Categoria: Acervo
Imagem: Representação do Pentecostalismo / Imagem: chamadoaoevangelho.com.br
Publicado: 20 de Janeiro de 2024, Sábado, 09h38
O Movimento Pentecostal nasceu proscrito e marginal; era considerado demasiadamente subversivo.1 Uma religião que “lavou no sangue do Cordeiro” os preconceitos e exclusões de raça, gênero, classe, nível de escolaridade e credo2 não podia ter esperado outra coisa, pois seus participantes eram “homens e mulheres dos quais o mundo não era digno” (Hb 11.38).
Segundo Vinson Synan:
Durante décadas, os pentecostais eram os párias da sociedade. Uma das razões para essa rejeição era que a maioria das igrejas pentecostais surgia entre as classes mais pobres e marginalizadas. David Barrat dizia que “nenhum movimento do século XX foi mais ridicularizado, atormentado, atacado e exposto a maus-tratos” por sua fé que os pentecostais” [3]
E acrescenta:
Durante seis décadas (1901-1960), o pentecostalismo foi excluído do que era considerado cristianismo respeitável nos Estados Unidos e no mundo. Os pentecostais eram barulhentos e, para alguns, desordeiros. Sua adoração estava além do entendimento daqueles que não conheciam a espiritualidade interior que orientava o movimento. Acima tudo, os pentecostais eram pobres, desprivilegiados, sem instrução e alheios às últimas tendências teológicas que interessavam à maior parte do protestantismo. [4]
Daí, obviamente, o pentecostalismo global não se tornou um objeto prioritário ou privilegiado de estudos acadêmicos durante quase toda primeira metade do século XX, pois para muita gente na academia, o pentecostalismo da Rua Azusa e seus congêneres só podiam ser coisa de gente doida. Por seu lado, diante da rejeição generalizada que sofreram desde sempre, pentecostais acabaram por desenvolver um anti-intelectualismo que tem caracterizado a maioria do movimento onde quer que tenha se implantado, com grande desconfiança e até mesmo desprezo pela academia, particularmente pelas instituições teológicas. E não tem sido diferente no Brasil.
Como consequência desse mútuo estranhamento, estudos acadêmicos sobre o movimento pentecostal começaram a ser desenvolvidos nos Estados Unidos e Europa só na segunda metade do século XX, e, mais recentemente, na América Latina. Acontece que, tanto no campo teológico como no das ciências humanas, a discussão acadêmica sobre a religião do Espírito Santo só passou a ser considerada devido à explosão do movimento nos quatro quadrantes do mundo nos anos após a Segunda Guerra Mundial.
Desde o final da Segunda Grande Guerra, em 1945, a sociedade brasileira viu um pequeno e marginal fenômeno religioso como o pentecostalismo tornar-se um enorme e poderoso maremoto religioso e social na vida do país. De tal sorte que o movimento pentecostal no Brasil desde cerca de 40 anos atrás passou a receber maior atenção dos círculos acadêmicos brasileiros. A pujança do movimento em suas múltiplas manifestações impôs-se ao mundo da academia.
Os estudos desenvolvidos pelas diversas áreas das ciências sociais e da religião sobre suas distintas manifestações têm produzido respeitável bibliografia. Assim, os estudos sobre os pentecostalismos brasileiros na perspectiva da sociologia, antropologia, história, economia e de outras áreas das ciências humanas têm procurado entender e explicar seu extraordinário crescimento nos últimos sessenta anos, nada ficando a dever aos estudos desenvolvidos em outras partes do mundo.
Entretanto, estudos sobre a teologia do movimento pentecostal continuam não tendo um espaço reconhecido na academia brasileira. Programas diversos de pós-graduação reconhecem a importância dos estudos sociológicos, antropológicos, históricos, psicológicos e até econômicos sobre o movimento pentecostal. Mas a verdade é que, no que diz respeito à teologia pentecostal “per se”, seus estudos continuam sendo marginalizados na sociedade, na academia, nas igrejas chamadas tradicionais e entre a maioria de pentecostais e carismáticos.
A formação de teólogos pentecostais brasileiros entre pentecostais tem sofrido de um déficit histórico causado por diversos motivos, inclusive a uma recorrente resistência, até mesmo desconfiança, de pentecostais quanto à educação teológica mais formalmente institucionalizada.
O cenário adverso para os estudos acadêmicos sobre o movimento pentecostal começou a mudar no início da segunda metade do século XX.
Depois da Segunda Guerra Mundial, o crescimento exponencial do pentecostalismo global começou a chamar a atenção da academia norte-americana. Assim, nos anos 1960, autores como Walter Hollenweger (1966) e William Menzies (1968), vão produzir dissertações nos Estados Unidos e Europa que nos próximos anos serão convertidas em livros, tornando-se obras de referência sobre teologia pentecostal em todo mundo.
Assim, nas duas últimas décadas, especialmente por ocasião da celebração dos cem anos do Avivamento da Rua Azusa, o público norte-americano em geral tem podido receber obras sobre diversas áreas dos estudos pentecostais de alta qualidade acadêmica.
Infelizmente, como já dito anteriormente, esta não tem sido a experiência dos estudos acadêmicos pentecostais no Brasil. Ao longo da presença durante todo o século vinte, em quase cem anos do Movimento Pentecostal em nosso país, a principal casa editora pentecostal do Brasil no que diz respeito à teologia pentecostal pouco tem publicado. Entre obras teológicas de vulto com reconhecimento internacional, só foi publicada a “Teologia Sistemática”, organizada por Stanley Horton, com a participação de renomados teólogos pentecostais norte-americanos. Além do trabalho desse renomado assembleiano norte-americano, a mesma editora publicou em 1998 o trabalho do Eurico Bergstén, missionário assembleiano sueco-brasileiro. Nas duas últimas décadas do século vinte, poucas outras obras de teologia sistemática de orientação pentecostal foram publicadas pelas editoras brasileiras, evangélicas ou católicas.
Grande parte da literatura de conteúdo doutrinário publicada pelas editoras das diversas denominações pentecostais foi mais de natureza catequética e voltada principalmente para o público leigo.
Adaptado de Paulo Ayres Mattos, PhD – Drew University
Referências:
(1) Darío A. López Rodríguez. “From Alternative Religion to Established Religion: The Deconstruction of the ‘Subversive Memory’ of the Church of God”. [Traduzido por Richard E. Waldrop]. Pax Pneuma, vol. 5, no. 2, Outuno 2009, p. 55.
(2) Frank Bartleman. Azusa Street. Plainfield: Logos International, 1980. p. 40.
(3)Vinson Synan. O Século do Espírito Santo – 100 anos do avivamento pentecostal e carismático. São Paulo: Vida, 2009, p.136.
(4) Synan, 2009, p. 205.
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