Categoria: Acervo
Imagem: Padres nestorianos em procissão no Domingo de Ramos, Pintura de parede do século VII ou VIII em uma igreja nestoriana na China - Wikipedia
Publicado: 29 de Junho de 2014, Domingo, 03h51 - 2 comentários
No dia 16 de setembro de 2008 eu pesquisava no site Google o significado para Nestorianismo. Encontrei uma definição num blog de um cidadão católico romano. Só que na definição que ele dava, havia um equivoco dele sobre a posição protestante quanto ao tema. Ele afirmava que “o nestorianismo seja o alicerce protestante por excelência“. Então, não podendo concordar com esse equivoco dele, escrevi o texto que segue.
“Sr. Emanuel,
Procurando eu na internet uma definição sobre o significado da expressão nestorianismo, encontrei vossa definição. No entanto, encontrei nela uma conceituação divergente com respeito a posição protestante sobre a questão. Portanto, venho aqui afirmar, com base em documentos históricos Protestantes, que não é correto dizer que “o nestorianismo seja o alicerce protestante por excelência” como o senhor afirma em vosso artigo. Se o senhor. verificar atentamente as Confissões de Fé das igrejas protestantes históricas, reformadas, anglicanas, presbiterianas, congregacionais, entre outras, poderá verificar que todas elas expõem a crença e defendem a doutrina cristã ortodoxa, fundamentada na única autoridade que reconhecemos, cremos e proclamamos, a Palavra de Deus, a Bíblia Sagrada.
Como cristão, membro da Igreja Reformada, adotamos símbolos confessionais históricos do cristianismo ortodoxo: as Três Formas de Unidade (das Igrejas Reformadas): A Confissão de Fé Belga, o Catecismo de Heidelberg e os Cânones de Dort, e os Três Credos Ecumênicos: O Credo Apostólico, o Credo Niceno e o Credo Atanasiano.
Quanto a expressão theotokos, sabemos que ela está historicamente relacionada a questão da divindade de Cristo. Maria foi mãe de Deus, no sentido que o Sr. expôs, reproduziu, no seu artigo: “não no sentido de que ela (Maria) seja anterior a Deus ou que seja a fonte de Deus, mas no sentido de que a Pessoa que ela carregou em seu útero era de fato o Deus Encarnado“. Portanto ela, Maria, não deve ser, do ponto de vista da Palavra de Deus, ou contra a Palavra de Deus, venerada, adorada, ou coisa semelhante.
Segue abaixo algumas considerações a mais sobre o tema:
Teologia Sistemática/Charles Hodge; Tradução Valter Martins – São Paulo: Hagnos, 2001. Páginas 782,784,785,786.
Aqui, na Teologia Sistemática, pág. 782, Charles Hodge explica como surgiu a controvérsia nestoriana. É-nos informado que a controvérsia surgiu, por Nestório ter defendido um de seus presbíteros “que negava que a Virgem Maria pudesse propriamente ser chamada de Mãe de Deus.” Nestório teria tentado esclarecer que havia um sentido no qual seria blasfemo designar Maria como mãe de Deus. O problema é que Nestório foi longe demais em suas “explicações” e “teorias”, afastando-se da Palavra de Deus.
Com o Sínodo de Éfeso, em 431 d. C., e finalmente o Concílio geral de Constantinopla em 681 d.C., diz Charles Hodge, cessou o conflito acerca desta doutrina no sentido em que, desde então, não houve modificações posteriores da doutrina da Igreja. A decisão contra Nestório, na qual se firmou a unidade da pessoa de Cristo; a qual se fez contra Êutico, afirmando a distinção das naturezas e a tomada contra os monotelitas, declarando que a posse de uma natureza humana envolvia necessariamente a posse da vontade humana, foi recebida como verdadeira fé pela Igreja Universal: a grega, a latina e a protestante.
Nas páginas 784 a 786, Charles Hodge diz, referindo-se A Doutrina das Igrejas Reformadas: na época da Reforma, os reformadores aderiram estritamente à doutrina da Igreja Primitiva. Isso se faz evidente à luz de diversas Confissões adotadas pelos vários corpos reformados, especialmente na Segunda Confissão Helvética que… rejeita todas as antigas heresias acerca desta questão e adota a linguagem dos antigos credos.” “E assim se torna patente que os reformados rejeitaram de maneira concreta todos os erros acerca da pessoa de Cristo que haviam sido condenados na Igreja Primitiva: os erros de Ário, dos ebionitas, dos gnósticos, o aplinarianismo, o nestorianismo, o eutiquianismo e o monotelitismo…. Os reformadores ensinaram o que haviam ensinado os seis primeiros concílios gerais, e o que recebeu a Igreja Universal: nem mais, nem menos. Com isso concorda a precisa, bela e clara afirmação da Confissão de Fé de Westminster: ” O Filho de Deus, a segunda pessoa da Trindade, sendo verdadeiro e eterno Deus, igual e da mesma substância com o Pai, havendo chegado a plenitude do tempo, tomou para si a natureza humana com todas as suas propriedades essenciais e com suas debilidades comuns, todavia sem pecado. Foi concebido pelo poder do Espírito Santo no ventre da Virgem Maria, da substância dela. De modo que duas naturezas completas, perfeitas e distintas, a Deidade e a humanidade, foram inseparavelmente unidas numa só pessoa, sem conversão, composição ou confusão. Esta pessoa é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, um só Cristo, o único mediador entre Deus e o homem“.
No livro A História das Doutrinas Cristãs/ Louis Berkhof, Ed. PÉS, pág. 106, encontramos: “a mais completa declaração oficial sobre a posição reformada acerca da doutrina de Cristo se acha na Segunda Confissão Helvética, preparada em 1566. Citamos algumas das mais pertinentes afirmações: “Portanto, o Filho de Deus é co-igual e consubstancial com o Pai, no que tange à sua divindade; verdadeiro Deus, e não de nome apenas, ou por adoção, ou por favor especial, mas na substância e na natureza… abominamos, pois, a blasfema doutrina de Ário, a qual foi proferida contra o Filho de Deus… Também ensinamos e cremos que o eterno Filho do eterno Deus foi feito Filho do Homem, da descendência de Abraão e de Davi; não por meio de qualquer homem, como Ebião afirmava, porém que ele foi purissimamente concebido pelo Espírito Santo e nasceu de uma virgem, Maria… Outrossim, o nosso Senhor Jesus Cristo não tinha alma sem sentidos ou sem razão, conforme Apolinário ensinava; nem carne sem alma, como Eunâmio ensinava; Ele tinha alma com sua razão e carne com sentidos… Reconhecemos, pois, que existem duas naturezas em um só e mesmo Jesus Cristo, nosso Senhor – a divina e a humana, e dizemos que essas duas estão de tal modo conjugadas ou unidas que não foram eliminadas, confundidas ou misturadas, mas, antes, foram unidas em uma pessoa (as propriedades de cada pessoa inatingidas e permanentes), de tal modo que adoramos um Cristo, nosso Senhor, e não dois… Portanto, assim como detestamos a heresia de Nestor, que fazia dois Cristos de um só e dissolvia a unidade da pessoa, também abominamos a loucura de Eutíquio e a dos monotelitas e monofisitas, que sobvertiam a propriedade da natureza humana. Por conseguinte, não ensinamos que a natureza divina em Cristo sofreu, ou que Cristo, de acordo com Sua natureza humana, ainda está no mundo e, assim, em toda parte. Pois nem pensamos nem ensinamos que o corpo de Cristo deixou de ser um verdadeiro corpo após sua glorificação, ou que o mesmo foi deificado, e deificado de tal maneira que se despiu das propriedades, no tocante a corpo e alma, e se tornou total natureza divina e começou a ser uma única substância.“
Por último, deixo algumas afirmações do livro, de um pastor Reformado, A Alma em Busca de Deus – satisfazendo a fome espiritual pela comunhão com Deus, de R.C. Sproul, Capítulo 6, A Alma Obediente, págs. 91 e 92: ” O MODELO DE MARIA – Por causa do papel central, e freqüentemente cultual, que Maria exerce na Teologia Católica Romana, os protestantes muitas vezes a negligenciam em suas opiniões. Contudo, Maria foi escolhida para ser a mãe de Cristo. A Teologia Protestante geralmente concorda com a doutrina aprovada nos grandes concílios ecumênicos da história da Igreja Primitiva. Isso inclui a adoção do título concedido a Maria: Theotokos, que significa “mãe de Deus”. Em última análise, o título de Maria foi concedido nem tanto para honra-la ao ponto que se honra ao Filho que ela concebeu. O fato de Maria ter sido a mãe de Deus significa simplesmente que seu filho era Deus encarnado; não que ela tinha sido a genitora da deidade de Jesus. O “Pai” de Jesus em seu nascimento foi o Espírito Santo. Todavia, o primitivo concílio asseverava que Jesus recebeu sua natureza humana de sua mãe. Ele era nascido da semente de Davi, da qual descendia Maria. Não obstante, esta criança humana era também “vere Deus”, verdadeiramente Deus.“
Atenciosamente,
Salomão Freitas Alves
Cristão, membro da Igreja Reformada em Recife.
Fonte: SolumBibleRegulat (Link)