GORDON HADDON CLARK (1902-1985)


Categoria: Biografias
Imagem: Gordon Haddon Clark - Google Images
Publicado: 02 de Janeiro de 2016, Sábado, 15h22

O Agostinho da América

Por John W. Robbins

No início da manhã de 9 de Abril, Gordon Clark entrou no Paraíso. Sua partida deste mundo foi quieta — ele morreu em casa, em seu sono, após uma enfermidade e hospitalização por diversas semanas. Não houve nenhum funeral elaborado; nada teria sido mais característico para esse despretensioso professor. Seu corpo foi enterrado perto de Westcliffe, Colorado, na montanha Sangre de Cristo, das Montanhas Rochosas. Um lugar mais apropriado seria difícil de imaginar, pois foi no sangue de Cristo que Clark confiou para a sua salvação.

Sua morte veio na culminação de uma longa e distinta carreira de ensino e escrita. Nascido na Filadélfia, em 1902, Clark foi o autor de mais de 30 livros publicados no tempo de sua morte, e diversos manuscritos ainda permanecem não publicados. Seu compêndio sobre Lógica, para escolas e faculdades cristãs, será lançado em Maio, e um comentário sobre Efésios está agendado para lançamento no próximo verão. Ele gastou alguns dos seus últimos dias no hospital corrigindo as provas de Efésios com a ajuda de uma das suas duas filhas.

Durante sua carreira, Clark ensinou na Universidade da Pensilvânia, da qual ele recebeu seu doutorado em filosofia em 1929; no Wheaton College; no Seminário Reformado Episcopal; na Universidade Butler, onde ele foi Presidente do Departamento de Filosofia por 28 anos; no Covenant College; e finalmente no Seminário Sangre de Cristo, no Colorado. Sua carreira de ensino transpôs quase 60 anos, de 1927 a 1984, e a marca que ele deixou na teologia cristã nunca será apagada.

Alguns podem pensar ser um exagero se referir a Clark como o Agostinho da América, mas aqueles que estudaram as suas obras não pensarão. Não somente ele considerou a si mesmo um Agostiniano (ele repetida e modestamente enfatizava que ele estava simplesmente reafirmando, refinando e desenvolvendo os insights que Agostinho tinha originado), mas ele foi igual ao doutor africano em profundidade de conhecimento, e suas contribuições para a teologia e filosofia são tanto originais como brilhantes. Não muitas histórias da filosofia foram escritas por cristãos neste século. Thales to Dewey de Clark está disponível em versão impressa desde 1957 e é um texto de faculdade padrão. Ele é um modelo de clareza e estilo literário filosófico. Um dos seus textos mais antigos sobre filosofia helenística está disponível em versão impressa por quarenta e cinco anos – ninguém jamais publicou algo digno para substituí-lo. A Christian View of Men and Things [Uma Visão Cristã dos Homens e das Coisas] — um esboço de Clark da sua filosofia — tornou-se um clássico contemporâneo. Nenhum cristão desde Agostinho, exceto Clark, tentou o que Clark realizou com destreza em Historiography, Secular and Religious [Historiografia, Secular e Religiosa]. No tempo de sua morte, Clark tinha acabado de completar um manuscrito sobre a Encarnação, parte de sua principal série de livros sobre teologia sistemática, o primeiro a ser escritor por um calvinista americano nesse século. À medida que suas obras restantes forem publicadas e uma nova geração de cristãos se tornar familiar com o seu pensamento, eles também concordarão que ele foi deveras o Agostinho da América.

Tal reconhecimento não veio em seu tempo de vida. Ele não ocupou uma presidência numa universidade prestigiosa, todavia, nenhum cristão no século vinte teria sido mais qualificado para tal. Mas a ausência de reconhecimento acadêmico apropriado foi somente parte da história; a presença da hostilidade eclesiástica foi outra. Algumas das mais fortes oposições a Clark se levantarem em instituições presumidamente cristãs. Em 1943 ele deixou a faculdade do Wheaton College por causa da antipatia da Faculdade para com o Cristianismo Reformado. Em 1944, uma facção dentro da Igreja Presbiteriana Ortodoxa, centralizada na faculdade do Seminário Teológico de Westminster, tentou remover Clark numa campanha que durou anos e que finalmente fracassou, mas não antes de fazer um dano irreparável à igreja. Ironicamente, Clark ajudou J. Gresham Machen a organizar a Igreja Presbiteriana Ortodoxa em meados de 1930.

Foi a desgraça de Clark viver num século no qual o conhecimento cristão estava em declínio, a despeito — ou talvez por causa de — dos inúmeros livros sendo publicados por editoras religiosas. Enquanto ele viveu, Clark foi difamado como um racionalista, um panteísta, e um idealista absoluto por homens que tanto entenderam equivocadamente o que Clark escreveu como foram ofendidos por sua defesa intransigente da verdade. Um filósofo por educação e profissão, e um teólogo por preferência, Clark foi rodeado por críticos ignorantes de filosofia e heréticos em teologia. Ele defendeu a revelação da possibilidade do homem conhecer a Deus, somente para ser atacado como um racionalista. Ele refutou as filosofias seculares expondo as suas contradições internas, somente para ser criticado por uma confiança anti-bíblica na mera razão humana. Por todas as suas obras ele enfatizou a importância da epistemologia, a teoria do conhecimento, mantendo que a primeira questão da filosofia — a primeira questão a ser respondida por alguém que faça qualquer afirmação — é, “Como conhecemos?”. Tal preocupação sobre a justificação do conhecimento não foi apreciada por aqueles que não se importavam em dar razões para as suas afirmações metafísicas, e Clark foi chamado de um idealista absoluto. Clark defendeu a soberania de Deus em Biblical Predestination [Predestinação Bíblica]; Religion, Reason and Revelation [Religião, Razão e Revelação]; e What Do Presbyterians Believe? [O que os Presbiterianos Crêem?] somente para ser demitido como um determinista fatalista que negava a responsabilidade do homem e fazia de Deus o autor do mal. Na realidade, em 1932, aos 29 anos, Clark publicou um ensaio no The Evangelical Quarterly sobre “Determinismo e Responsabilidade” que clarificou a relação entre a soberania divina e a responsabilidade humana, uma relação que teólogos têm procurado entender por séculos. Esse ensaio é uma das suas produtivas contribuições para a teologia cristã.

As controvérsias que envolveram Clark em sua vida, embora desagradáveis como elas tenham sido para ele e para sua família, foram, na providência de Deus, designadas para o benefício tanto de Clark como da igreja; pois elas estimularam sua mente brilhante a considerar e escrever sobre os erros que tinham atormentado a igreja por todas as eras. Clark debateu e derrotou aqueles que negavam a inerrância da Escritura, a imagem de Deus no homem, a soberania de Deus, a Trindade, a justificação através da fé somente, a adequação da linguagem humana para expressar a verdade divina, a existência da alma e a necessidade da teologia sistemática. Paulo nos diz que as heresias devem aparecer para que aqueles aprovados por Deus possam ser revelados. Nada pode ser mais óbvio do que o fato de que Clark foi aprovado por Deus.

Ronald Nash tem chamado Clark de “um dos maiores pensadores cristãos de nosso século”. Carl Henry tem se referido a Clark com “um dos filósofos protestantes evangélicos mais profundos do nosso tempo”. Ambas as avaliações são verdadeiras, mas inadequadas. Clark é, e permanecerá sendo, um dos maiores pensadores cristãos de todos os tempos.

Deus foi especialmente gracioso para conosco em nos dar Gordon Clark por um pouco de tempo; sejamos especialmente gratos a Deus, e tão zelosos pela verdade de Deus como Clark o foi enquanto estava entre nós. Foi o meu privilégio conhecer Clark por 13 anos: nós primeiro nos correspondemos quando ele estava em Butler e eu era um estudante de pós-graduação em Hopkins. Sua obra tem sido enormemente útil para mim, e será indispensável para uma nova geração de cristãos sérios que queira trazer todo o pensamento cativo a Cristo. O objetivo de Clark deve ser o nosso também:

“Tem havido tempos na história do povo de Deus, por exemplo, nos dias de Jeremias, quando a graça refrescante e o reavivamento difundido não eram para ser esperados: o tempo era de castigo severo. Se este século vinte é de uma natureza similar, indivíduos cristãos aqui e ali podem encontrar conforto e força num estudo da Palavra de Deus. Mas se Deus tem decretado dias mais felizes para nós e se podemos esperar uma sacudidela mundial e um despertamento espiritual genuíno, então, é a crença do autor de que um zelo pelas almas, embora necessário, não é a condição suficiente. Não tem havido santos devotos em todas as eras, numerosos o suficiente para levar adiante um reavivamento? Doze de tais pessoas seria abundância. O que distingue as eras áridas do período da Reforma, quando as nações foram estremecidas como elas nunca tinham sido desde o tempo quando Paulo pregou em Éfeso, Corinto e Roma, é a plenitude do conhecimento da Palavra de Deus no tempo da Reforma. Para ecoar um pensamento antigo da Reforma, quando o agricultor e o ferreiro conhecem a Bíblia tão bem quanto os teólogos, e conhecem melhor do que alguns teólogos contemporâneos, então, o desejado despertamento já terá ocorrido.”

O único monumento apropriado a Clark, e o que ele mais desejaria, não é um feito de pedra e madeira, mas a disseminação da verdade que ele amou e defendeu em toda a sua vida. “Aquele que guarda a minha doutrina”, Cristo disse, “jamais verá a morte”. Gordon Clark não viu a morte; quando os primeiros raios do sol da manhã brilharam nos declives orientais das Montanhas na Terça-feira passada, Clark viu a Cristo.

Edição especial de Abril de 1985


Alguns dos livros de Clark já disponíveis [http://www.trinitylectures.org]:

  • Ephesians;
  • God and Evil;
  • God’s Hammer: The Bible and Its Critics;
  • Historiography: Secular and Religious;
  • Holy Spirit, The;
  • Incarnation, The;
  • Language and Theology;
  • Logic;
  • Logical Criticisms of Textual Criticism;
  • Predestination;
  • Religion, Reason, and Revelation;
  • Sanctification;
  • Thales to Dewey: A History of Philosophy;
  • Three Types of Religious Philosophy;
  • Trinity, The;
  • What Do Presbyterians Believe?;

 

Fonte: Wikipedia


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