[RILTON FILHO] A DETRAÇÃO É O EMPODERAMENTO DO EGO


Categoria: Coluna
Imagem: Google Images
Publicado: 28 de Fevereiro de 2018, Quarta Feira, 16h11

Por: RILTON FILHO (foto)

Estamos em estado de inercia em algumas podridões da personalidade. É comum e traiçoeira a maneira de como essas podridões se escondem das nossas percepções que, aliás, é incomum ver a multiplicação das autocríticas que, talvez, seria um dos caminhos para o combate direto e minucioso das nossas mazelas. A falta do exercício contínuo para se ter uma vida virtuosa gera lacunas para a demonstração de uma vida podre. A detração viciosa, incontrolável e repetitiva, seria uma dessas misérias que uma vida podre contém. Faz parte do combo.

A detração de maneira especial consegue demonstrar a olho nu a nudez de quem detrata. Apontar e detectar o fracasso do outro gera um riso sarcástico e egoísta, que são acompanhados de pensamentos infelizes: “Sou melhor que ele”; “Eu não faço isso”; Quando essas frases tornam-se repetitivas na vida do individuo, saiba: esse (eu) é um detrator. Embora a relatividade possa colocar a detração na lista das virtudes, como sempre faz, levando as razões das coisas para extremos opostos, quero centralizar a razão da detração onde ela realmente está: no ego. O ego é o local onde o detrator saboreia e lambuza a sua vitória, pois, sem perceber, a atitude egoísta de lisonjear-se do outro, forma um clima de guerra de sobrevivência, que afinal, uma das alternativas de quem se sente ameaçada é falar mal do outro, de modo que as próprias podridões sejam ignoradas diante da podridão do outro. Com isso, o ego empoderado causa satisfação no fofoqueiro.

Quem sofre a fofoca precisa fazer pelos menos duas coisas. Primeiro: acalmar o coração, ouvir, e realmente testificar ou não da veracidade da fofoca, que, aliás, na maioria das vezes, são mentiras bem elaboradas, pois o homem é a única espécie que consegue falar de coisas que nunca viu, nunca tocou e nunca cheirou. A segunda coisa precisa ser feita no ato da primeira. A máxima Socrática “Conhece a ti mesmo” serve para credibilizar a fofoca ou não. Pois quem se conhece, não é derrotado por fofocas.

Yuval Harari, historiador que escreveu um dos livros mais lidos neste ano, chamado: Uma breve história da humanidade – Sapiens, percebeu que a fofoca influenciou as formas mais remotas da humanidade, isto é, a “Revolução Cognitiva”. Ele afirma que “não é suficiente que homens e mulheres conheçam o paradeiro de leões e bisões. É muito mais importante para eles saber quem em seu bando odeia quem, quem está dormindo com quem, quem é honesto e quem é trapaceiro”. Porém, embora a fofoca cause uma boa sensação em quem está falando, Yuval Harari percebeu o ônus da mesma. Ele diz: “Após a Revolução Cognitiva, a fofoca ajudou o Homo sapiens a formar bandos maiores e mais estáveis. Mas até mesmo a fofoca tem seus limites. Pesquisas sociológicas demonstraram que o tamanho máximo “natural” de um grupo unido por fofoca é de cerca de 150 indivíduos. A maioria das pessoas não consegue nem conhecer intimamente, nem fofocar efetivamente sobre mais de 150 seres humanos”. Quem ama, gosta e faz fofoca, tem pelo menos 150 amigos… Ou 150 fofoqueiros?


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