Categoria: Conversas à Mesa [Tischreden]
Imagem: Martinho Lutero (no centro) - eBiografia
Publicado: 20 de Fevereiro de 2023, Segunda Feira, 10h26
DCCXXXI.
Em 10 de fevereiro de 1546, John, príncipe eleitor da Saxônia, disse: Uma controvérsia seria facilmente resolvida se ambos os lados exibirem algum acordo. Então Lutero disse: De boa vontade teríamos concórdia, mas ninguém busca o meio da concórdia que é a tolerância. Buscamos riquezas, mas ninguém busca os meios corretos para enriquecer, ou seja, através das bênçãos de Deus. Todos nós desejamos ser salvos, mas o mundo recusa o significado de como ser salvo – o Cristo Mediador.
Antigamente, os príncipes e potentados encaminhavam suas controvérsias a pessoas fieis, e não as deixavam tão facilmente nas mãos de advogados. Quando as pessoas desejam se reconciliar e chegar a um acordo, uma das partes deve ceder à outra. Se Deus e a humanidade devem ser reconciliados, então Deus poderá desistir de seus direitos e justiças e deixar de lado a sua ira; e nós, a humanidade, também devemos abrir mão da nossa própria justiça, pois precisaríamos ser deuses no Paraíso; Nós nos julgamos sábios como Deus devido a sedução da serpente; então Cristo quis fazer um acordo conosco; ele se interpôs na causa sendo um mediador entre Deus e o homem; esse Mediador por suas dores obteve a porção de um pacificador, ou seja, a cruz; aquele que separa dois lutadores geralmente recebe os golpes mais fortes para si mesmo. Mesmo assim Cristo sofreu e nos presenteou com sua paixão e morte; Ele morreu por nossa causa. E por causa da nossa justificação, Ele ressuscitou. Assim, a geração da humanidade se reconciliou com Deus.
DCCXXXII.
Quando duas cabras se encontram em uma ponte estreita sobre águas profundas, como elas se comportariam? Nenhuma delas consegue voltar atrás ou passar uma pelo outra devido a ponte ser realmente muito estreita; se caso elas se empurrassem, ambas cairão na água e se afogarão; então a natureza as ensinou que se uma deitar-se e permitir que a outra passe por cima dela, daí ambas permaneceriam sem dano. Da mesma maneira, as pessoas devem tolerar as pisadas recebidas do que entrar em uma discórdia umas com as outras.
DCCXXXIII.
Um cristão, pela pessoa que ele é, não amaldiçoa e nem se vinga; mas a fé pode causar maldição e vingança. Para entender isso corretamente devemos distinguir Deus e o homem, a pessoa e a causa. No que diz respeito a Deus e sua causa, não devemos ser pacientes e nem abençoar; como, por exemplo, quando os ímpios perseguem o Evangelho acaba acertando em Deus e na sua causa, então não devemos abençoar ou desejar um bom sucesso e sim amaldiçoar os perseguidores e suas obras. É o que chamamos de maldição da fé, onde, em vez de permitir que a Palavra de Deus seja esmagada e mergulhada em heresia, faremos com que todas as criaturas sejam destruídas; pois por meio da heresia podemos perder o próprio Deus, Números XVI. Mas os indivíduos não devem se vingar pessoalmente, e sim sofrer todas as coisas de acordo com a doutrina de Cristo e a natureza do amor, ou seja, fazer o bem a seus inimigos.
Fonte: CRTA - Center for Reformed Theology and Apologetics - reformed.org
Tradução: Marcell de Oliveira