Categoria: Biografias
Imagem: Rousas Rushdoony - Teologia Brasileira
Publicado: 26 de Maio de 2017, Sábado, 02h48
Rousas John Rushdoony (25 de abril de 1916 – 8 de fevereiro de 2001) foi um filósofo calvinista, historiador, teólogo e é amplamente considerado o pai do Reconstrucionismo Cristão, sendo uma inspiração para o moderno movimento Homeschool cristão.
Biografia
Rushdoony é filho de imigrantes armênios e nasceu em Nova York. Antes de seus pais fugirem do genocídio armênio ocorrido em 1915, seus antepassados tinham vivido em uma área remota perto do Monte Ararat. Há alegações que desde o ano 320, cada geração da família Rushdoony produziu pelo menos um sacerdote ou ministro cristão. O próprio Rushdoony afirmou que seus antepassados “… sempre davam um membro da família para ser um sacerdote para executar uma espécie de sacerdócio aarônico como no Antigo Testamento, um sacerdócio hereditário. Quem sentia um chamado especial na família, se tornaria o sacerdote. E a nossa família tinha feito isso. Sendo assim, desde o início dos anos 300 até agora, sempre houve alguém da família liderando algum ministério.” Poucas semanas depois de chegarem na América, seus pais se mudaram para Kingsburg, Califórnia, onde seu pai, Yegheazar Khachig Rushdoony fundou uma igreja presbiteriana de língua armênia. Seu pai também era pastor de uma igreja em Detroit no ano de 1930, embora Rushdoony tenha crescido na fazenda da família em Kingsburg, condado de Fresno, Califórnia. Registros de um documento da Segunda Guerra Mundial de um determinado diretório da cidade, afirmam que seu pai era pastor da Igreja Presbiteriana Armênia de Bethel, em São Francisco no ano de 1942, embora tenha morrido em Fresno no ano de 1961.
Educação
Rushdoony frequentava escolas públicas de onde aprendeu o inglês e, em seguida, entrou na Universidade da Califórnia, Berkeley, onde recebeu o diploma de B. A. em inglês no ano de 1938 e passou a ter licença para ensinar no ano de 1939 alcançando o magistério em 1940. Rousas se casou com Arda Gent uma semana antes do Natal, em 1943.
Rushdoony também frequentou a Escola de Religião do Pacífico, um seminário Congregacional e Metodista em Berkeley, Califórnia, onde se formou em 1944, no mesmo ano em que foi ordenado pela Igreja Presbiteriana nos EUA.
Mais tarde, Rousas conquistou seu Ph.D no Valley Christian University por seu livro, A Filosofia do Currículo Cristão.
Ministério
Durante 8 anos e meio, Rushdoony e sua esposa serviram como missionários aos indianos do Shoshone e do Paiute na reserva indiana do Duke Valley em uma área remota de Nevada. E foi durante essa missão que Rushdoony começou a escrever no ano de 1953, então ele deixou o Duke Valley e tornou-se um pastor da Igreja Presbiteriana em Santa Cruz, Califórnia.
Em Santa Cruz, Rushdoony também se tornou um revisor da revista cristã libertária Fé e Liberdade, onde defendeu um “modelo econômico anti-imposto, não-intervencionista, anti-estatista” em oposição ao New Deal de Franklin D. Roosevelt. As opiniões da revista sobre o governo alinhadas com Rushdoony temem o poder do governo centralizado, apresentando as memórias da família Rushdoony no genocídio armênio. Rushdoony contribuiu com seus artigos sobre a reserva indígena Duck Valley, argumentando que o apoio do governo havia reduzido os moradores a “irresponsabilidade social e pessoal”.
No ano de 1957, Rushdoony e Arda se divorciaram. Nessa época, Rushdoony transferiu sua condição de membro da Igreja Presbiteriana (EUA) para a Presbiteriana Ortodoxa. O boletim informativo da Igreja Presbiteriana Ortodoxa, The Presbyterian Guardian, relatou em julho de 1958 que “o Rev. Rousas J. Rushdoony… foi recebido em uma nova Igreja Presbiteriana Ortodoxa constituída por várias pessoas que se separaram da Igreja Presbiteriana de Santa Cruz”.
Vida Posterior
A edição de maio de 1962 de The Presbyterian Guardian relatou a renúncia de Rushdoony, informando que Rushdoony estava consagrando seu tempo para os seus escritos e conferências. Nesse mesmo ano, Rushdoony se casou com sua segunda esposa, Dorothy Barbara Ross Kirkwood Rushdoony, mas faleceu no ano de 2003.
Rushdoony mudou-se para Los Angeles no ano de 1965, e fundou a Chalcedon Foundation; o relatório mensal da Fundação que Rushdoony passou a editar entrou em vigor em outubro do mesmo ano. Mais tarde, sua filha, Sharon, casou-se com Gary North, um escritor reconstrucionista cristão e historiador econômico. North e Rushdoony tornaram-se colaboradores, mas esta parceria durou até 1981 devido a um conflito sobre o conteúdo de um dos artigos de North. Durante esta disputa, North continuava escrevendo para a Fundação, e seu ponto de vista passou a ser independente até chegar a uma “trégua” no ano de 1995.
Sob a liderança de Rushdoony, a Chalcedon Fundation cresceu para doze funcionários com 25 á 40 mil pessoas em suas listas de correspondências durante a década de 1980. A Chalcedon Fundation com o seu Reconstrucionismo obteve o apoio de grandes editores de livros cristãos com influentes líderes evangélicos, incluinod Pat Robertson, Jerry Falwell e Frank Schaeffer (que mais tarde repudiou o movimento).
Rousas Rushdoony morreu no ano de 2001 ao lado de seus filhos que o acompanhavam. O Rev. Mark R. Rushdoony, filho de Rousas, tornou-se presidente da Chalcedon Foundation e editor de notícias da Fundação. Gary North afirma que Rushdoony lia pelo menos um livro por dia, seis dias por semana, durante cinquenta anos de sua vida; sublinhando frases, e fazendo inúmeras anotações de suas ideias na parte de trás dos seus livros.
Contribuições Filosóficas e Teológicas
Michael J. McVicar resumiu a teologia e filosofia de Rushdoony da seguinte maneira:
Como teólogo, Rushdoony via nos seres humanos como criaturas, principalmente religiosas, vinculadas a Deus, e não como pensadores autônomos racionais. Embora isso possa parecer um ponto teológico esotérico, não é. Toda a influência de Rushdoony relacionada à direita cristã decorre desse fato único e essencial. Muitos críticos do Reconstrucionismo Cristão alegam que a contribuição original de Rushdoony à direita cristã era seu foco na teocracia. De fato, a principal inovação de Rushdoony foi o seu esforço em popularizar uma visão pré-iluminista e medieval de um mundo centrado em Deus. Ao enfatizar a habilidade humana em raciocinar independentemente de Deus, Rushdoony atacou os pressupostos que a maioria de nós aceitamos sem críticas.
Rushdoony desenvolveu sua filosofia como extensão do trabalho do filósofo calvinista Cornélius Van Til. Van Til criticou o conhecimento humano à luz da doutrina calvinista da depravação total. Ele argumentava que o pecado afetou a capacidade de uma pessoa em raciocinar. Para ser racional, Van Til afirmava que era preciso pressupor a existência de Deus e a inspiração inerrante e divina da Bíblia. Rushdoony observou às implicações – onde Van Til sustentou que o verdadeiro conhecimento vem de Deus, e Rushdoony afirmou que “todo o conhecimento não-cristão é pecaminoso e inválido”. E que o único conhecimento válido que os não-cristãos possuem é “roubado” das fontes “cristãs-teístas”. Com efeito, Rushdoony estendeu o pensamento de Van Til da filosofia para “toda a vida e o pensamento”.
Primeiros Escritos
Rushdoony começou a popularizar as obras dos filósofos calvinistas Cornelius Van Til e Herman Dooyeweerd numa breve pesquisa sobre o humanismo contemporâneo chamado “By What Standard?”. Através de um sistema de pensamento calvinista, Rushdoony tratou de assuntos tão amplos quanto a epistemologia e a metafísica cognitiva, e tão estreitos quanto a psicologia da religião e da predestinação. Ele escreveu um livro, “The One and The Many: Studies in the Philosophy of Order and Ultimacy”, usando a filosofia pressuposicional de Van Til criticando vários aspectos do humanismo secular. Ele também escreveu muitos ensaios e resenhas de livros, que chegaram a ser publicados em Westminster Theological Journal.
Educação Escolar em Casa (Homeschooling)
No início dos anos 1960, Rushdoony foi um ativista do movimento homeschooling, aparecendo como um testemunho perito, a fim de defender os direitos dos estudantes de casa.
Rushdoony focou muito na educação, especialmente em nome da homeschooling, onde viu uma forma de combater a natureza secular do sistema de ensino público dos EUA. Ele atacou vigorosamente os reformadores da escola progressista como Horace Mann e John Dewey, e defendeu o desmantelamento da influência do estado sobre a educação em três obras: Schizophreina Intelectual (um estudo geral e conciso da educação), O Caráter Messiânico da Educação Americana (uma história e castigo da educação pública nos EUA), e A Filosofia do Currículo Cristão (uma declaração pedagógica orientada para os pais).
História
Rushdoony buscou a história do mundo, dos EUA e da Igreja, e sustentou que o Cristianismo Calvinista forneceu as raízes intelectuais para a Revolução Americana, e que teve um impacto influente na história americana. A Revolução Americana, de acordo com Rushdoony, era uma “contra-revolução conservadora” para preservar as liberdades americanas da usurpação britânica e não devia nada ao Iluminismo. Ele ainda argumentava que a Constituição dos EUA era um documento secular apenas na aparência; não precisava estabelecer o Cristianismo como uma religião oficial, pois os estados já eram estabelecimentos cristãos. Com base no trabalho do teólogo Robert Lewis Dabney, Rushdoony argumentava que a Guerra Civil Americana “destruiu a antiga República Americana, que ele imaginava ser um sistema feudal protestante descentralizado, e uma nação cristã ortodoxa”. Rushdoony viu a vitória do Norte como uma “derrota para a Ortodoxia Cristã”. Alguns historiadores alegam que este aspecto do pensamento de Rushdoony influenciou alguns ativistas do movimento Neo-Confederado e escritores conservadores como J. Steven Wilkins. Ele aprofundaria esse estudo em seus trabalhos sobre a ideologia e a historiografia americanas, “This Independent Republic: Studies in the Nature and Meaning of American History” e “The Nature of the American System”. Sobre a questão do lugar de Israel na história, o sujeito acreditava que o profeta Daniel “deixa claro que Deus passou pelo Seu povo eleito em favor de quatro grandes monarcas… e então convocou uma Quinta Monarquia que de modo algum é identificada com Israel”.
Reconstrucionismo Cristão
A área mais importante da escrita de Rushdoony era sobre a lei e a política, como expressa no seu livro de ensaios populares Law & Liberty, que é discutido em maiores detalhes em sua obra Magnum Opus de três volumes com 1894 páginas, The Institutes of Biblical Law. Com um título inspirado nos Institutos da Religião Cristã de Calvino, os Institutos de Rushdoony eram o seu trabalho mais influente. No livro, ele propôs que a lei do Antigo Testamento deveria ser aplicada à sociedade moderna, e que deveria haver uma teonomia cristã, um conceito desenvolvido no polêmico livro de Greg Bahnsen, Theonomy in Christian Ethics, que Rushdoony endossou corajosamente. Nos Institutos, Rushdoony apoiou o restabelecimento das sanções penais da Lei Mosaica. Sob tal sistema, a lista de crimes civis que levavam a uma sentença de morte incluiria a homossexualidade, o adultério, o incesto, mentir sobre a virgindade, a bestialidade, a feitiçaria, a idolatria ou a apostasia, a blasfêmia pública, a falsa profecia, o seqüestro, a violação e o falso testemunho em um caso de capital. Embora apoiasse a separação da Igreja e do Estado no nível nacional, Rushdoony igualmente acreditava que ambas as instituições estavam sob o governo de Deus, e assim concebeu o laicismo como intermináveis dicotomias falsas, que seu trabalho detalhado considerava. Em suma, ele procurou lançar uma visão para a reconstrução da sociedade baseada em princípios cristãos. O livro era uma crítica à democracia. Ele escreveu que “a heresia da democracia tem desde então causado estragos na igreja e no estado… o Cristianismo e a democracia são inevitavelmente inimigos” porque a democracia afirma a vontade do homem sobre a vontade de Deus.
Rushdoony acreditava que uma república é uma melhor forma de governo civil do que uma democracia. De acordo com Rushdoony, uma república evita a regra da multidão e a regra dos “51%” da sociedade; em outras palavras, “o poder não faz justiça” em uma república. Rushdoony escreveu que a separação dos poderes da América em 3 ramos de governo é um método muito mais neutro e melhor de governo civil do que uma democracia direta, afirmando que “a Constituição [Americana] foi concebida para perpetuar uma ordem cristã”. Rushdoony argumentava que o propósito da Constituição era proteger a religião do governo federal e preservar “os direitos dos Estados”.
O trabalho de Rushdoony tem sido usado por defensores da Teologia de Domínio que tentam implementar um governo cristão sujeito à lei Bíblica nos EUA. A autoridade, os limites comportamentais, a economia, a penologia e similares seriam todos governados pelos princípios bíblicos na visão de Rushdoony, mas ele também propôs um amplo sistema de liberdade, especialmente na esfera econômica, e reivindicou Ludwig von Mises como mentor intelectual; ele é conhecido como um libertário cristão.
Rushdoony fundou a Chalcedon Foudation no ano de 1965, e tornou-se editor de sua revista mensal, o Chalcedon Report. Ele também publicava o Journal of Christian Reconstruction e foi um dos primeiros membros do Rutherford Institute, fundado por John W. Whitehead em 1982.
Em 1972, Cornelius Van Til renunciou à filiação com Rushdoony e o movimento cristão reconstrucionista, escrevendo: “… francamente, estou um pouco preocupado com as opiniões políticas de Rushdoony e North em relação à aplicação dos princípios do Velho Testamento aos nossos dias. Meu único ponto é que eu espero que eles não aleguem que tais pontos de vista sejam inerentes aos princípios que mantenho”.
Crítica
Rushdoony era, e ainda é, uma figura controversa, como é o movimento reconstrucionista cristão em que foi envolvido. Referindo-se ao seu apoio à pena de morte, o Centro Britânico de Educação em Ciências denunciou a aversão de Rusdoony à democracia e à tolerância. Além disso, Rushdoony foi acusado de negação do Holocausto e de racismo. De acordo com Frank Schaeffer, Rushdoony acreditava que o casamento inter-racial, que ele chamava de “união desigual”, deveria ser ilegal. Ele também se opôs à “integração forçada” e referiu à escravidão do sul como “benevolente”, e disse que “algumas pessoas são por natureza escravas”. Kerwin Lee Klein, entretanto, argumentava que Rushdoony não era um “racialista biológico” e que para ele, “o racismo fundado na biologia moderna simplesmente representava outro avivamento pagão”.
No The Institutes of Biblical Laws, em 1967, ele menciona o trabalho sobre Judaísmo e o Vaticano de Léon de Poncins como uma fonte para a figura de Paul Rassinier que fala sobre os 1,2 milhão de judeus mortos durante o Holocausto, e a alegação de que Paul Hilberg calculou o número de 896.292 judeus, e a maioria foram mortos devido as epidemias. Ele acusa de “testemunhas falsas” contra a Alemanha sobre a morte de 6 milhões de judeus. No ano 2000, Rushdoony declarou a respeito dessa passagem em seus Institutos: “Não era meu propósito entrar em debate sobre números, se milhões foram mortos, ou dezenas de milhões, essa é uma área que deve ser deixada para outros com experiência nessas questões. Mas, em todos esses assuntos, o que o nono mandamento exige é a verdade, não o exagero, independentemente da causa que se procura servir.” Carl R. Trueman, professor de Teologia Histórica e História da Igreja no Seminário Teológico de Westminster, escreveu em 2009 sobre a passagem e a negação do Holocausto de Rushdoony:
Suas fontes são atrozes, de segunda mão e não verificadas; que ele ocupou em seus volumes sobre essa terrível incompetência como historiador, e só se pode especular sobre essa o por que ele ocupou esta posição através de uma perspectiva moral… Ele lidava com questões sobre o nono testamento e, ironicamente, o violava quando o apresentava em seus assuntos.
Obras Selecionadas
— The Institutes of Biblical Law.
— (1959). By What Standard?: An Analysis of the Philosophy of Cornelius Van Til. Presbyterian and Reformed Pub. Co.
— Opitz, Edmund A. (1961). Intellectual Schizophrenia: Culture, Crisis, and Education. Philadelphia: Presbyterian and Reformed Pub. Co.
— (1963). The Messianic Character of American Education. Nutley, NJ: Craig Press.
— (1964). This Independent Republic: Studies in the Nature and Meaning of American History. Nutley, NJ: Craig Press.
— (1965). The Nature of the American System. Nutley, NJ: Craig Press.
— (1967). The Mythology of Science. Nutley, NJ: Craig Press.
— (1968). The Foundations of Social Order: Studies in the Creeds and Councils of the Early Church. Nutley, NJ: Presbyterian and Reformed Pub. Co.
— (1969). The Biblical Philosophy of History. Nutley, NJ: Presbyterian and Reformed Pub. Co.
— (1970). Thy Kingdom Come. Fairfax, VA: Thoburn Press.
— (1970). Politics of Guilt & Pity. Nutley, NJ: Craig Press.
— (1971). The One And The Many: Studies in The Philosophy of Order and Ultimacy. Nutley, NJ: Craig Press.
— (1975). The Word of Flux. Fairfax, VA: Thoburn Press.
— (1977). God’s Plan for Victory. Fairfax, VA: Thoburn Press.
— (1981). The Philosophy of the Christian Curriculum (reprint ed.). Ross House Books. ISBN 9789991974613.
— (1984). Law & Liberty. Vallecito, California: Ross House Books.
— (1986). Christianity and the State. Vallecito, California: Ross House Books.
— (1991). The Roots of Reconstruction. Vallecito, California: Ross House Books.
Fonte: Wikipédia (inglês) / Tradução: Marcell de Oliveira