CONVERSAS À MESA (TISCHREDEN) PT. 8/47 - DO ESPÍRITO SANTO


Categoria: Conversas à Mesa [Tischreden]
Imagem: Martinho Lutero (no centro) - eBiografia
Publicado: 07 de Fevereiro de 2019, Quinta Feira, 00h56

CCXLI.
O Espírito Santo possui dois ofícios: primeiro, Ele é um Espírito da Graça que torna Deus misericordioso para conosco e nos recebe como seus filhos aceitáveis por amor de Cristo. Em segundo lugar, Ele é um Espírito que ora por nós e por todo o mundo para que o mal possa ser desviado de nós, e que todo o bem possa nos alcançar. O Espírito da Graça instrui as pessoas; o Espírito da oração intercede por nós. É maravilhoso como algo singular pode ser realizado de várias maneiras. Uma coisa é ter o Espírito Santo como Espírito de profecia, e outro ter a revelação do mesmo; porque muitos tiveram o Espírito Santo antes mesmo do nascimento de Cristo, mas Ele não foi lhes revelado. Nós não separamos o Espírito Santo da Fé; nem ensinamos que Ele é contra a fé; porque Ele é a certeza que nos faz seguros e certos da Palavra; de modo que, sem vacilar ou duvidar, nós certamente acreditamos que é assim, e que não difere da Palavra que foi entregue a nós. O Espírito Santo não é dado a ninguém sem a Palavra de Deus.

Maomé, o Papa, os papistas, os antinomianos e outros sectários não possuem certeza dessas coisas espirituais, pois eles não dependem da Palavra de Deus, mas da sua própria justiça. E quando eles realizam grandes obras, ainda assim eles sempre duvidam dizendo: “Quem sabe se isso que fizemos seja agradável a Deus ou não; ou se fizemos trabalhos suficientes ou não?” Eles pensam continuamente neles mesmos. Ainda somos indignos.

Mas um cristão justo e piedoso, no meio dessas dúvidas, se sente seguro em dizer: Não reconheço estas dúvidas; Não vejo nem a minha santidade e nem a minha indignidade, mas creio em Jesus Cristo, que é ao mesmo tempo Santo e Digno; e se eu sou santo ou profano, ainda tenho a certeza de que Cristo se entrega, com toda a sua santidade, para me salvar. De minha parte, sou um pobre pecador e tenho certeza da Palavra de Deus. Portanto, o Espírito Santo é o Único capaz de dizer: Jesus Cristo é o Senhor, o Espírito Santo ensina, prega e declara a Cristo.

O Espírito Santo vem primeiro no que diz a respeito do ensino; e a Palavra vem primeiro no que diz a respeito de ouvir. O Espírito Santo segue em diante. Porque primeiro precisamos ouvir a Palavra e depois o Espírito Santo opera em nossos corações; Ele trabalha nos corações de quem Ele quiser, desde que a Palavra esteja ali presente.

CCXLII.
O Espírito Santo começou seu trabalho abertamente no Domingo de Pentecostes, pois Ele deu aos apóstolos e discípulos de Cristo um conforto verdadeiro em seus corações, e uma tal coragem de modo que eles não se importavam se o mundo ou o diabo estavam alegres ou tristes, amigáveis ou opositores, zangados ou satisfeitos. Eles saíram com toda segurança pelas ruas da cidade e, sem dúvida, tiveram pensamentos semelhantes: Não reconhecemos Anás, Caifás, nem Pilatos e muito menos Herodes; eles são nossos súditos e servos, e nós seus senhores e governantes;

Assim foram os apóstolos amorosos, com toda a coragem, sem pedir permissão ou licença.

Eles não pediram permissão para os líderes sacerdotes se deveriam ou não pregar nas ruas. Não! Eles simplesmente continuaram, de uma maneira corajosa, abriram suas bocas livremente e reprovavam todos os povos, governantes e súditos, como assassinos, infelizes e traidores, que mataram o Príncipe da Vida.

E esse Espírito que era completamente necessário naquele tempo na vida dos apóstolos e discípulos, continua sendo necessário para agora, para nós: pois nossos adversários nos acusam de rebeldes e perturbadores da paz da Igreja. Qualquer que seja o mal que acontecer, eles dizem, que nós fizemos ou causamos. No papado, dizem eles, não havia mal antes desta doutrina chegar; agora temos todo tipo de dano, escassez, guerras e os turcos. Disto eles colocam toda a culpa em nossa pregação, e, se pudessem, nos acusariam de sermos a causa do diabo ter caído do céu; sim, diriam que nós havíamos crucificado e matado a Cristo também.

Portanto, os sermões do Espírito Santo são extremamente necessários para nos consolar e, com ousadia, condenar e desprezar as blasfêmias. E que o Espírito Santo possa colocar ousadia e coragem em nossos corações, para que possamos vigorosamente seguir adiante. Avante! Deixe que quem vai se ofender e quem vai nos censurar, e, embora, seitas e heresias surjam, podemos desconsiderá-los. Tal coragem deve haver perigos constantes, mas batalhemos livremente para pregar a Cristo que, de mãos perversas, foi crucificado e morto.

O Evangelho pregado se torna ofensivo, rejeitado e condenado em todos os lugares do mundo.

Se o Evangelho não ofendesse ou irritasse cidadãos, príncipes ou bispos, então seria uma pregação boa e aceitável, e poderia ser bem tolerada, e as pessoas ouviriam e receberiam de bom grado. Mas, visto que é um tipo de pregação que deixa as pessoas com raiva, especialmente os poderosos e intelectuais, é necessário de muita coragem, por meio do Espírito Santo, para aqueles que pretendem pregar.

Na verdade, foi a coragem destemida dos apóstolos, que eram simples pescadores, que fez com que todo o concílio em Jerusalém ouvisse suas pregações causando a ira de todo o governo, espiritual e temporal – sim, do próprio imperador romano. Verdadeiramente, isto não poderia ter sido feito sem a presença do Espírito Santo. Foi uma maravilha que o sumo sacerdote e mais o Pôncio Pilatos não fizessem com que esses pregadores fossem mortos naquela hora, pois eles pregavam contra a rebeldia do governo temporal e espiritual; no entanto, tanto o sumo sacerdote quanto Pilatos foram atingidos pelo medo devido ao poder de Deus na fraqueza dos apóstolos.

Assim é com a Igreja de Cristo: continua aparentando fraca; e ainda em sua fraqueza, há força e poder que surpreende todos os mundanos e poderosos fazendo-os sentir ameaça e medo.

CCXLIII.
É testificado pelas Sagradas Escrituras, e o Credo de Nicéia ensina que o Espírito Santo é aquele que torna vivo, e, junto com o Pai e o Filho, é adorado e glorificado.

Portanto, o Espírito Santo é Deus verdadeiro e eterno junto com o Pai e o Filho, em uma única essência. Pois se Ele não fosse o verdadeiro e eterno Deus, então não poderia ser atribuído a Ele o divino poder e honra que ele faz vivo, e junto com o Pai e o Filho é adorado e glorificado; Neste ponto, os Padres se impuseram poderosamente contra os hereges, sob a força das Sagradas Escrituras.

O Espírito Santo não carrega a mesma consolação que o mundo carrega, onde nem a verdade e nem a constância são. Mas Ele é verdadeiro, eterno e constante consolador, sem falsidades e mentiras; Ele é alguém que nenhum homem é capaz de enganar. Ele é chamado de testemunha, porque só dá testemunho de Cristo e de nenhum outro, somente de Cristo; sem o seu testemunho sobre Cristo, não haveria o verdadeiro consolo. Portanto, tudo se baseia nisso, que nos apegamos ao texto para dizermos: Eu creio em Jesus Cristo que morreu por mim; e sei que o Espírito Santo, chamado de Testemunha e Consolador, que não testemunha na cristandade de ninguém, mas somente de Cristo, fortalece e consola todos os corações tristes e desamparados. Ali também permanecerei, e não dependo de nenhum outro consolador a não ser o Espírito Santo. Nosso bendito Salvador, Jesus Cristo, ensina que o próprio Espírito Santo é Eterno e Todo-Poderoso. Caso contrário, Ele não teria dirigido sua comissão assim: Vá e ensine todas as nações, e batize-as em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, e ensine-as a guardar e a observar todas as coisas que Eu ordenei. Entenda que o Espírito Santo é Deus verdadeiro e eterno, igual em poder e glória do Pai e do Filho, para todo o sempre. Da mesma forma, Cristo disse: “E Eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; o Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós”. Aqui temos duas Pessoas – Cristo, o Filho, que ora e o Pai que recebe a oração. Agora, se o Pai fornece o Consolador, então o próprio Pai não pode ser este Consolador; nem Cristo, que ora, pode ser o mesmo; de modo que muito significativamente as três Pessoas estão aqui claramente retratadas para nós. Pois, assim como o Pai e o Filho são duas Pessoas distintas, também a terceira Pessoa, o Espírito Santo, é distinta, e, no entanto, todos são um só Deus eterno.

Agora, Cristo ensina o que é a terceira Pessoa (João, XV): “Mas, quando vier o Consolador, que Eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de verdade, que procede do Pai, Ele testificará de mim.”

Neste lugar, Cristo fala não apenas do ofício e obra do Espírito Santo, mas também de sua essência e substância. Ele diz: “que procede do Pai”; isto é, seu procedimento é sem começo e é eterno. Portanto, os santos profetas atribuem o título de “o Espírito do Senhor”.

 

Fonte: CRTA - Center for Reformed Theology and Apologetics - reformed.org
Tradução: Marcell de Oliveira

 


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