Categoria: Biografias
Imagem: Benjamin Keach - O Estandarte de Cristo
Publicado: 02 de Abril de 2017, Domingo, 19h41
Benjamin Keach nasceu no dia 29 de Fevereiro de 1640. Seus pais, John e Feodora Keach eram Protestantes-Anglicanos. Quando era jovem aprendeu o oficio da alfaiataria. Recebeu muita influência e impacto pela pregação de um evangelista independente, o pastor Anglicano-Calvinista Matthew Mead. Foi batizado por um pastor Batista-Arminiano, o general militar João Russell, quando tinha 15 anos de idade, alcançando as convicções Batistas através do estudo pessoal da Bíblia. Com 18 anos de idade começou a realizar diversas pregações sempre movidas por despertamento espiritual. Conhecia a doutrina arminiana, mas fixou suas convicções no doutrina Calvinista. Suas origens são humildes e não foi educado em escolas teológicas, mas é reconhecido como um dos melhores ministros-teólogos Batistas de sua época.
Foi ordenado ministro na Congregação Batista Geral de Winslow e posteriormente, no ano de 1668, iniciou os seus trabalhos pastorais em Horselydown, uma paróquia no bairro londrino de Southwark, na Inglaterra, ao sul do rio Tamisa. Permaneceu exercendo seus serviços pastorais em Horselydown (1668-1704) fielmente durante 36 anos num edifício que foi ampliado várias vezes para comportar o número de ouvintes.
Quando Benjamin Keach difundia seu ministério no Horselydown não imaginaria que no futuro, depois de ser chamado de New Park Street transformar-se-ia no Metropolitan Tabernacle (Tabernáculo Metropolitano), cenário das maravilhosas pregações de Charles Spurgeon para públicos que alcançavam 10.000 pessoas no ano de 1861.
No Tabernáculo Metropolitano muitas pessoas foram influenciadas para incendiar o mundo com a Palavra de Deus. Uma dessas pessoas foi Dwight Lyman Moody. Quando Moody visitou o Metropolitan Tabernacle ficou comovido e impactado com a ministração de Charles Spurgeon naquele lugar.
Enquanto D.L. Moody considerava em sua mente tudo aquilo que tinha presenciado, Henrique Varley disse: “Moody, o mundo ainda não viu o que Deus pode fazer com um homem completamente consagrado a ele”. Mais tarde, Moody comentou que a observação de Varley e a pregação de Charles H. Spurgeon concentraram-se em algo que nunca havia imaginado: “Não era Spurgeon quem realizava aquela obra; era Deus. Se Deus era capaz de usar Spurgeon, poderia usar-me também!”.
Em 1660, Benjamin casou com Jane Keach Grove, de Winslow do condado de Buckinghamshire, no sul do Reino Unido. Dessa união matrimonial nasceram 5 filhos, mas somente 3 sobreviveram além da infância. Sua esposa faleceu em 1670 e seu filho Elias Keach fugiu para a América, para ele esse continente era uma colônia distante e desconhecida.
Naquele ambiente longe da família e dos amigos, Elias Keach alcançou o novo nascimento em Cristo Jesus, respondendo ao encargo de pregador do evangelho salvífico, assim foi um grande semeador da Palavra de Deus nos Estados Unidos, plantando a semente da fé e colhendo muitos crentes de fé batista que viriam a constituir a Associação Batista Philadelphia.
Como representante da igreja que congregava no local de reuniões Horselydown, Benjamin Keach compareceu na Assembleia Geral do ano de 1689 para fixar a Confissão de Fé Batista em Londres, inclusive, ele foi um dos sete homens que enviaram o convite aos irmãos para comparecerem na Assembleia Geral de 1689. No mesmo ano eles firmaram um pacto solene que refletia no âmbito prático e congregacional, algumas das doutrinas constantes na confissão. A Confissão de Fé Batista de 1689 é uma Confissão de Fé Reformada com orientação calvinista. Foi elaborada por Batistas-Particulares que também são chamados de Batistas-Calvinistas ou Batistas-Reformados. São crentes Batistas que enfatizam as doutrinas calvinistas e remontam aos Separatistas durante a era moderna na Inglaterra.
As reformas protestantes introduzidas pela Igreja Anglicana desde o reinado de Henrique VIII da Inglaterra eram consideradas insuficientes. Existiam desconfortos e insatisfações em vários segmentos, surgira um desejo latente para que a Igreja experimentasse uma reforma mais profunda, expressando mais Vida, demonstrando uma doutrina, governo e liturgia mais puros. Foram nessas circunstâncias que surgiram os Puritanos, que desejavam reformar a Igreja Anglicana sem provocar separações, sem iniciar um movimento independente. A preocupação dos Puritanos, consistia na pureza e integridade da Igreja, do indivíduo e da sociedade, mas o movimento não expressava unanimidade, manifestando perfis distintos, como Não-conformistas; Não-separatistas; Independentes; Dissidentes; e Separatistas. Contudo, através da vontade permissiva e soberana de Deus, dentre os Puritanos que expressaram muita Vida e riquezas espirituais, foram levantados por Deus os Separatistas que antecederam todos os movimentos independentes da Igreja Estatal. Os Separatistas formavam comunidades cristãs para reunirem-se nos moldes bíblicos sem qualquer influência política ou estatal. Foram os Separatistas que avançaram na restauração sobre a expressão Igreja. Eles viram que a Igreja não é institucional, nem estatal, dessa forma, foram os primeiros a reunirem com o conceito de que a Igreja é o resultado da união mística de Cristo (O Cabeça) com os crentes (O Corpo). Caso inexistisse esse conceito, mesmo que inconsciente no coração de muitos, nenhum deles teriam paz para promoverem reuniões em comunidades.
O movimento Irmãos Unidos originado no ano de 1825 que restaurou o conceito de Igreja, colheu muitos frutos do movimento Separatista que foi o primeiro a apontar a realidade da Igreja. Os Separatistas originaram o governo eclesiástico Congregacional que valoriza a expressão da Igreja Local. Quando Watchman Nee desenvolveu o tema a “Base da Localidade” como a real demonstração da unidade dos cristãos em determinada cidade, resgatou tal ideia no movimento Separatista que já falava sobre a Igreja Local. É importante ressaltarmos que os conceitos são desenvolvidos e expandidos, no entanto, as raízes sobre a Igreja Local continuam sendo as mesmas.
O movimento Puritano também elaborou sua expressão de fé através da Confissão de Fé de Westminster (1646) e da Declaração de Savoy (1658). A Confissão de Fé de Westminster é uma confissão de Fé Reformada sob orientação Calvinista. Foi adotada posteriormente por muitas comunidades Presbiterianas-Reformadas em vários lugares do mundo. Essa confissão de fé foi produzida pela Assembleia de Westminster e aprovada pelo parlamento inglês no ano de 1643. Já a Declaração de Savoy sobre a Fé e Ordem é uma confissão de fé redigida pelo segmento independente inglês. A Declaração recebe esse nome porque foi redigida durante uma conferência no Palácio de Savoy, em Londres. É resultado do trabalho de uma comissão composta por diversas pessoas que tinham pertencido à Assembleia de Westminster. A Declaração produziu ligeira modificação na Confissão de Fé de Westminster, sendo que as mudanças mais importantes são referentes ao governo e a disciplina da igreja.
A Confissão de Fé Batista de 1689 foi laborada pelos Batistas-Reformados objetivando confeccionar uma expressão formal de sua fé cristã sob perspectiva Batista-Calvinista.
A criação da Confissão de 1689 está associada ao início Batista na Inglaterra e aos diferentes posicionamentos dos Batistas-Gerais e Batistas-Especiais. Com o advento do Arminianismo fundamentado sobre as ideias do teólogo reformado holandês Jacobus Arminius pregando o livre arbítrio, na mesma época, muitos crentes Batistas aprovaram a postura arminiana de que a salvação cristã é baseada em obras. Simplificadamente, hoje os Arminianistas valorizam as obras cristãs, no entanto, reconhecem que a Vida Eterna é resultado da obra de Jesus Cristo.
Para compreender melhor o Arminianismo é necessário possuir compreensão das seguintes alternativas teológicas: Pelagianismo, Semipelagianismo e Calvinismo. O Arminianismo, como qualquer outro sistema de crença maior, é frequentemente mal compreendido pelos críticos e mal assimilado pelos adeptos.
John Wesley (1703-1791) fundador do movimento Metodista abraçou a Teologia Arminiana e se tornou o seu maior defensor. Hoje, a maioria dos Metodistas permanecem comprometidos com o Arminianismo, inclusive, a Teologia Arminiana é o sistema teológico dominante nos Estados Unidos, devido à forte influência dos líderes John Wesley e Charles Wesley.
Os irmãos Wesley foram os que mais advogaram a causa dos ensinos da soteriologia arminiana. John Wesley concordou com a vasta maioria daquilo que o próprio Jacobus Arminius defendeu, mantendo as doutrinas sobre o pecado original, depravação total, eleição condicional, graça preveniente, expiação ilimitada e possibilidade de apostasia. No entanto, é importante ressaltar que John Wesley afastou-se do Arminianismo Clássico e desenvolveu o Arminianismo Wesleyano. Wesley nunca ensinou que a salvação para a Vida Eterna é resultado da perfeição, mas preferiu dizer que: “Santidade Perfeita é aceitável a Deus e somente através de Jesus Cristo”.
Depois que muitos crentes Batistas aceitaram o posicionamento Arminianista, passaram a ser chamados de Batistas-Gerais ou Batistas-Comuns considerando a sua crença em uma expiação geral para todos os homens, sem exceção. Entretanto, muitos Batistas rejeitaram o ensinamento Arminianista e afirmaram que a salvação cristã é um dom de Deus conformado à sua escolha e soberania (Graça ou Misericórdia). Esses crentes foram chamados de Batistas-Especiais, porque acreditavam que a obra e a morte de Jesus Cristo é limitada para aqueles que Deus escolheu antes da fundação do mundo (Efésios 1:4, NVI – “Porque Deus nos escolheu Nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença.”), os Batistas-Especiais também são chamados de Batistas-Particulares, Batistas-Calvinistas ou Batistas-Reformados que possuem a mesma ideia.
A afirmação dos Batistas que apenas os fiéis adultos poderiam ser batizados, considerando que o batismo é a expressão da experiência de salvação que já aconteceu no interior do espírito humano mediante a aceitação e união com Deus em Cristo Jesus através do Espírito Santo, confrontou o conceito existente na Igreja Estatal da Inglaterra, bem como defrontou as ideias teológicas dos Presbiterianos e Congregacionais que apoiavam o batismo infantil. Os Batistas-Reformados discordam em alguns pontos da Teologia Calvinista, por exemplo, o batismo infantil. Para os Calvinistas segundo a teologia do pacto, pressupõem que os filhos de cristãos são salvos com toda a certeza baseados na predestinação, por isso devem ser batizados na infância, já os Batistas-Reformados não levam isso em consideração. O batismo por aspersão não é aceito, considerando que o batismo por submersão é um ponto inegociável da tradição Batista. Calvino considerava o Estado como algo espiritual e controlado por Deus, enquanto os Batistas são indiferentes em relação ao Estado. Os Batistas tem uma visão Puritana da reunião do culto, considerando apenas o que a Bíblia ensina sobre a reunião da igreja. Os outros segmentos reformados como os Anglicanos e Presbiterianos geralmente utilizam padrões litúrgicos históricos, por causa desses motivos, algumas alas reformadas que são fiéis a doutrina desenvolvida por Calvino, questionam se os chamados Batistas-Reformados são realmente reformados. Entretanto, os Batistas-Reformados afirmam serem claramente e genuinamente reformados, declarando que são adeptos do Pacto da Graça feito apenas para eleitos.
O batismo é interpretado como um sinal da ministração decorrente da Nova Aliança realizada com os regenerados que receberam a lei escrita em seus corações (Jeremias 31:33), o perdão dos pecados e a salvação em Cristo Jesus. Os Batistas-Reformados, segundo a interpretação bíblica, creem que o batismo é a expressão pública daquilo que sucedeu no interior, ou seja, Deus Pai em Cristo Jesus através do Espírito Santo estabelece morada no espírito humano do crente – 1 Coríntios 6:17, NIV “Mas aquele que se une ao Senhor é um espírito com ele.” – e essa realidade é expressada através de uma demonstração pública, a saber, o batismo.
Benjamin Keach é um dos responsáveis por esses aperfeiçoamentos e interpretações bíblicas, inclusive, foi um bom escritor na sua época, concluindo aproximadamente 45 obras, dentre as quais a mais conhecida é “Parábolas e Metáforas da Escritura”. Também é reconhecido como o responsável pela introdução do hábito de cantar hinos nas reuniões batistas, considerando que até aquele momento sustentavam o uso apenas de salmos métricos.
No ano de 1664 foi confinado e torturado por ministrar pregações com posicionamento diverso da Igreja Estatal. Posteriormente foi perseguido, porque o seu livro “The Child’s Instructor” (O Instrutor de Crianças), que foi escrito objetivando a instrução de crianças na leitura, escrita e aritmética, também trazia aplicações das doutrinas batistas. Os seus opositores influenciados pela política e pela religião aplicaram várias ridicularizações aos seus escritos, bem como o julgaram e lavraram uma expressiva multa para ele, um simples pregador Batista.
Foi condenado a duas semanas de prisão, com dois períodos diários de 2 horas no pelourinho. Foram dias terríveis, pois ele ficava durante aquelas horas com o corpo exausto – qualquer um de nós, que ficarmos parados durante 1 hora no mesmo lugar sem nenhum movimento, sentiremos exaustão – Benjamin ficava 4 horas no pelourinho durante o dia, preso e recebendo os maiores escárnios.
Benjamin Keach usou o seu tempo preso no pelourinho para pregar o evangelho aos transeuntes e à multidão que sempre dirigia palavras de ridicularização.
O historiador, Dr. Michael AG Haykin, professor de História da Igreja e Espiritualidade Bíblica, e diretor do The Andrew Fuller Center for Baptist Studies do Southern Baptist Theological Seminary, disse sobre Benjamin Keach: “o seu ministério foi caracterizado por um evangelismo vigoroso, chamava regularmente os não convertidos para responderem ao Cristo glorioso e à fé salvífica”.
Geoff Thomas, pastor Batista da Alfred Place, em Aberystwyth, escrevendo para Banner of Truth – Biblical Christianity Through Literature, cita o seguinte apelo de uma pregação de Benjamin Keach: “Recebam o Salvador, acreditem Nele e vocês serão salvos. Quem vocês são? Não são as grandezas de seus pecados que dificultarão as vossas almas de alcançarem a salvação em Jesus Cristo. Ainda que os vossos pecados sejam vermelhos como a escarlata, ou vermelhos como o carmesim, Ele vai lavar as vossas vidas e vocês ficarão como lã branca e mais alvos que a neve”.
Sob essas pregações evangelísticas a comunidade cresceu muito, inclusive, o local de reuniões Horselydown precisou ser expandido diversas vezes, alcançando acomodações para mais de 1.000 pessoas. Debaixo da liderança do pastor Benjamin Keach, os crentes Batistas foram muito ativos na pregação do evangelho, surgindo muitas outras comunidades Batistas no sul da Inglaterra.
Benjamin Keach sempre enfatizou que a obediência de Jesus Cristo a Deus é creditada na conta de cada crente. Escreveu várias obras sobre a justificação: “A Medula da Justificação” (1692); “A Aliança Eterna” (1693); “Uma Mina de Ouro Aberta – A Glória do Deus Rico e a Graça exibida” (1694); “A Escada de Jacó – O Caminho para o Céu” (1698); “A exibição da Graça Gloriosa” (1698); dentre outras.
Para Keach, “um pecador vem para a posição correta diante de Deus independentemente de quaisquer atitudes boas que o pecador possa demonstrar a Deus. Pelo contrário, Cristo cumpriu a obediência que Deus requer através de sua obediência ativa [o cumprimento perfeito da Lei de Deus] e em sua obediência passiva [morte de cruz], toda essa obediência de Jesus Cristo é creditada ao pecador regenerado”.
Benjamin Keach sempre ensinou que o pastor precisa dedicar tempo ao estudo e ao aconselhamento espiritual, sempre buscou viver a Vida da Igreja conforme os padrões bíblicos.
O historiador Michael A. Mullett, professor de História na Universidade de Lancaster, Inglaterra, comentou sobre Benjamin Keach: “foi um teólogo Batista líder de sua época, semelhante em importância para o seu movimento como Richard Baxter era para os Presbiterianos ingleses, John Owen (1616-1683) para os Congregacionalistas e Barclay Robert (1648-1690) para o movimento Quakers”.
Antes de falecer no verão de 1704, Keach solicitou ao seu amigo Joseph Stennett (1663-1713), ministro Batista do Sétimo Dia, que pregasse no seu velório uma porção de 2ª Timóteo 1:12, VRA – “e, por isso, estou sofrendo estas coisas; todavia, não me envergonho, porque sei em Quem tenho crido e estou certo de que Ele é poderoso para guardar o meu tesouro até aquele Dia.”. A atitude de Benjamin Keach foi maravilhosa, porque ele sempre publicou textos teológicos combatendo a necessidade de guardar o Sábado na Nova Aliança, entretanto, nunca permitiu que suas visões e interpretações bíblicas afastassem os seus irmãos em Cristo que tinham percepções diferentes. Keach sempre destacou que o centro do evangelho é Cristo e não as interpretações bíblicas.
Fonte
Livro: Quem foram os Puritanos? …e o que eles ensinaram?
Autor: Erroll Hulse.
Editora: Publicações Evangélicas Selecionadas - PES. (Brasil).
Páginas: 264.
Livro: Moody - uma biografia.
Autor: John Pollock.
Editora: Vida. (Brasil).
Série: Acadêmica.
Páginas: 414.
Wikipédia, a enciclopédia livre.
http://www.christianity.com/church/church-history/.
http://www.reformedreader.org/rbb/keach/keachindex.htm.
http://www.keachsmeetinghouse.org.uk/.
Retirado do site: Morgado, Um Cristão!