CONVERSAS À MESA (TISCHREDEN) PT. 16/47 - DO SACRAMENTO DA CEIA DO SENHOR


Categoria: Conversas à Mesa [Tischreden]
Imagem: Martinho Lutero (no centro) - eBiografia
Publicado: 16 de Janeiro de 2023, Segunda Feira, 22h23

CCCLVI.
A cegueira dos papistas é grande e prejudicial; eles não acreditarão no Evangelho muito menos cederão a ele, e sim se vangloriarão da igreja e dirão: Ela tem o poder para alterar o que quiser; pois dizem eles que Cristo deu seu corpo aos seus discípulos à noite, após o jantar; mas nós o recebemos em jejum, então podemos, de acordo com a ordenança da igreja, reter o cálice dos leigos. Esses miseráveis ignorantes não são capazes de distinguir entre o cálice que pertence a substância do sacramento, e o jejum que é uma coisa ocasional, carnal, sem peso algum. Uma tem a Palavra e o Mandamento dada por Deus, já o outro consiste em nossa vontade e escolha. Exortamos pela ordenança de Deus; a outra deixamos a eleição do testamento, embora prefiramos que seja recebida em jejum por honra e reverência.

CCCLVII.
É uma maravilha de como Satanás foi ordenado a trazer para dentro da igreja um tipo de sacramento a ser recebido. Não consigo me lembrar de onde li isso, por qual causa foi alterado. Foi assim ordenado pela primeira vez no concílio de Constança, onde nada foi alegado, mas declarado apenas o costume.

CCCLVIII.
Os papistas se gabam muito de seu poder e autoridade afirmando de bom grado com este argumento: os apóstolos alteraram o batismo; então, dizem eles, que os bispos tem o poder de alterar o sacramento da ceia do Senhor. Eu respondo: admito que os apóstolos alteraram alguns detalhes; no entanto, há uma diferença entre um apóstolo e um bispo; um apóstolo foi chamado imediatamente por Deus com dons do Espírito Santo; já um bispo é uma pessoa escolhida pelo homem para pregar a palavra de Deus e ordenar servos da Igreja em certos lugares. Portanto, embora que os apóstolos tivessem esse poder e autoridade, os bispos não. Embora Elias tenha matado os sacerdotes de Baal e os falsos profetas, não é permitido que todo sacerdote faça o mesmo. São Paulo apresenta essa diferença: “Alguns ele deu para serem apóstolos, outros professores, e outros pastores e ministros”, etc. Entre os apóstolos não havia supremacia ou governo; nenhum era maior ou mais alto no cargo do que o outro; eram todos iguais. A definição quanto à supremacia e regra de São Pedro sobre os outros bispos é falsa; São Pedro está longe de ser o que eles definem; eles concluem que o poder e a autoridade do papa são os mais elevados; ele pode ordenar servos, alterar reinos e governos, depor alguns imperadores e reis, ou entronizar todos. Mas não devemos aceitar tais definições; pois toda definição deve ser direta, adequada e estabelecida de forma simples e clara; de modo que nem mais e nem menos pode ser contido na definição, do que aquilo que é descrito e definido.

CCCLXIX.
Aqueles que ainda não estão bem informados sobre a instituição do sacramento, podem recebê-lo sob uma condição; mas aqueles que estão certos disso, e ainda assim o recebem sob uma condição, agem injustamente e contra suas consciências.

CCCLX.
Qual significado da disputa, da bateção de boca, sobre a abominável idolatria de elevar o sacramento ao alto para mostrá-lo ao povo que, mesmo sem a autorização dos padres, foi introduzido apenas para confirmar os erros que afetam na adoração, como se o pão e o vinho perdessem sua substância e retessem apenas a forma, o cheiro e o sabor? Isso os papistas chamam de transubstanciação obscurecendo o uso correto do sacramento; considerando que mesmo no papado, em Milão, desde a época de Ambrósio até os dias de hoje, eles nunca realizaram ou observaram na missa e nem no cânon, muito menos a elevação e nem o Dominus Vobiscum.

CCCLXI.
A elevação do sacramento foi retirada do Antigo Testamento; uma chamada Thruma e a outra Trumpha; Thruma foi quando eles pegavam uma oferenda de uma cesta e a erguiam acima deles (como agora levantam o oblato), e mostravam o mesmo ao nosso Senhor Deus, após isso eles queimavam ou comiam. Trumpha foi uma oferenda que eles não levantavam acima deles, mas a mostravam aos quatro cantos do mundo como os papistas na missa, fazendo cruzes e outros brinquedos sem graça rumo aos quatro cantos do mundo.

Quando eu era papista e celebrei a primeira missa, tive dificuldades de fazer o sinal da cruz; eu não conseguia fazer do jeito certo, então eu dizia: “Maria, mãe de Deus, como estou constrangido com a missa e principalmente com o sinal da cruz.” Ah, Senhor Deus! Como éramos naqueles tempos! Éramos pessoas pobres e atormentadas, mas tudo isso não passava de mera idolatria. Eles aterrorizavam algumas pessoas de tal forma com palavras de consagração, especialmente pessoas boas e piedosas que falavam seriamente e estremeciam ao pronunciar estas palavras: Hoc est corpus meum, pois eram obrigadas a pronunciar sem qualquer hesitação; aquele que gaguejava ou omitia uma simples palavra cometia um pecado gravíssimo. Além disso, as palavras deveriam ser ditas sem qualquer desvio de pensamento, e tinham que ser ditas de uma tal maneira que apenas a pessoa devesse ouvir aqueles que as falavam, e ninguém mais que estava por perto. Por quinze anos fui um frade honesto; o Senhor com a sua misericórdia me trouxe o perdão. A elevação deve ser totalmente rejeitada em razão de sua adoração. Algumas igrejas, vendo que derrubamos a elevação, passaram a nos seguir e isso me trouxe uma grande satisfação.

CCCLXII.
A causa em vigor do sacramento é a Palavra estabelecida por Cristo que o ordenou. A substância é o pão e o vinho prefigurando o verdadeiro corpo e sangue de Cristo que se recebe espiritualmente por meio da fé. A causa final de instituir o mesmo é o benefício e o fruto, o fortalecimento da nossa fé, não duvidando que o corpo e o sangue de Cristo foram dados e derramados por nós, e que os nossos pecados certamente foram perdoados por meio da morte de Cristo.

CCCLXIII.
A pergunta foi feita sobre as palavras “dado por você”, se elas deveriam ser entendidas na presente administração, quando o sacramento é distribuído, ou quando for oferecido e realizado na cruz? Então eu respondi: eu prefiro quando são entendidos na presente administração, embora possam ser entendidos como cumpridos na cruz; não há problema algum Cristo dizer: “Que é dado por você” ao invés de “que será dado por você”; pois Cristo é Hodie et Heri, ou seja, hoje e ontem. Eu sou, diz Cristo, aquele que faz isso. Portanto, aprovo que Datur seja entendido de tal maneira que apresente o uso da obra. Da mesma forma foi perguntado se honra e reverência deveriam ser apresentadas no sacramento. Eu disse: Quando estou no altar e recebo o sacramento, dobro meus joelhos em homenagem a ele; mas quando estou de cama, recebo-o deitado mesmo.

CCCLXIV.
Aqueles que não recebem o sacramento como Cristo ordenou, então não há sacramento. Nenhum papista possui o sacramento pelo simples fato de eles não receberem o sacramento, mas sim oferecerem. Além disso eles oferecem apenas um tipo de sacramento que é contrário a ordenança de Cristo. Eles erram ao atribuir o sacramento, que justifica, ex opere operato, quando a obra é cumprida.

CCCLXV.
Estas palavras “Bebam todos” referem-se apenas aos sacerdotes na visão dos papistas. Então tais palavras também devem dizer a respeito dos sacerdotes apenas, onde Cristo diz: “Vocês estão purificados, mas não todos”, isto é, todos os sacerdotes.

 

Fonte: CRTA - Center for Reformed Theology and Apologetics - reformed.org
Tradução: Marcell de Oliveira


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