Categoria: Acervo
Imagem: Comunhão diante da cruz, Getty - Guiame
Publicado: 18 de Maio de 2014, Domingo, 18h17
Eu devo agora apresentar-lhes o grande prazer de andar com Deus e ver de perto diariamente Suas providências.
Desse modo podem desfrutar de uma íntima comunhão diária com Deus O Salmo 104 constitui uma meditação sobre as obras da providência. O salmista diz: “A minha meditação a seu respeito será suave” (versículo 34). A comunhão consiste em duas coisas: Deus Se revelando à alma, e a alma respondendo a Deus. O efeito dessa comunhão sobre nós é visto de quatro modos:
(i) Como no caso de Jacó e outros santos do passado, nós somos levados a sentir que não merecemos nem sequer a mínima das misericórdias de Deus e nem a verdade que Ele tem nos manifestado. Somos levados a dizer: “Não sou digno da menor de todas as tuas beneficências, e de toda a fidelidade que tens usado para com teu servo” (Gênesis 32:10).
(ii) Nosso amor por Deus é engrandecido quando nos lembramos de Suas misericórdias. Todo homem ama as bênçãos de Deus, mas um santo ama o Deus das bênçãos.
(iii) Comunhão com Deus, fruto de meditação nas Suas providências, faz com que a alma vigie rigorosamente contra o pecado.
(iv) A comunhão nos facilita obedecer e servir ao Senhor. Davi e Josafá também tiveram essa experiência (Salmo 116:12; II Crônicas 17:5-6).
Assim, vemos quão maravilhosa é a comunhão que uma alma pode ter com Deus através do estudo de Suas providências. Oxalá vocês andassem dessa maneira com Ele! Quando tais efeitos forem produzidos nos seus corações o Senhor dirá: “Os favores pelos quais vocês foram beneficiados, não foram dados em vão!” Ele Se alegrará em lhes fazer o bem, para sempre.
2. Grande parte do prazer da vida cristã provém de contemplar o que Deus faz na providência. “Grandes são as obras do Senhor, procuradas por todos os que nelas tomam prazer” (Salmo 111:2)
(i) Vejam como diferentes partes do caráter de Deus cooperam juntas na providência. Às vezes parece que uma se opõe a outra, mas, no fim, elas se harmonizam. “A misericórdia e a verdade se encontraram; a justiça e a paz se beijaram” (Salmo 85:10). Essas palavras se referem a volta de Israel do cativeiro na Babilônia. A verdade e a justiça de Deus contidas na promessa que Ele havia feito 70 anos antes, pareciam distantes da experiência de graça e paz com que Israel agora se deparava saindo do cativeiro! A promessa, feita tantos anos antes, e o cumprimento setenta anos depois, são descritas como dois amigos que riem e se beijam ao se encontrarem depois de longa ausência. Sempre que as promessas de Deus e as coisas prometidas se encontram, elas são alegremente aceitas por aqueles que crêem.
(ii) Vocês frequentemente vêem suas próprias orações e esperanças ressuscitando-se da morte, por assim dizer, quando meditam nas obras da providência. Deus tarda em responder nossas orações e nós dizemos: “Já pereceu a minha força, como também a minha esperança no Senhor” (Lamentações 3:18). Por outro lado, ficamos cheios de conforto quando essas orações são atendidas, posto que havíamos perdido toda esperança de receber qualquer resposta a elas. As vidas de Jó, Jacó e Davi mostram como às vezes eles perderam toda esperança de sobreviver, mas após uma estranha e inesperada obra da providência, suas esperanças e confortos retornaram e receberam “vida vinda da morte”.
(iii) Que grandes bênçãos a providência nos traz daquelas coisas que pensávamos capazes de nos trazer ruína ou miséria. José jamais imaginou, ao ser vendido ao Egito, que isso lhe traria algum benefício; todavia, ele viveu para ver um grande propósito em tudo aquilo (Gênesis 45:5). Quantas vezes nós somos levados a dizer como o salmista: “Foi-me bom ter sido afligido” (Salmo 119:71). A princípio recebemos nossos problemas com lamentos e lágrimas, porém mais tarde os contemplamos com alegria e louvamos a Deus por eles!
(iv) Que conforto imenso é para uma pessoa — que só vê o pecado em sua vida — ver como Deus a tem em alta estima. Enquanto a providência cuida dela, essa pessoa vê bondade e misericórdia lhe acompanharem todos os dias de sua vida (Salmo 23:6). Outros homens procuram o bem e este foge deles! Mas bondade e misericórdia seguem os filhos de Deus e eles não podem evitar de serem seguidos, embora às vezes eles pequem e saiam do caminho certo. Não há dúvida, o povo de Deus é Seu tesouro e “ele não tira os olhos do justo” (Jó 36:7).
v. O que mais poderia nos dar tanto conforto e alegria neste mundo como o conhecimento de que tudo que nos acontece ajuda-nos na caminhada para o céu? Apesar dos ventos e marés da providência muitas vezes parecerem estar contra nós, nada é mais certo de que eles estão nos trazendo mais perto de Deus e nos preparando para a glória.
3. Um estudo do que Deus faz pela providência corrigirá a incredualidade natural dos nossos corações Há uma impiedade natural nos melhores corações, e essa é fortalecida quando nós pensamos erroneamente sobre as obras da providência. Nós somos tentados a dizer como Asafe, “Eis que estes são ímpios; e, todavia, estão sempre em segurança, e se lhes aumentam as riquezas” (Salmo 73:12). Mas se observarmos cuidadosamente o modo pelo qual Deus castiga homens ímpios, alguns neste mundo, e todos eles no mundo vindouro, nossa fé será plenamente confirmada. As providências que revelam a sabedoria, poder, amor e fidelidade de Deus em guardar e livrar Seu povo de todos os perigos, tristezas e dificuldades que lhe sobrevêm, são muito evidentes! O Senhor mostra-Se ao Seu povo nessas coisas (Salmo 94:1). Pensem em suas próprias experiências e perguntem-se quem supriu todas as suas necessidades nos tempos difíceis. Foi o Senhor, não foi? “Deu mantimento aos que o temem; lembrar-se-á sempre do seu concerto” (Salmo 111:5). Como é que vocês têm sobrevivido a tantos perigos, doenças e acidentes? Não há dúvida de que Deus estava nessas coisas, e que somente pelo Seu cuidado têm sido preservados. A mão de Deus também é vista claramente nas respostas às suas orações. “Busquei ao Senhor, e ele me respondeu, livrou-me de todos os meus temores. Clamou este pobre, e o Senhor o ouviu, e o salvou de todas as suas angústias” (Salmo 34:4-6). Porventura não descobriram, também a mão de Deus guiando e dirigindo seus passos, de forma que bênçãos nunca imaginadas lhes foram dadas? O povo de Deus Lhe é muito querido. Ele executa todas as coisas para Seus filhos (Salmo 57:2).
4. Fazer anotações do que a providência nos tem feito, será um apoio para a fé em tempos difíceis no futuro É muito mais fácil para a fé percorrer uma vereda bem conhecida do que trilhar uma nova, onde não se pode ver um passo à frente. Quando começamos a crer em Cristo, o mais difícil era o exercer a fé. Todos os atos posteriores de fé se tornaram mais fáceis devido nossas primeiras experiências. Quando nos sobrevém uma série de problemas, é um grande auxílio poder dizer: “não é a primeira vez que passo por tais provações, mas sempre saí vitorioso“. Quando os discípulos se acharam desprovidos de pão, Cristo teve que lembrá-los dos milagres que Ele já fizera anteriormente (Mateus 16:8-11). Ele chamou-os de homens de “pouca fé” porque eles deveriam ter confiado em Deus, depois de terem visto tanto do Seu poder no passado. Há duas maneiras pelas quais mostramos nossa incredulidade: duvidamos do poder de Deus e duvidamos da Sua disposição para nos ajudar. Os filhos de Israel julgaram que algumas coisas eram impossíveis para Deus. “Poderá Deus porventura preparar-nos uma mesa no deserto? Poderá também dar-nos pão, ou preparar carne para o seu povo?” (Salmo 78:19-20). Visto que não entendemos o caminho pelo qual o auxílio possa vir, achamos que nenhum pode ser esperado. Mas todos esses raciocínios da incredulidade são superados se lembrarmos as nossas experiências anteriores. Deus tem nos ajudado, portanto pode nos ajudar. Ele tem tanto poder e capacidade agora quanto teve no passado.
A incredulidade sempre questiona se Deus será tão bondoso agora quanto foi no passado. Davi e Paulo raciocinaram baseados naquilo que Deus fez no passado, para afirmarem o que Ele faria no presente (I Samuel 17:36; II Coríntios 1:10). Que dúvida pode haver, após tantas provas da bondade de Deus no passado?
Talvez o incrédulo pergunte: como pode uma criatura má e pecadora como eu, esperar que Deus faça isso ou aquilo por mim? Você pode responder que a graça de Deus veio a mim quando eu era pior do que sou agora; portanto esperarei que Sua bondade para mim continue, embora eu não a mereça. “Porque se nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida” (Romanos 5:10).
5. Lembrarmos de providências passadas será uma motivação para louvor e agradecimento contínuos, os quais são a tarefa dos anjos no céu, e a mais aprazível ocupação de nossas vidas na terra O salmista disse do povo de Deus no passado: “Cedo, porém, se esqueceram das suas obras (Salmo 106:13). Apesar da providência os ter alimentado de maneira marcante no deserto, eles não deram a Deus o devido louvor (Números 11:6). Mas Davi reuniu todas as suas forças para louvar e agradecer a Deus pelas misericórdias recebidas dEle. “Bendize, ó minha alma ao Senhor, e tudo o que há em mim bendiga o seu santo nome” (Salmo 103:1). Não é tanto as bênçãos que a providência nos dá que faz uma pessoa grata ocupar-se em louvar a Deus, e sim a graça e a bondade dEle em dá-las. Como Davi diz: “Porque a tua benignidade é melhor do que a vida; os meus lábios te louvarão” (Salmo 63:3). Doar a vida e preservá-la, são preciosos atos da providência; mas a graça que leva Deus a fazer tudo isso é muito melhor do que os atos em si. Nós recebemos bênçãos diariamente, e elas são um bom motivo para sermos gratos. “Bendito seja o Senhor, que de dia em dia nos cumula de benefícios” (Salmo 68:19). A ternura da graça de Deus é vista em Suas providências. “Como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor se compadece daqueles que o temem (Salmo 103:13). Seus profundos sentimentos, demonstrados enquanto conforta o Seu povo, são como os que uma mãe tem por seu filho (Isaías 49:15). Então, prostrar-nos aos Seus pés em santo louvor pelo modo que Ele graciosamente Se inclina ao nosso baixo plano nos Seus procedimentos, é uma coisa muito agradável.
6. A observação cuidadosa da providência fará com que Jesus Cristo Se torne mais e mais precioso para as suas almas.
Através de Cristo a bondade de Deus chega a nós, e todo louvor volta a Deus por nós. Toda as coisas são nossas, porque nós somos dEle (I Coríntios 3:21-23).
(i) Todas as bênçãos que recebemos nesta vida, bem como todas as misericórdias espirituais e eternas, foram compradas para nós pelo sangue de Cristo. Pela Sua morte Cristo nos restaurou tudo aquilo que o pecado tinha-nos tirado. Juntamente com Cristo, Deus nos dá livremente todas as coisas, a salvação e tudo o que é necessário para conduzir-nos a ela (Romanos 8:32). Tudo de bom que recebemos das mãos da providência, devemos saber, vem pela morte de Cristo.
(ii) Visto que estamos unidos com Cristo, tudo que recebemos da providência se torna uma bênção para nós. Quando estamos em Cristo, temos mais do que perdemos na queda de Adão.
(iii) Os anjos estão a serviço no reino da providência, mas é Cristo quem lhes dá as ordens. Seja quem for que sirva de meio para seu bem, o comando para que isso seja feito é dado pelo Senhor Jesus Cristo. O cuidado de Cristo pelos cristãos de Damasco, fez com que Saulo fosse impedido de destruí-los (Atos 9).
(iv) Como Cristo abriu a porta da graça ao morrer pelos nossos pecados, assim Ele mantém essa porta aberta por estar na presença de Deus intercedendo por nós, para sempre (Apocalipse 5:6; Hebreus 9:24). Se isso não fosse verdade, então cada vez que pecássemos estaríamos estancando a misericórdia divina. Mas, “se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo. E ele é a propiciação pelos nossos pecados…” (I João 2:1-2).
(v) As respostas para todas as suas orações são obtidas por Jesus Cristo. Seu nome torna impossível ao Pai negar alguma coisa para vocês, a qual peçam de acordo com Sua vontade (João 15:16). Vejam quanto devem ao seu querido Senhor Jesus Cristo por esse grande e glorioso privilégio!
(vi) O concerto da graça assegura todas as bênçãos que vocês desfrutam, até mesmo o seu pão de cada dia (Salmo 111:5), bem como todas as outras bênçãos espirituais. Este concerto é o novo testamento (acordo) pago pelo Seu sangue (I Coríntios 11:25). Então devem agradecer ao Senhor Jesus Cristo por cada coisa boa que recebem desse concerto.
Fonte: Josemar Bessa