Categoria: Acervo
Imagem: Os Padres da Igreja - ChurchPop Português
Publicado: 19 de Maio de 2012, Sábado, 19h32
Os Patriarcas
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O nome “pais” teve sua origem na Igreja do Ocidente, no século 2. Os “pais apostólicos” foram homens que tiveram contato direto com os apóstolos ou, simplesmente, foram citados por alguns deles. Clemente de Roma, Inácio e Policarpo recebem, regularmente, este título, principalmente Policarpo, de quem existem evidências precisas de que manteve contato direto com os apóstolos.
Clemente de Roma (30-100 d.C.)
Várias hipóteses sobre Clemente de Roma já foram levantadas para identificá-lo. Para alguns, ele pertencia à família real; para outros, era colaborador do apóstolo Paulo; outros ainda sugerem que foi ele quem escreveu a carta aos Hebreus. Assim, as informações que temos sobre Clemente de Roma vão desde as lendárias até as testemunhas fidedignas. Alguns Pais aceitaram a identificação de que ele fora colaborador do apóstolo Paulo, como, por exemplo, Orígenes, Eusébio de Cesaréia, Jerônimo, Irineu de Lião, entre outros.
Sua principal obra é uma carta redigida em grego, endereçada aos crentes da cidade de Corinto, mais ou menos no final do reinado de Domiciano (81-96) ou no começo do reino de Nerva (96-98). Trata principalmente da ordem e da paz da Igreja e usa, como princípio, o fato de que formamos um corpo em Cristo e que neste corpo deve reinar a unidade e não a desordem, porque Deus deseja a ordem em suas alianças. Lança mão ainda da analogia da adoração ordeira do antigo Israel e do princípio apostólico de apontar uma continuação de homens de reputação.
Inácio de Antioquia (xxx-117 d.C.)
Mesmo sendo de Antioquia, seu nome, Ignacius, deriva-se do latim: igne: fogo, e natus: nascido. Era um homem nascido do fogo, ardente, apaixonado por Cristo. Segundo Eusébio, após a morte de Evódio, que teria sido o primeiro bispo de Antioquia, Inácio fora nomeado o segundo bispo dessa influente cidade.
Escreveu algumas epístolas às igrejas asiáticas: Efésio, Magnésia (situada no Meander), Trales, Filadélfia, Esmirna e Roma. O objetivo da carta à Igreja de Roma era solicitar que os irmãos não impedissem seu martírio naquela cidade, para onde estava indo durante o reinado de Trajano (98-117).
Policarpo (69-159 d.C.)
Sobre sua infância, família e formação, não temos informações precisas, contudo, há documentos históricos sobre ele. Graças a alguns testemunhos fidedignos, podemos reconstruir sua personalidade. Foi discípulo do apóstolo João, amigo e mestre de Irineu e conheceu Inácio. Foi consagrado bispo da igreja de Esmirna.
Quanto aos seus escritos, a única epístola que restou desse antigo pai da Igreja é sua carta aos filipenses, exortando-os a uma vida virtuosa de boas obras e à firmeza na fé em nosso Senhor Jesus Cristo. Seu estilo é informal, com muitas citações do Antigo e Novo Testamentos. Faz 34 citações do apóstolo Paulo, evidenciando, com isso, que conhecia muito bem a carta de Paulo aos filipenses, e também suas outras epístolas.
Todavia, temos também os relatos de Eusébio e Irineu, que falam sobre a intimidade de Policarpo com algumas testemunhas oculares do evangelho. Segundo Tertuliano, Policarpo teria sido ordenado bispo pelas mãos do próprio apóstolo João.
Justino Mártir (100-170 d.C.)
Nome completo: Flávio Justino Mártir, nascido em Siquém, na Palestina, no início do século 2. Como mártir, morreu em 170. Depois de ter peregrinado pelas mais diversas escolas filosóficas – como, por exemplo, peripatétitca, estóica e pitagórica – em busca da verdade para a solução do problema da vida, abandonou o platonismo, último estágio da sua peregrinação filosófica. O amor à verdade levou-o, pouco a pouco, a rejeitar os sistemas filosóficos pagãos e a converter-se ao Cristianismo.
Em sua época, foi o mais ilustre defensor das verdades cristãs contra os preconceitos pagãos. Apesar de leigo, é considerado o primeiro pai apologista da Igreja, depois dos primitivos pais apostólicos. Dedicou sua vida à difusão e ao ensino do Cristianismo.
Em Roma, abriu uma escola para o ensino da doutrina cristã e, ainda nessa cidade, dedicou-se ao apostolado, especialmente nos meios cultos, nos quais se movimentava com desembaraço. Escreveu muitas obras, mas somente três chegaram até nós: duas apologias – contra os pagãos – e um diálogo com o judeu Trifão.
Sofreu o martírio por decapitação, depois de ter sido açoitado.
Irineu (130-200 d.C.)
Nascido em Esmirna, na Ásia Menor (Turquia), em 130, em uma família cristã, Irineu era grego e foi influenciado pela pregação de Policarpo, bispo da cidade, em que nasceu. Anos depois, mudou-se para Gália (atual Sul da França), para a cidade de Lyon, onde foi presbítero em substituição do bispo que havia sido martirizado, em 177.
Também recebeu influência de Justino. Foi uma ponte entre a teologia grega e a latina, a qual iniciou com um de seus contemporâneos, Tertuliano. Durante o período em que Justino era apologista, Irineu contribuiu com ele: refutou as heresias e expôs o Cristianismo apostólico.
Sua maior obra foi desenvolvida no campo da literatura polêmica contra o gnosticismo.
Tertuliano de Cartago (150-230)
Nasceu por volta de 150, na cidade de Cartago (Nordeste da África), onde provavelmente passou toda a sua vida, apesar de alguns estudiosos afirmarem que morava em Roma. Por profissão, sabe-se que era advogado. Fazia freqüentes visitas a Roma. Converteu-se aos 40 anos ao Cristianismo e dedicou seus conhecimentos e habilidades jurídicas ao esclarecimento da fé cristã ortodoxa, combatendo os pagãos e hereges.
Foi o “pai” das doutrinas ortodoxas da Trindade e da Pessoa de Jesus Cristo, forjadas no calor da controvérsia com Práxeas que sustentava que “existe um só Senhor, o Todo-Poderoso, Criador do Mundo”, apenas para poder elaborar uma heresia com a doutrina da unidade, afirmando que o próprio “Pai desceu para dentro da Virgem, que Ele mesmo nasceu dela, que Ele mesmo sofreu e que, realmente, era o próprio Jesus Cristo“.
Tertuliano foi o primeiro teólogo cristão a confrontar e rejeitar, com grande vigor e clareza intelectual, essa visão aparentemente singela da Trindade e da unidade de Deus. Declarou que se esse conceito fosse verdade, então o Pai tinha morrido na cruz e isso, além de ser impróprio para o Pai, é absurdo.
Orígenes (185-254 d.C.)
Nascido entre 185 e 186 da nossa Era, provavelmente em Alexandria, era filho de pais cristãos. Escritor de vasta erudição e de expressão grega, atuou inicialmente em sua cidade natal. Estudou letras e aprendeu textos bíblicos com seu pai, morto por ocasião da repressão do imperador Sétimo Severo às novas religiões.
Como sucessor de Clemente, recebeu a direção da Escola Catequética das mãos do bispo de Alexandria. Estudou na escola neoplatônica de Ammonios. Em 212, viajou para Roma, onde ouviu o sábio cristão Hipólito. Em 215, organizou, em Alexandria, uma escola superior de exegese bíblica. Devido ao seu vasto conhecimento, viajava muito e ministrava às igrejas.
O fato de ter-se castrado por devoção, fez que tivesse dificuldades com alguns bispos, que contrariavam o sacerdócio dos eunucos. Em 232, se transferiu para Cesaréia, na Palestina, onde se dedicou exaustivamente aos estudos. Sobreviveu aos tormentos dos quais foi vítima durante o domínio do imperador Décio (250-252).
Sua morte, cuja data ninguém sabe, ocorreu em Tiro.
Foi o mais célebre membro da Escola de Alexandria, estudou os filósofos gregos e acreditava que a alma é preexistente e está subordinada à metempsicose. Neste ponto, encontramos em seus ensinos uma tese tipicamente pitagórica e platônica. Abandonada depois pelo Cristianismo oficial, tal teste é relembrada ainda hoje por aqueles que a defendem como cristã: os espíritas.
Cipriano (200-258 d.C.)
Converteu-se em 246 e, em 249, foi nomeado bispo de Cartago, no Norte da África.
Durante dez anos, conduziu seu rebanho sob a perseguição do imperador Décio, um dos mais cruéis de sua época. Sustentou moral e espiritualmente a cidade, durante uma grande epidemia. Escreveu e batalhou pela unidade da Igreja.
Seu nome está ligado a uma grande controvérsia a respeito do batismo e da ordenação efetuada por hereges. No entender de Cipriano, estas cerimônias eram inválidas, pelo fato de os oficiantes estarem em desacordo com a ortodoxia. Por conta disso, deveriam ser rebatizados e reordenados todos aqueles que entrassem para a verdadeira Igreja. Estevão, bispo de Roma, discordou, o que gerou um cisma, uma vez que Cipriano, além de rejeitar a autoridade do bispo romano, convocou um concílio no Norte da África para resolver a questão.
Seus escritos consistem em tratados de caráter pastoral e de cartas, 82 ao todo.
Morreu como mártir, decapitado em 14 de setembro de 258, durante a perseguição do imperador Valeriano.
Eusébio de Cesaréia (265-339 d.C.)
Incumbiu Constantino de fazer a narração da primeira história do Cristianismo, coroando-a com a sua imperial adesão a Cristo: “A ortodoxia era apenas uma das várias formas de Cristianismo, durante o século 3, e só pode ter-se tornado dominante no tempo de Eusébio” (JOHNSON, 2001:69).
Jerônimo (325-378 d.C.)
Foi um erudito das Escrituras e tradutor da Bíblia para o latim. Sua versão, conhecida como Vulgata, ou Bíblia do Povo, foi amplamente utilizada nos séculos posteriores como compêndio para o estudo da língua latina, assim como para o estudo da própria Escritura.
Nascido por volta de 345, em Aquiléia (Veneza, Itália), extremo Norte do Mar Adriático, Jerônimo passou a maior parte da sua juventude em Roma, estudando línguas e filosofia. Embora a História não relate pormenores de sua conversão, sabe-se, porém, que ele se batizou ainda jovem, entre 19 e 10 anos. Em seguida, embarcou em uma peregrinação pelo Império que levou vinte anos.
Crisóstomo (aprox. 344-407 d.C.)
Criado em Antioquia, seus grandes dotes de graça e eloqüência como pregador levaram-no a ser chamado a Constantinopla, onde se tornou patriarca, ou arcebispo. Como os outros apologistas, também harmonizou o ensinamento cristão com a erudição grega, dando novos significados a antigos termos filosóficos, como a caridade, por exemplo.
Em seus sermões, defendia uma moralidade que não fizesse qualquer transigência com a conveniência e a paixão, e uma caridade que conduzisse todos os cristãos a uma vida apostólica de devoção e de pobreza comunal. Essa piedosa mensagem, entretanto, tornou-o impopular na corte imperial e entre alguns membros do clero de Constantinopla, de modo que acabou sendo banido, morrendo no exílio.
Agostinho (354-430 d.C.)
Aurélio Agostinho nasceu, em 354, na cidade de Tagaste de Numídia, província romana ao Norte da África (a atual região da Argélia). Iniciou os estudos em sua cidade natal, seguindo, depois, para Cartago. Ensinou retórica e gramática, tanto no Norte da África como na Itália. Ficou conhecido como filósofo e teólogo de Hipona. Polemista capaz, pregador de talento, administrador episcopal competente e teólogo notável, criou uma filosofia cristã da história que continua válida até hoje em sua essência.
Inspirado no tratado filosófico Hortensius, de Cícero, converteu-se em ardoroso pesquisador da verdade, aderindo ao maniqueísmo. Com vinte anos, perdeu o pai e tornou-se o responsável pelo sustento da família. Mudou-se para Roma. Sua mãe foi contra a mudança e ele teve que enganá-la na hora da viagem. De Roma foi para Milão, onde atuou novamente como professor de retórica.
Grandemente influenciado pelos estóicos, por Platão e pelo neoplatonismo, também estava entre os adeptos do ceticismo. Em Milão, conheceu Ambrósio, por meio de quem se converteu ao Cristianismo. Depois disso, regressou ao Norte da África, foi ordenado sacerdote e, mais tarde, bispo de Hipona. Combateu a heresia maniqueísta que antes defendia e participou de dois grandes conflitos religiosos: o donatismo e o pelagianismo.
Sua obra mais conhecida é a autobiografia Confissões, escrita, possivelmente, no ano 400. Em A cidade de Deus (413-426) formulou uma filosofia teológica da história.
Os Heresiarcas
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Márcion (aprox. 95-165)
Informações indicam que Márcion nasceu em Sinope, no Ponto, Ásia Menor. Foi um proprietário de navios muito próspero e aplicou sua vida à fé religiosa: primeiramente como cristão e, depois, no desenvolvimento de congregações marcionitas.
Foi um influente líder cristão, até que, em 144 d.C., suas idéias lhe conduziram à exclusão, quando, então, formou uma escola gnóstica. Sua mente prolífera o levou a desenvolver muitos conceitos que publicou em uma obra apologética muito combatida pelos apologistas de sua época, principalmente por Tertuliano e Epifânio.
Procurou ter uma perspectiva paulina, mas inclui em seus ensinos idéias próprias e conjecturas sem respaldo bíblico. Segundo acreditava, tinha uma missão especial: restaurar o puro evangelho. Chegou até mesmo a rejeitar o Antigo Testamento, considerando-o inútil e ultrapassado, além de afirmar que fora produzido por um deus inferior ao Deus do evangelho.
Para ele, o Cristianismo era totalmente independente do Judaísmo. Era uma nova revelação. Por meio de Cristo, o deus do Antigo Testamento foi pego de surpresa e teve de entregar as chaves do inferno a Jesus, além de dizer que Cristo não era Deus, apenas uma emanação do Filho de Deus. Em sua concepção, Paulo fora o único apóstolo fiel ao evangelho, desconsiderando os demais apóstolos e evangelistas. E, por conta disso, a Igreja primitiva havia-se desviado e, portanto precisava de uma restauração.
Afirmava, ainda, que o homem deve levar uma vida asceta, que o casamento, ainda que legal, é aviltador.
Entre outros ensinos de Márcion, encontramos o batismo pelos mortos.
Seu “cânon” era formado pelas dez epístolas do apóstolo Paulo e por uma versão modificada do evangelho de Lucas.
Montano (aprox. 120-180)
Por volta do ano 150 d.C., surgiu na Frígia um profeta chamado Montano, que se uniu com Prisca e Maximilia e se autoproclamaram os portadores de uma nova revelação. Inicialmente, seu movimento reagiu contra o gnosticismo, mas o próprio Montano se caracterizou por suas tendências inovadoras. Suas profecias e revelações giravam em torno da segunda vinda e incentivavam o ascetismo.
Salientava fortemente a proximidade do fim do mundo, dizendo que o mesmo dar-se-ia em sua própria geração. Insistia sobre estritas exigências morais, como o celibato, o jejum e uma rígida disciplina. Exaltava o martírio e seus seguidores eram proibidos de fugir das perseguições. Segundo pregava, alguns pecados eram imperdoáveis, ainda que o pecador demonstrasse arrependimento. Finalmente, Montano afirmou ser o Paracleto ao dizer que nele se iniciaria e findaria o ministério do Espírito Santo.
Prisca e Maximilia abandonaram seus respectivos maridos para se dedicarem à obra profética de Montano. Algumas vezes, o “profeta” procurava esclarecer que era um agente do Espírito Santo, mas sempre retornava à antiga posição e afirmava que era o Consolador prometido. Portanto, sua palavra deveria ser observada acima das Escrituras, porque se tratava de uma palavra para aquele tempo do fim.
O movimento de Montano acabou no século 3, no Ocidente, e no século 6, no Oriente.
Sabélio (aprox. 180-250)
Nasceu na Líbia, África do Norte, no século 3 depois de Cristo. Mudou-se para a Itália, onde viveu em Roma. Ao conhecer o evangelho, logo se tornou um pensador respeitado em suas considerações teológicas. Recebeu influência do modalismo, que já estava sendo divulgado na África. Como um movimento asiático, o modalismo teve início com Noeto, de Esmirna.
Principais expoentes do modalismo: Noeto, Eógono, Cleômenes e Calixto.
Foi ensinado por Práxeas na África e defendido por Sabélio na Líbia. Hoje, o modalismo é muito conhecido pelo nome de sabelianismo, devido à influência intelectual fornecida por Sabélio, cujo objetivo era preservar o monoteísmo a qualquer custo. Ensinava que havia uma única essência na Divindade, mas rejeitava o conceito de três Pessoas em uma só essência, porque esse ensino margem a um culto triteísta, ou seja, três deuses.
Segundo afirmava, essa questão poderia ser resolvida mediante o conceito de que Deus tinha se apresentado com diversas faces ou manifestações. Primeiramente, se apresentara como Deus Pai, gerando, criando e administrando. Depois, como Deus Filho, mediando, redimindo, executando a justiça. E, finalmente e sucessivamente, como Deus Espírito Santo, fazendo a manutenção das obras anteriores, sustentando e guardando.
Uma só Pessoa e três manifestações temporárias e sucessivas.
Mani (aprox. 216-277)
Nasceu na Babilônia, por volta de 216 d.C. Foi considerado, por alguns, como o último gnóstico. Diferente dos demais hereges, desenvolveu-se fora do Cristianismo. Apesar de ser um rival extremo do evangelho, seus ensinos, contraditoriamente, buscavam respaldo no Cristianismo. Mani afirmava que era o Paracleto, o profeta final. Enfatizava, entre outras coisas, a purificação pelos rituais e, em 243 d.C., teve suas doutrinas reconhecidas por Ardashir, rei sassânica (Índia). Foi então que a nova fé teve o seu “pentecostes”, analogia traçada pelos maniqueístas.
Durante 34 anos, Mani e seus discípulos intensificaram um trabalho denominado missidevo aponário pelo Leste da Ásia, Sul e Oeste da África do Norte e na Europa.
A base do maniqueísmo é o conceito de um Deus teísta, que se revela ao homem. Ou seja, Deus usou diversos servos, como Buda, Zoroastro, Jesus e, finalmente, Mani. Seus discípulos deveriam praticar o ascetismo, não podiam ser responsáveis por nenhuma morte, até mesmo de animais e/ou plantas. Não podiam se casar. Eram obrigados a manter-se no celibato.
Nos ensinos de Mani, o Universo é dualista, existem duas linhas morais distintas, eternas e invictas: a luz e as trevas.
A remissão ocorre pela gnosis, conhecimento especial que os iniciados conquistavam. Entre os remidos, há duas classes: os eleitos e os ouvintes.
Os eleitos, que não podiam praticar nenhum tipo de morte, até mesmo de uma planta, eram servidos pelos ouvintes, que podiam matar plantas, mas nunca animais, ou se alimentar deles (de animais abatidos).
Após a morte, os eleitos subiriam para a glória, enquanto os ouvintes passariam por um longo processo de purificação. Quanto aos ímpios, continuariam reencarnando na terra.
Mani recebeu grande influência de Márcion.
Ário (aprox. 256-336)
Presbítero de Alexandria entre o fim do século 3 e início do século 4 depois de Cristo, foi excluído, em 313, quando diácono, por apoiar o cisma da Igreja no Egito. Com a morte do patriarca da Igreja em Alexandria, foi recebido novamente como diácono. Depois, nomeado presbítero, quando começou a ensinar que Jesus Cristo era um ser criado e não possuía nenhum dos atributos incomunicáveis de Deus. Por exemplo: eternidade, onisciência, onipotência, etc. Por causa disso, foi censurado em 318 e excluído em 321, mas sua influência já havia sido propagada e diversos bispos da Igreja no Oriente abraçara o novo ensino.
Em 325, no concílio de Nicéia, já excluído, Ário teve sua sentença ratificada e, por conta disso, foi banido. Mas ele não se calou. Preparou uma resposta ao Credo Niceno, o que impressionou muito o imperador Constantino, que quis receber Ário em comunhão. Atanásio, porém, resistiu à ordem do imperador e Ário foi deposto e exilado em Gália, morrendo, no dia em que entraria em comunhão, na cidade de Constantinopla.
Todo o ensino de Ário procurava estabelecer a razão natural como um meio de se entender a relação entre Deus e Cristo. Para ele, havia uma só Pessoa na Divindade. O Logos não teria sido apenas gerado, mas, literalmente, criado. Seria tão-somente um intermediário entre Deus e os homens. E, devido à sua elevada posição, receberia adoração e glória.
Apolinário (aprox. 310-390)
Bispo de Laodicéia, na Síria, no final do século 4 depois de Cristo. Cooperou com a reprodução das Escrituras. Fez oposição a afirmação de Ário quanto à criação e mutabilidade de Cristo.
Por outro lado, se opôs ao conceito da completa união entre as naturezas divina e humana de Jesus. Afirmava que Jesus não tinha um espírito humano e que seu espírito manipulava o corpo humano. A posição inicial de Apolinário era contrária ao arianismo, que negava a divindade de Cristo.
Segundo dizia, era fácil manter a unidade da Pessoa de Cristo, contanto que o logos fosse conceituado apenas como substituto do mais elevado princípio racional do homem. Contrapondo-se a Ário, defendia a autêntica divindade de Cristo e tentava proteger a impecabilidade do Salvador substituindo o pneuma (espírito) humano pelo logos, porque julgava que o pneuma humano era sede do pecado.
Conseqüentemente, Apolinário negava a própria e autêntica humanidade de Jesus Cristo.
Em 381, a cristologia de Apolinário foi contundentemente declarada herética pelo Sínodo de Constantinopla. Outros Sínodos também apoiaram essa decisão.
Apolinário, no entanto, formou um grupo de discípulos que manteve seus ensinos, mas, não demorou muito, seu movimento se desfez.
Nestório (aprox. 375-451)
Patriarca da Igreja em Constantinopla na metade do século 5 depois de Cristo, seu objetivo era expurgar heresias na região de seu controle. Encontrou problemas em expressar sua cristologia, porque, naquela época, já existiam idéias divergentes sobre a natureza de Cristo. Alguns ensinadores negavam, aparentemente, a existência das duas naturezas em Cristo, postulando uma única natureza. Outros afirmavam, como Teodoro de Mopsuéstia (que negava a residência essencial do logos em Cristo, concedendo somente a residência moral), que o entendimento deveria partir da completa humanidade de Jesus.
A posição de Teodoro substituía realmente a encarnação pela residência moral do logos no homem Jesus. Seu ensino, no entanto, dava a entender que Cristo tinha dupla personalidade. Ou seja, duas pessoas unidas moralmente entre si. Nestório foi fortemente influenciado por seu mestre Teodoro.
O nestorianismo é um conceito deficiente, não por causa da doutrina das duas naturezas de Cristo, mas, sim, por causa da Pessoa de cada uma dessas naturezas. Concorda com a autêntica e própria deidade e a autêntica e própria humanidade, mas diz que elas não compõem uma verdadeira unidade nem constituem uma única pessoa. As duas naturezas seriam igualmente duas pessoas. Ao invés de mesclar as duas naturezas numa única autoconsciência, o nestorianismo as situava lado a lado, sem outra ligação além de mera união moral e simpática entre elas. Jesus seria um hospedeiro de Cristo.
Nestor foi vigorosamente atacado por Cirilo, patriarca de Alexandria, sendo condenado pelo Terceiro Concílio de Éfeso, em 431.
O movimento nestoriano sobreviveu até o século 14! Adotando o nome de cristãos caldeus, a Igreja persa aceitou claramente a cristologia nestoriana. Atingiu sua expressão culminante no século 13, quando dispunha de 25 arcebispos e cerca de 200 bispos. Nos séculos 13 e 14, a Igreja Nestoriana Unida foi formada e, atualmente, seus membros são conhecidos como Caldeus Uniatos. Na Índia, são conhecidos como cristãos de São Tomé. Hoje, o movimento está em declínio.
Pelágio (aprox. 360-420)
Teólogo britânico, teve uma vida piedosa e exemplar. Baseado nisso, desenvolveu conceitos sobre a hamartilogia (doutrina que estuda o pecado), mas seus ensinos foram rejeitados e ele, finalmente, excluído, em sentença ratificada por diversos Sínodos (Mileve e Catargo). Foi, ainda, condenado no Concílio de Éfeso, em 431.
Entre outras coisas, afirmava que o homem poderia viver isento do pecado, que o homem fora criado à imagem de Deus e, apesar da queda, essa imagem ainda é real e viva. Do contrário, o homem não seria aquele homem criado por Deus. No pelagianismo, a morte é uma companheira do homem. Com isso, queria dizer que Adão, pecando ou não, finalmente morreria. O ideal do homem é viver obedecendo.
O pecado original é uma impossibilidade, porque o pecado depende de uma ação voluntária do pecador. Por meio de uma vida digna, os homens podem atingir o céu, mesmo desconhecendo o evangelho. Todos serão julgados segundo o que conheciam e o que praticavam. O livre-arbítrio era enfatizado em todas as suas afirmações, excluindo a eleição. Um século depois, desenvolveu-se o semipelagianismo, que amortecia alguns ensinos extravagantes de Pelágio.
Eutíquio (aprox. 410-470)
Viveu em um mosteiro fora de Constantinopla durante a primeira metade do século 5. Recebeu grande influência de seu mestre, Cirilo de Alexandria, e dirigiu mosteiros na Igreja oriental. Oponente ao nestorianismo, afirmava que, por ocasião da encarnação, a natureza humana de Cristo foi totalmente absorvida pela natureza divina.
Era de opinião de que os atributos humanos haviam sido assimilados pelo divino em Cristo, pelo que seu corpo não seria consubstancial como o nosso, por isso Cristo seria humano no sentido restrito da palavra.
Esse extremo doutrinário teve apoio temporário do chamado Sínodo dos Ladrões, em 449. Todavia, essa decisão foi anulada, mais tarde, pelo Concílio de Calcedônia, em 451. O Sínodo dos Ladrões foi assim chamado porque seus participantes roubavam características da doutrina cristocêntrica. Por causa disso, Eutíquio foi afastado de suas atividades eclesiásticas. Mas a Igreja egípcia continuou apoiando Eutíquio e manteve seus ensinos por algum tempo.
O eutiquianismo surge novamente no movimento monofisista.
Fonte: Bíblia Apologética de Estudos, ICP – Instituto Cristão de Pesquisas