Categoria: Conversas à Mesa [Tischreden]
Imagem: Martinho Lutero (no centro) - eBiografia
Publicado: 24 de Fevereiro de 2023, Sexta Feira, 00h23
DCCLXXXIX.
Um advogado é sábio segundo a sabedoria humana, e um teólogo segundo a sabedoria de Deus.
DCCXC.
Ah! Quão amargo é o inimigo, o diabo, para nossa igreja e escola aqui em Wittenberg pelas quais ele se opõe em particular mais que o restante para aumentar a força da tirania e da heresia, visto que todos os membros da igreja estão uns contra os outros. Sim, nós que somos um pedaço do coração também nos aborrecemos e afligimos uns aos outros. Estou convencido de que muitos miseráveis e espiões estão aqui em nosso meio, que nos vigiam com mau-olhado e se alegram quando surgem discórdias e ofensas entre nós. Então devemos vigiar e orar constantemente. Já é hora de orar, ore! Esta escola é um alicerce e fundamento da religião pura, portanto ela deve ser preservada e mantida justamente com palestras e com estipêndios contra a fúria inchada de Satanás.
DCCXCI.
Se caso, após a minha morte, esta escola aqui em Wittenberg se permanecer como está agora, igreja e escola, e vier alguém para condenar a sua autoridade, saibam que esse alguém é uma criatura pervertida e herege. Pois foi nesta escola onde Deus revelou a sua Palavra. Esta escola e cidade, tanto em doutrina quando em modo de vida, podem ser comparadas com justiça a todas as outras. No entanto, não estamos totalmente completos, pois ainda há defeitos em nosso tipo de vida. Os mais importantes teólogos de todo o império se unem a nós – como Amsdorf, Brentius e Rhegius -, todos desejando nossa amizade e nos saudando com cartas amorosas e eruditas. A pouco tempo atrás, nada tinha valor além do papa, até que a igreja lamentou, chorou, suspirou e despertou nosso Senhor Deus no céu; como diz no Salmo: “Eu me levantarei para a angústia dos necessitados e para os gemidos dos pobres.”
DCCXCII.
Nossa nobreza esgota as pessoas com a sua usura de uma tal maneira que muitos necessitados passam fome por falta de comida. Há um clamor que tomaria de bom grado uma esposa, se caso soubesse como mantê-la; mas sairia em um celibato forçado. Isso não é bom. Tais condutas perversas farão os necessitados chorarem e suspirarem, o que poderá despertar Deus e seus anjos celestiais. Por isso que eu digo: Preste atenção, Alemanha! Costumo fazer contas e a medida que me aproximo dos quarenta anos, penso comigo mesmo: Agora vem uma alteração, pois São Paulo pregou não mais de quarenta anos, muito menos Santo Agostinho; sempre que a pessoa que passou dos quarenta anos pregando a Palavra pura de Deus, alguma calamidade acaba perseguindo-a.
DCCXCIII.
A dialética torna-se simples, direta e clara como quando eu digo: Dê-me algo para beber. Mas a retórica adorna o assunto dizendo: Dê-me do suco aceitável da adega que espuma finamente e faz as pessoas felizes. Dialética declara uma coisa distinta e significativamente com palavras breves. A retórica aconselha e adverte, convence e dissuade; ela tem a sua fonte de onde algo é tirado; como algo bom, honesto, proveitoso, fácil, necessário, etc. São Paulo ensinou brevemente essas duas artes onde diz: “Para que ele possa, pela sã doutrina, exortar e convencer os contraditores.” (Tit. 1). Então, se eu ensinasse um fazendeiro sobre o cultivo de sua terra, eu definiria brevemente e claramente o seu tipo de vida, suas tarefas domésticas, frutos, lucros, e tudo o que pertence na arte de ser fazendeiro, dialética. Mas se eu o ensino de acordo com a retórica, então eu o aconselho, advirto e elogio o seu tipo de vida dessa maneira: que é o tipo de vida mais tranquilo, rico, seguro, agradável, etc. Novamente, se eu pretendo repreender ou encontrar falhas, devo apontar e culpar sua má conduta, impedimentos malignos, falhas, ignorâncias grosseiras e defeitos semelhantes que estão no estado de fazendeiro. Philip Melancthon ilustrou e apresentou boas artes; ele os ensina de uma tal maneira que as artes em si não ensinam. Eu trago minhas artes para o livro e não as tiro dos livros. A dialética é uma arte proveitosa e necessária que deve ser estudada e aprendida justamente; ela mostra de como devemos falar de uma maneira ordenada e correta para reconhecer o que se deve julgar como certo ou errado. É necessário não apenas nas escolas, mas também nos consistórios, nos tribunais de justiça e nas igrejas; Principalmente nas igrejas.
DCCXCIV.
Sempre amei música. Quem tem habilidade nessa arte tem um bom temperamento adequado para todas as coisas. Devemos ensinar música nas escolas. Um mestre-escola deve ter habilidade musical, ou eu não o consideraria. Nem devemos ordenar jovens como pregadores, a menos que tenham sido bem exercitados na música.
DCCXCV.
Cantar não tem nada a ver com os assuntos deste mundo, não é obrigatório pela lei. Mas aqueles que cantam são felizes, livres de tristezas e preocupações.
DCCXCVI.
A música é uma das melhores artes, pois as notas dão vida ao texto que expulsa a melancolia como vemos no rei Saul. Reis e príncipes devem manter a música, pois grandes potentados e governantes devem proteger as boas artes e as boas leis; embora as pessoas privadas tenham desejo pela música e a amam, ainda assim a sua capacidade não é adequada. Lemos na Bíblia que os reis bons e piedosos mantinham e pagavam cantores. A música é o melhor consolo para uma mente triste, além de revigorar o coração e estabelecer novamente a paz.
Fonte: CRTA - Center for Reformed Theology and Apologetics - reformed.org
Tradução: Marcell de Oliveira
