Categoria: Conversas à Mesa [Tischreden]
Imagem: Martinho Lutero (no centro) - eBiografia
Publicado: 24 de Fevereiro de 2023, Sexta Feira, 14h18
DCCXCVII.
A Astronomia é a ciência mais antiga de todas e tem se apresentado por meio de um vasto conhecimento. Os hebreus conheciam essa ciência muito bem, pois eles observavam diligentemente o curso dos céus como mostra Deus dizendo a Abraão: “Olhai para os céus e tente contar as estrelas. Consegues?” etc. As movimentações dos céus podem ser observadas em três etapas. A primeira é que todo o firmamento se move rapidamente, e cada milhares de ligas é feita por algum anjo. É maravilhoso uma imensidão que se altera em tão curto tempo. Se o sol era composto por ferro, aço, prata ou ouro, então eles teriam derretido muito rapidamente visto que uma estrela é maior que toda a terra com uma quantidade incontável. A segunda etapa são os planetas que possuem cada um os seus movimentos em particular. A terceira é um movimento trêmulo ou agitado que foi recentemente descoberto, mas ainda é incerto. Eu gosto da ciência astronômica e da matemática, pois dependem de manifestações e provas seguras. Quanto à astrologia, não possui valor algum.
DCCXCVIII.
A Astronomia lida com assuntos de uma maneira geral e não com uma metodologia única. O próprio Deus, sendo Mestre e Criador, estava sozinho quando ordenou as estrelas para enviar sinais. E enquanto a Astronomia permanecer em seu círculo onde Deus a ordenou, então ela é um presente verdadeiro de Deus. Mas se caso a Astronomia sair de seus limites, ou seja, quando passar a profetizar coisas futuras, da boa ou da má sorte que a pessoa terá, então ela não deve ser justificada. Devemos rejeitar completamente a quiromancia. Nas estrelas não existem nenhuma força ou operação, apenas sinais que causam um incômodo aos astrólogos que atribuem a elas o que não existem. Os astrólogos geralmente atribuem determinadas coisas as estrelas e também aos planetas, e anunciam apenas eventos malignos, com exceção daquela estrela que apareceu para os sábios no Oriente revelando que o Evangelho já estava na porta.
No ano de 1538, Seigneur von Minckwitz fez um discurso público em homenagem a astrologia onde ele procurou prova-la através da sentença em Jeremias cap. X: “Não fique consternado com os sinais do céu”. Lutero então disse: Essas passagens podem ser questionadas, mas não rejeitadas. Jeremias fala sobre as ações de Moisés diante dos sinais do céu, da terra e do mar. Os pagãos não eram tão bobos para temer o sol e a lua, mas temiam e adoravam prodígios e sinais milagrosos. Astrologia não é arte. Não tem princípio e nem demonstração, então não podemos confiar em algo que não possui apoio nenhum. Tudo não passa de um trabalho aleatório. Philip Melancthon, mesmo contra a sua vontade, admite que essa arte existe, mas ninguém a entende corretamente. Eles criaram em seus almanaques que não teremos neve no verão, e nem trovões no inverno. Os astrólogos são os palhaços regionais. Philip Melancthon tinha dito que as pessoas ascendentes de Libras em direção ao sul são pessoas infelizes. Então eu disse: Os astrólogos são tolos para sonhar que suas cruzes e contratempos não procedem de Deus, mas das estrelas. É por isso que eles não são pacientes com seus problemas e adversidades. Astrologia é incerta que simula palavras na dialética, da mesma maneira foi com a Astronomia que simulou a astrologia. Assim como os antigos teólogos que não sabiam nada das fantasias ensinadas pelos professores nas escolas, da mesma maneira também os astrônomos antigos não sabiam nada de astrologia. As natividades de Cícero e de outros me foram mostradas. Então eu disse: Eu não defendo nada disso, nem atribuo nada a eles. Mas eu gostaria que os astrólogos me respondessem: Esaú e Jacó nasceram juntos e ao mesmo tempo, de iguais astros, mas eram totalmente de naturezas contrárias, condutas e mentalidades. O que é feito por Deus não deve ser atribuído às estrelas. A verdadeira religião cristã se opõe e refuta todas essas fábulas. A maneira de fundir a natividade é como os procedimentos no papado, cujas cerimônias e ordenanças pomposas são agradáveis à inteligência humana, como a água consagrada, as tochas, os órgãos, os cantos, os toques, mas que não há conhecimento verdadeiro. Um astrólogo, ou trapaceiro de horóscopo, é como aquele que vende através do jogo de dados e aos berros fica dizendo: eis que aqui eu tenho dados que sempre caem no doze. Se uma ou duas vezes suas conjecturas dizem, então elas não poderão exaltar suficientemente a arte. Mas enquanto aos infinitos casos onde falham, eles ficam em silêncio. Pelo contrário, a Astronomia eu gosto muito. Seus múltiplos benefícios têm me agradado consideravelmente.
Geralmente as profecias declaram sobre o que acontecerá no futuro de uma maneira geral, e não de uma maneira individual ou particular.
Quando há muitos mortos numa mesma batalha, nenhum homem pode afirmar que todos nasceram sob um mesmo astro e que morreram em um momento específico e único.
DCCXCIX.
Deus nomeou o fim para todas as coisas, pois, caso contrário, a Babilônia poderia ter dito: Vou permanecer e continuar. E também Roma: Para mim, o governo e as leis jamais cessarão. Alexandre e outros imperadores que conquistaram impérios e reinos, nenhuma astrologia mostrou que esses grandes reinos seriam levantados e nem quanto tempo durariam.
A astrologia é enquadrada pelo diabo com o propósito de fazer com que as pessoas temam em entrar no estado de matrimônio e de todos os cargos e chamados espirituais e materiais. Para os observadores de estrelas, não se prendam em nada fora dos planetas. Os astrólogos cercam as consciências das pessoas em relação aos infortúnios futuros, visto que não reconhecem que tudo isso está nas mãos de Deus. Esses pensamentos astrológicos, maliciosos e inúteis perturbam e atormentam por toda a vida.
Um grande mal é realizado às criaturas de Deus por esses astrólogos. Deus criou e posicionou cada uma das estrelas no firmamento com o propósito de dar luz aos reinos da terra, deixar as pessoas contentes no Senhor e serem bons sinais de anos e estações. Mas esses astrólogos inventam que tais astros, que foram criados por Deus, só escurecem e incomodam a terra. Porém toda a criação de Deus é boa, e todas as coisas foram criadas apenas para o bem, embora a humanidade as torne mal, abusando-as. De fato, os eclipses são extraordinários que surgem de uma forma estranha para nós. Mas, acreditar nas estrelas com toda a sua confiança ou tratando-as como uma ameaça de desajeitado, é idolatria e fere o primeiro mandamento.
Fonte: CRTA - Center for Reformed Theology and Apologetics - reformed.org
Tradução: Marcell de Oliveira