no temor de Deus; a partir daí as pessoas passam a ser aptas, capazes de enfrentar controvérsias. São Paulo era o homem que, a princípio, era fariseu rigoroso em suas obras que defendia a lei com rigidez e sinceridade; mas depois pregou a Cristo da melhor e mais pura maneira contra toda a nação judaica.

DCLXVI.
Martin Cellarius, aquele patife ímpio, pensou em me agradar dizendo: “Seu chamado é superior ao dos apóstolos;” então na hora eu o interrompi grosseiramente: “De maneira alguma! Não sou comparável aos apóstolos!” Ele tinha me enviado quatro tratados que havia escrito sobre o templo de Moisés e as alegorias que ele envolvia; mas eu os devolvi imediatamente pois estavam cheios das mais arrogâncias autoglorificações.

DCLXVII.
Erasmus de Rotterdam é um dos maiores canalhas que já desgraçou com a terra. Ele fez inúmeras tentativas para me atrair em suas armadilhas me colocando em perigo, mas Deus me deu uma ajuda especial. Em 1525 ele enviou um de seus doutores com 200 ducados húngaros de presente para minha esposa; mas recusei tais ofertas e ordenei a minha esposa para não se intrometer nesses assuntos. Erasmus é muito Caifás!

“Qui Satanam no odit, amet tua carmina Erasmus. Atque idem jungat furias et mulgeat orcum.”

DCLXVIII.
Erasmus é muito infeliz com seus prefácios, embora tente suavizá-los; parece que ele não vê nenhuma diferença entre Jesus Cristo, nosso Salvador, e o sábio legislador pagão Sólon. Ele zomba de São Paulo e de São João, além de se aventurar dizendo que a Epístola aos Romanos não é aplicável ao estado atual das coisas. Que vergonha desse desgraçado maldito! É um mero Momus fazendo suas críticas e zombarias de tudo e de todos, de Deus e do homem, do papista e do protestante, e é o tempo todo usando termos tão embaralhados e de duplo sentido que ninguém consegue se apoderar dele para qualquer propósito eficaz. Sempre rezo por uma maldição sobre Erasmus.

DCLXIX.
Carlstadt se opôs a mim apenas por ambição, pois ele se gabava de que na terra não havia um homem mais instruído do que ele. Embora em seus escritos ele me imitava, ainda assim pregava peças estranhas seguindo os meus modos. Ele queria ser um grande homem e, sinceramente, eu teria deixado a honra para ele desde que não fosse contra Deus. Pois louvo a meu Deus e nunca fui tão presunçoso a ponto de me considerar o mais sábio de todos. Quando eu escrevi contra as indulgências, pretendia simplesmente opor-me a elas pensando que outros viriam e realizariam que eu havia começado.

DCLXX.
Devemos condenar e rejeitar totalmente Campanus. Ele não é digno de nenhuma resposta, pois assim ele se torna mais audacioso e insolente. Tenho certeza que se desprezá-lo, logo será sufocado e suprimido.

DCLXXI.
Lutero tinha sido informado que a pregação de James Schenck foi muito bem aceita em todos os lugares. Então Lutero disse: Óh! Quão aceitável seria para mim esse relatório se caso a sua pregação não trouxesse palavras tão doces, suaves e imponentes, das quais São Paulo advertiu aos Romanos, por meio das quais os ouvintes são enganados. Eles são como o vento Cecias que sopra suavemente e em silêncio, mas carrega um calor que atrai as flores e as árvores para a destruição. Da mesma forma, o diabo usa seus ministros para pregar Cristo com o propósito de destruir Cristo; e embora pareça falar a verdade, ainda assim mente. Um homem honesto pode muito bem subir as escadas quando um canalha está escondido atrás delas; pois o diabo pode muito bem suportar Cristo que sai da língua, enquanto ele próprio se esconde atrás da língua, de modo que as pessoas sentem prazer e se inflamam com o que ouvem; mas esse toque suave não dura muito; pois Satanás perverterá o Evangelho através do seu evangelho, visto que os espíritos presunçosos e confiantes não reconhecem seus pecados. E onde não há isca para pegá-lo, Cristo acaba não tendo espaço onde possa trabalhar; pois ele veio apenas para aqueles que estão com os corações e espíritos quebrantados e perplexos. Mas esses condenadores da lei são espíritos altivos e orgulhosos, assim como as pessoas no papado sob a tradição da lei, que estavam longe de observar a lei sendo isso totalmente estranho para eles. Portanto, a pregação da lei é uma preparação para o Evangelho e a matéria para Cristo trabalhar, pois é o único mestre de obra da fé.

DCLXXII.
No dia 15 de abril de 1539, certas posições impressas em Leipzig foram enviadas para Lutero nas quais John Hammer defendia que a lei não dizia respeito aos cristãos; ele também dividiu o arrependimento em três partes dizendo: Os judeus tinham um tipo de arrependimento, os gentios um outro tipo, e os cristãos um terceiro. Então Lutero disse: Quem poderia imaginar que tais espíritos extravagantes poderiam existir? É um equívoco fatal distinguir arrependimento de acordo com as pessoas, visto que há apenas um tipo de arrependimento dado a toda a humanidade; isto é, todos ofenderam um único Deus, sejam judeus, gentios ou cristãos. É um erro grosseiro e abominável dizer que o homem tem outro tipo de arrependimento do que o das mulheres; príncipes do que súditos; senhores do que servos; rico do que pobre – fazendo Deus respeitar as pessoas como se os profetas não tivessem ensinado corretamente o arrependimento, e como se o arrependimento dos ninivitas não tivesse sido verdadeiro; de onde se seguiria se não pregássemos o arrependimento fora da lei, Cristo não estava sob a lei, visto que, por nossa causa, ele estava sob a maldição da lei.

DCLXXIII.
No dia 13 de setembro de 1538 foi realizado um debate caloroso com quase cinco horas de duração onde Lutero investiu poderosamente contra os inovadores dizendo-lhes que estavam destruindo o Evangelho, abolindo a lei e trazendo para o mal as mentes seguras. Lutero também tinha dito que iria resistir a eles até o último suspiro se caso lhe custasse a vida. À noite, ele discorreu sobre a heresia de Ário; quando aquele inovador começou a pregar sua doutrina, Pedro, patriarca de Alexandria, denunciou-o como contrário à honra de Cristo, visto que aquele que nega a divindade de Cristo certamente o priva de sua honra. Ário começou negando a divindade de Cristo, afirmando que ele era apenas uma criatura, embora uma criatura perfeita. Mas quando os bispos justos resistiram a ele, então ele disse, em segundo lugar, que Cristo, a mais perfeita criatura e que está acima dos anjos, havia feito todas as outras criaturas. Em terceiro lugar, ele alegou que Cristo era Deus emanando de Deus, como se fosse uma luz da luz; Ário ensinou tão sutilmente que muitas pessoas se juntaram a ele e compartilharam suas opiniões. O piedoso bispo de Milão, Auxêncio, contra quem Hilário escreveu uma epístola, caiu em seus erros.

Ário terminou dizendo que Cristo não nasceu do Pai, igual a Deus, mas era de uma substância com o Pai, e não desistiu dessa afirmação quanto à sua criação. Então começou a discussão sobre a palavra Homousion que foi inserida no credo atanasiano, mas que não está escrita em nenhum lugar nas Sagradas Escrituras que ele nasceu do Pai, e era pertinente com respeito à sua natureza humana corretamente falada.

As heresias de Árius continuaram por muito tempo, por mais de trezentos anos. Houve o maior florescimento sob Constantino; sob Domiciano eles tiranizaram; sob Jovian, Valentinian e Gratian, eles diminuíram um pouco. Foram um tempo de sete imperadores, até que os godos vieram. O grande turco, até hoje, é ariano. Vemos assim que não há heresia, nem erro, nem idolatria, por mais grosseria que seja, que não obtenha partidários. Isso se manifesta nos dias atuais, em Roma, onde o papa é honrado como um Deus.

DCLXXIV.
Philip Melancthon tem uma boa consciência que leva as coisas bem a sério. Cristo exerceu muito bem os nossos antepassados; aquele que pertence a Cristo deve sentir a picada da serpente no calcanhar. Sem dúvida, a mãe do nosso Senhor era uma pobre donzela que era noiva de um carpinteiro que também era pobre.

Então sejamos alegres na pobreza e nos problemas, e lembremo-nos que temos um Mestre rico que sempre nos ajudará e nos confortará; ao fazê-lo teremos uma consciência tranquila, então deixe-o ir conosco como Deus quiser. Os ímpios querem esta paz em seus corações; como diz em Isaías: “Eles são como as ondas do mar, incapaz de sossegar, e cujas águas expelem lama e lodo para todo lado.”

DCLXXV.
Erasmus foi envenenado em Roma e em Veneza com doutrinas epicuristas. Ele exaltava os arianos mais do que os papistas; ele se aventurou a dizer que Cristo é chamado de Deus apenas uma vez em São João, onde Tomé diz: “Meu Senhor e meu Deus.” Sua principal doutrina era que devemos nos comportar de acordo com o tempo ou, como diz o provérbio, pendurar o relógio de acordo com o vento; ele apenas olhou para si mesmo para ter dias bons e fáceis, e assim morreu como um epicurista sem nenhum conforto de Deus.

DCLXXVI.
Isso eu deixo como meu testamento do qual faço de vocês minhas testemunhas. Eu considero Erasmus de Rotterdam o pior inimigo de Cristo. De todos os seus escritos, em seu catecismo, o que menos posso tolerar é que ele não ensina nada com decisão; em nenhum momento ele diz: Faça isso ou não faça aquilo; ele apenas lança erros e desesperos nas consciências juvenis. Ele escreveu um livro contra mim chamado Hyperaspites onde ele propunha defender a questão do livre-arbítrio para refutar meu escrito De Servo Arbítrio que nunca tinha sido refutado, e nem jamais será por Erasmus, pois estou certo de que o que escrevi sobre o assunto é a verdade imutável de Deus. Se Deus morasse no céu, Erasmus saberia e sentiria o que ele fez.

Erasmus é o inimigo da verdadeira religião, o adversário aberto de Cristo, a imagem completa e fiel de Epicuro e de Luciano.

DCLXXVII.
Não me importo com um inimigo declarado da igreja, como os papistas poderosos e perseguidores; Eu não os reconheço porque eles não conseguem prejudicar a igreja e nem impedir a Palavra de Deus; visto que por meu de suas fúrias e perseguições, a igreja cresce muito. Entretanto, o que causa danos à igreja é o mal interior dos falsos irmãos. Judas traiu a Cristo; os falsos apóstolos falsificaram o Evangelho. São os verdadeiros companheiros por meio dos quais o diabo se enfurece e estraga a igreja.

DCLXXVIII.
Não sei bem como traduzir a palavra hipócrita, pois essa palavra chega a ser branda e suave para um falso irmão; parece transmitir quase tanto quanto bajulador, um vilão perverso que faz mal para os outros para o seu próprio bem. Tais hipócritas eram os servos do rei Saul que, para alimentarem os seus estômagos, caluniaram contra o rei Davi que era um homem justo. Hipocrisia não é apenas um hipócrita ou um bajulador que finge amar alguém falando coisas que agradam os ouvidos, e sim também aquele que produz malícia sob a cor da santidade como mostra em Mateus capítulo vinte e três. São Jerônimo já dizia que a santidade fingida é um mal em dobro.

DCLXXIX.
O maior e mais feroz conflito que os cristãos têm é com os falsos irmãos. Se um falso irmão dissesse abertamente: Eu sou um Pilatos, um Herodes, um Anás, isto é, se ele adiasse o nome de cristão e se declarasse um inimigo de Cristo, então suportaríamos pacientemente todo o mal que ele pudesse operar sobre nós. Mas aqueles que carregam o nome de cristãos, não podemos de maneira alguma tolerar; essa regra e governo sobre a consciência, nós, teólogos, tomamos apropriadamente para nós e dizemos: É nosso por meio da Palavra, não permitiremos de forma alguma que sejamos privados dele.

DCLXXX.
Temos vaiado os frades e padres pela pregação do Evangelho, e agora os falsos irmãos nos assolam. Verdadeiramente esta é uma sentença correta: “Ele veio para os seus, e os seus não o receberam.”.

DCLXXXI.
Admiro-me de que nada esteja escrito sobre a vilania que Judas fez a Cristo. Estou convencido de que ele fez isso principalmente com a língua; pois não foi a toa que Cristo reclama dele em Salmo 41. Sem dúvida, ele foi aos sumos sacerdotes e anciãos pra falar gravemente contra Cristo dizendo: Eu também batizo, mas agora vejo que é frívolo e sem valor algum. Além disso, ele era um ladrão; ele pensou em obter uma grande recompensa em trair a Cristo (como Wetzell e outros que por nossos meios se tornam grandes senhores); ele era um vilão perverso e desesperado, ou Cristo o teria perdoado como perdoou a Pedro. Mas Pedro caiu por fraqueza; Judas por maldade.

DCLXXXII.
Judas era tão necessário entre os apóstolos quanto quaisquer três deles. Pois ele já refutou muitos argumentos dos hereges dizendo que nenhum homem pode batizar, mas aquele que tem o Espírito Santo. O que ele fez em seu ofício foi justo, mas quando ele fez o papel de ladrão, caiu em um pecado gravíssimo. Portanto, devemos distinguir sua pessoa de seu ofício; pois Cristo ordenou que ele não roubasse, e sim executasse o seu serviço, pregasse, batizasse, etc. Judas também refutou o que alguns objetam a nós que dizem: Há entre vocês, protestantes, muitos ímpios miseráveis, falsos irmãos e ofensores anticristãos. Aqui vem Judas e diz: Eu também fui apóstolo e comportei-me como um companheiro mundano compreensivo e político muito melhor do que os outros companheiros apóstolos; nenhum homem pensou que tal maldade estivesse escondida em mim. Judas na ceia do Senhor era diretamente o papa que se apoderou do dinheiro, era um miserável ganancioso, um ladrão e um deus do ventre que também falará em louvor a Cristo: na verdade, é um verdadeiro Iscariotes.

 

Fonte: CRTA - Center for Reformed Theology and Apologetics - reformed.org
Tradução: Marcell de Oliveira


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